28 de dezembro de 2008

Toca a reunir

macaco Ao longo desta interrupção de aulas, os Conselhos Executivos não estiveram parados. Um deles reuniu por causa de uma pistola de plástico e uma pequena chantagem de alunos sobre uma professora porreiraça. Outros, nomeadamente na região centro, reuniram para discutir a problemática da avaliação dos professores. Muito bem. Parece uma atitude razoável, consuetudinária. Mas por que carga de água eu não me sinto descansado? Por que carga de água estou tão inquieto? Por que carga de água não consigo repousar sereno sobre a notícia? Por que carga de água só me dá para este pessimismo tão irreflectido e vago?

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Feliz Ano Novo

reveillon - Como se escreve reveillon? - Não sei. - E Feliz Ano Novo? - Não sei, mas é com letra grande. - E crise? - Sei lá. - E luta? Como posso saber? - E sobrevivência? - Nem imagino...

Olhem, vivam um dia depois do outro, acordem sempre com o céu da boca húmido e limpem as vossas cabeças de definições, de saberes, de gramáticas. Sejam apenas e cumpram a vida. Como os pássaros. 2009 não resistirá a isso e sorrirá um pouco…

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22 de dezembro de 2008

A palavra dos outros

marx A propósito da ressurreição de Marx

Comecemos pela escolha do próprio Marx como aquele a que se "regressa" sempre que há uma crise da economia capitalista, acompanhada por um sentimento popular de sempre, que já existia na Roma antiga, contra o dinheiro e os ricos, e que agora se intitula "anticapitalismo popular"”.  (Abrupto, 22 12 08)

Pacheco Pereira, lúcido como sempre, aborda aqui a questão do medo de Marx, ou da esperança em Marx, ou da hipotética alternativa do Marxismo ao Liberalismo mundial. Também eu, na minha ignorância, tenho vindo a reanimar Marx, Engels, Rosa Luxemburgo, Proudhon e tantos outros, mal rebentou esta sintomática crise financeira. Mas é óbvio que não comungo do optimismo absurdo de que o capitalismo vai cair por si um dia destes. E não me lembro de ter ouvido nenhum daqueles autores ostentar, alguma vez, tamanha confiança…

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21 de dezembro de 2008

Minudências minhas (2)

CASA GANDAREZA A casa

Moro dentro de uma coisa a que dificilmente se poderia chamar casa. Húmida, velha e fria, todas as condições de habitabilidade lhe passaram ao lado. Com quase duzentos anos e uma construção tosca de amadores, hoje não seria aprovada pela Câmara. E, no entanto, viveram nela até agora quatro compridas gerações, sempre apinhadas à volta da sua característica principal – a enorme lareira.

Quando eu me for, ela ficará aí, abandonada sobre a areia gandaresa, talvez semi-inundada por um mar cada vez mais perto, cada vez mais alto…

A minha casa entrega-se ao destino sem um gemido. E, no entanto, cumpriu denodadamente a sua função: Quando a minha mãe morreu, ficou ela, mitigando dores e afagando tristezas. Depois foi-se o meu pai e ficou ela, preservando memórias e acendendo novos lumes para aquecer restos de vida que me sobraram…

Não tenho dúvidas da identidade absoluta que nos une: eu sou ela e ela é eu. Simbioticamente amparando-nos...

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20 de dezembro de 2008

Pina e a sopa de pedra

sopadepedra António Manuel Pina escreveu algures que o processo de avaliação dos professores é uma sopa de pedra ao contrário. A ministra foi subtraindo ingredientes até ficar só com a pedra. De facto, o símile está notável, como quase tudo o que sai da pena do escritor jornalista. Não li o artigo, mas se Pina não tira também a pedra, correremos o risco de ainda sobrar coisa demais do modelo de avaliação inicial. Quem me diz a mim que a pedra não engendrará, por si só, outro modelo semelhante? Há pedras parideiras e esta, ensopada que ficou de tanta malevolência e de tanto acinte, pode muito bem contaminar qualquer novo ingrediente que se ponha numa qualquer novíssima panela que, em breve e fatalmente, se derramará sobre nós.

(Que venha antes canja. Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém...)

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18 de dezembro de 2008

Ouvido aqui e ali

alentej Dois Alentejanos à saída da tasca:

- UMKCTI?

- UTQ?

- UMKCTI.

- UTKCTI?!  NAC.

(Sabe traduzir isto? Tente lá...)

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17 de dezembro de 2008

Minudências minhas (1)

minudenciasminhas A pele       

A minha pele inquieta-se todos os dias. Inquieta-me. Não tenho mais idade para isso. Mas ela teima em aflorar-se, florir-me, implorar a flor de outras peles em flor. E eu não tenho mais idade para flores à flor da pele. A minha pele deveria estar quieta, como uma pele razoável, no razoável declínio da saída… Esta pele é parva, ou quê? Que pateta de pele me arranjou a vida…

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13 de dezembro de 2008

Precipitação? Não, é ódio mesmo…

Professores Não tenho coragem de lhe chamar uma medida idiota. (Tenho família para sustentar e preciso do meu emprego). Também não será uma medida precipitada. Se há medidas que nunca me pareceram precipitadas foram as da Senhora Ministra da Educação. Mas a Senhora em questão, apoiada por um governo também muito pouco precipitado, publicou hoje mesmo a derradeira decisão: os professores têm, a partir de hoje, sábado, cinco dias para decidir sobre um pequeno set de opções, como, por exemplo, se querem aulas assistidas ou não e qual a calendarização para inserir os itens da sua avaliação. Ouviram bem. A Ministra está farta de esperar e, num último fôlego, (espero que seja realmente o último), dá agora cinco dias para os professores decidirem, rápido e em força, sobre as suas vidinhas.

Tudo bem. Mas acontece que eu estou agora, e durante os próximos cinco dias, a trabalhar na avaliação dos alunos, assunto sério que não me deixa tempo nem disponibilidade para pensar sobre a minha própria avaliação. Portanto, a Senhora Ministra da Educação não tem outro remédio senão dar-me outros cinco dias a partir do dia cinco de Janeiro, já que, até lá, para além do meu dever de avaliar bem os meus alunos, não vou fazer nem mais um c_ _ _ _ _ _, como diria qualquer operário fabril das Caldas, às cinco da tarde.

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Feliz Natal

V1glfxmasani24 Desejo a todos os que, por mero acaso, passem por aqui, e aos outros poucos que este local demandem voluntariamente, um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de alegrias, saúde e trocos para a bica.

 

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29 de novembro de 2008

Os génios são mesmo malucos...

einstein "Há que conceder aos professores a maior das liberdades no que respeita aos conteúdos a ensinar, assim como aos métodos a utilizar. Pois é verdade que também para estes o prazer na execução do seu trabalho pode ser aniquilado pela força ou pela pressão exterior”. 
       Albert Einstein                       

In Anovis Anophelis  (Imagem daqui)

27 de novembro de 2008

Parar para poder trabalhar…

avaliarprofs Estamos parados. Os professores aproveitaram esta pausa na demência colectiva para trabalhar para os alunos: elaboram testes e fichas formativas, corrigem e avaliam instrumentos, retomam actividades de preparação de aulas, reúnem para coordenação de trabalho lectivo, repensam estratégias e promovem atitudes pedagógicas para combater a indisciplina generalizada nas escolas. Trata-se de um intervalo curto, é certo, na demência institucional. Mas mostra que tudo pode voltar a acontecer, se se suspender o tortuoso abrolho da avaliação.

Perguntarão: qual avaliação, João? A da ministra? A dos sindicatos? A dos restantes teóricos da Educação? A chilena? A americana? A de leste? A do norte? Que me desculpem os mais puros e radicais defensores dessa tonta deformidade, mas respondo-lhes como segue: não é esta ou aquela. É toda a avaliação que, de um modo ou de outro, retire aos professores a concentração no seu trabalho e o desejo de fazerem o melhor que sabem e podem, a bem dos alunos, da sua educação integral e de uma formação técnica, científica e humanística de excelência.

Querem avaliar os professores? Façam-no, ora essa, mas de modo a não os perturbar. De preferência que eles não dêem por isso…

(Imagem daqui)

26 de novembro de 2008

Ouvido aqui e ali...

portugues A ETA Ocidental  (ouvido em Espanha)

 

“Existe um povo que habita uma estreita língua de areia na parte mais ocidental da Espanha, que resiste, agora e sempre, ao invasor. Crêem-se independentes e insistem em chamar-se Portugueses.”

 

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23 de novembro de 2008

Outono (2)

sol outono

O sol apagado do Outono lambe a vertical história pátria...

22 de novembro de 2008

A Senhora Ministra aparou as pontas…

cortar cabeloA Ministra da Educação disse que aparou as pontas do seu sistema de avaliação de professores. Na gíria barbeiral, terá feito um caldinho. No entanto. eu duvido que tenha sido assim uma intervenção estética de tal ligeireza. Quanto a mim, ela derrubou, com denodo, dois dos quatro grandes pilares de suporte do seu tratado de avaliação docente: 1 deixou cair, ou antes, esboroou a sua sempre tão ditosa teoria de que a avaliação dos docentes se cruzava, inalienavelmente, com os resultados escolares dos alunos; 2 deixou cair a obrigatoriedade das aulas assistidas para os professores que não almejem a mais que um Bom. Os dois pilares que ainda ficaram são as cotas e o abrolho da divisão indecente e artificial dos docentes nas duas categorias artificiais de professores e titulares. Porém se estes dois sustentáculos lhe caem, o seu sistema pulveriza-se…

Seja como for, muito ou pouco, caldinho ou carecada, o que restou do seu sistema já pouco tem a ver com a tonitruante catástrofe que era antes da tonsura...

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16 de novembro de 2008

15 de novembro de 2008

Ordem de serviço número…

ordem serviço Com o fim de não perturbar o normal funcionamento das aulas, pede-se a todos os Alunos que esperem os seus Professores à saída da escola para então lhes poderem arriar. Todos temos consciência de que nem sempre é fácil esperar até ao fim da aula, mas trata-se de um pequeno sacrifício que conduzirá ao cumprimento dos programas e trará aos professores uma nova motivação para dar as suas aulas. Suspeita-se até de que, com esta medida, muitos deles preferirão mesmo ficar na sala, em vez de tentarem dirigir-se às suas viaturas e às suas famílias. Com esta medida esperamos melhorar substancialmente o empenho dos professores e o sentido de auto-controlo dos nossos Alunos.

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Teatro Blogosférico

zegrandao João Honesto e Zé Grandão

Zé Grandão – João, já foste avaliado?

João Honesto – Honestamente, ainda não. Na minha escola, o processo está meio parado… isto é, eu não sei se está parado ou se anda devagarinho, imperceptivelmente, e afinal até anda e a gente nem sabe… O executivo, apesar da nossa posição de recusa do modelo, segundo a qual todos assinámos pela suspensão do dito, continua a enviar-nos materiais relacionados com o processo de avaliação. É claro que eu não sei se aquilo é mesmo a sério ou se é apenas um acto de inércia… Não é fácil pensar com a cabeça nestas circunstâncias e quem comanda estas atitudes nunca é a lógica, mas sim o hábito.

Zé Grandão – Eu cá por mim quero ser avaliado porque mudo de escalão um dia destes, porra! E, se o pessoal pára com esta porcaria da avaliação, quando diabo vou eu mudar de escalão? Em que escalão é que tu estás, João Honesto?

João Honesto – Honestamente, não sei. Só sei que, em vez de subir, desci, mas tudo isso deve ser por causa da crise… Temos todos que nos sacrificar…

Zé Grandão – Eu também não sei em que escalão estou, mas a luz está muito cara e agora rebentou-se-me lá em casa mais um puto… Quem tem filhotes não pode ficar dependente de pruridos sobre sistemas de avaliação, carreiras docentes, ministras, acordos, inflexões, paneleirices, etc…

João Honesto – Pois, eu compreendo, ou seja, honestamente, não compreendo, mas aceito… Eu afinal aceito tudo…

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repescando tralices…

relogio contratempo Faz hoje um ano no tralapraki

Por mais remendos que, desde então, tenham vindo a ser costurados pelos alfaiates do ministério ou por outros mais provincianos, ou por mais tentativas que tenham sido feitas no sentido de amenizar a precária convivência escolar, este texto, bebé de um ano, ainda é absolutamente actual.

14 de novembro de 2008

Ouvido aqui e ali...

ouvido aqui1. É tudo uma questão de gratidão. Sócrates quer fazer pela Educação exactamente o que a Educação fez por ele...

2. A Ministra da Educação veio a lume fazer a sua primeira ameaça. Disse ela que a desobediência nas escolas "não vai ficar assim". Os mais optimistas, no entanto, interpretaram estas palavras como uma afirmação de que a desobediência vai recrudescer.

3. A canalha é levada da breca. Imaginem só que ouvi um aluno afirmar que, no Natal, vai oferecer uma frigideira à Sra Ministra da Educação...

9 de novembro de 2008

a palavra dos outros

geracao rasca Tive que me render, finalmente, à Geração Rasca e a muitos dos seus textos. Este, por exemplo, (tal como o anterior “Era uma vez num país democrático”) fala baixinho e morde. (No princípio achei que se escrevia mal ali. Continuo a achar. Mas o que, eventualmente, se perde em correcção sintáctica ganha-se, com juros, em imaginação e perspicácia…)

objectivos individuais

objectindiv Hoje decidi que afinal iria entregar a grelha dos objectivos individuais. O meu medo era que me obrigassem a adivinhar o futuro, num momento em que nem o Zandinga me valeria, dada a distância a que me encontro do final do ano lectivo. Mas não. Afinal já algum outro Zandinga me tinha precedido na adivinhação, e me informou, com clareza e rigor milimétrico, de quais são os meus objectivos individuais. Ainda há gente que trabalha para o bem comum. Antes assim. O meu único e gigantesco esforço foi assistir a uma reunião de duas horas para ser instruído sobre como se faz um documento que já está feito. Parece muito fácil mas, como logo se depreende, trata-se de um verdadeiro embróglio de lógica formal fregiana. Reconheço que não me foi fácil entender. Finalmente, aquietada a indecorosa e impertinente consciência, lá copiei, assinei e guardei o documento para posterior gargalhada.

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8 de novembro de 2008

Manifestação em Lisboa

manifEstou a sair agora mesmo de casa, Senhora Ministra. Em três horas estarei aí, frente a frente com Vª Exª. Levo outros cem mil, talvez mais... Espero mesmo incorporar na manifestação a Dra Manuela Ferreira Leite, seja lá o que isso possa significar para a Senhora, para mim ou para o país.  (Desejo bons sonhos a Vª Exª. As nossas manifs são, certamente, o seu melhor soporífero...)

7 de novembro de 2008

Correspondência privada. Por favor, não viole…

falsidade Tornou-se escandalosamente óbvio o fervilhar dos joguinhos de interesse, o assumir despudorado das novas relações suserano-vassalo, finalmente consolidadas nas nossas escolas secundárias. A princípio muito tímidas, muito contidas em reservada e prudente discrição, eis que, lentamente, estas novas interacções se foram escancarando como putas famintas. A arrogância desmedida e a esquizofrénica empáfia de muitas avaliadoras contrasta, cada vez mais brutalmente, com a torpe submissão, a convenientemente servil auto-humilhação de muitos dos avaliados. Todos os dias se sorri demais onde seria suposto escoicear um pouco. Todos os dias gente ignorante e fátua pule galões que ninguém consegue ver.

PS1. Não houve erro nem mistificação de género. As avaliadoras são elas. Os avaliados são eles. Ou talvez eu esteja a generalizar alguma situação concreta de que tenha um infeliz conhecimento.

PS2. Uma escola de bestas hediondas e de vermes repugnantes. Mas todos ignóbeis lacaios do Medo.

PS3. Se alguém pensa que eu irei a sua casa bater à porta com os pés, está subornadamente enganado…

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30 de outubro de 2008

Teatro blogosférico

A grelha salvadora

grelha avaliaçao - O Senhor Director dá-me licença?

- Entre, mas olhe que só lhe posso conceder alguns minutos. E isto porque estou de dieta e posso roubá-los à minha hora de almoço.

- É rápido, é rápido. O Senhor Presidente, oh desculpe, o Senhor Director já conhece o nosso avaliador digital, o VerySign 2008 Released 2.06.008 XPTO?

- Já comprei. Custou uma pequena fortuna. Mas que remédio, é a unica maneira de me livrar disto da avaliação, antes de ir para a reforma…

- Perdão, não comprou. O que o Senhor Director deve ter comprado foi certamente o Incredible Evaluater 2008 XPTO, da concorrência. Sem Released, está a ver? E já verificou se o seu avaliador é legal?

- Mas legal em que sentido?

- Ora essa, no sentido de ser absolutamente fiel ao articulado e ao espírito do sistema de avaliação de professores envergonhados em fim de carreira, do Ministério da Educação.

- Sssim, acho que sim, pelo menos já anda tudo aí de pau feito, por tudo que é canto, a testar o tal XPTO.

- Mas já verificou se esse seu sistema está dotado de um anexo para avaliar Portfolios Reflexivos? Claro que não, quando muito avalia um dossier digital, ou coisa pior…

- Bem, ainda não me debrucei seriamente sobre o assunto, mas os meus colaboradores mais directos informam-me que o programa é muito bom: dá as cotas certinhas, cinco por cento, dez por cento, vinte por cento e depois os outros, e ainda os dez por cento de imprestáveis…

- Imprestáveis, disse muito bem. Ora aí está. O meu programa de avaliação não contempla imprestáveis, o que se manifesta muito favorável aos professores e lhes sobe desmesuradamente a auto-estima, um bem precioso em tempo de crise, como o Senhor Presidente, desculpe, o Senhor Director bem sabe. E a simplicidade? Qualquer avaliador, por mais burro que seja, sabe usar o nosso sistema.

- Bom, parece uma proposta muito interessante e salvadora. Vou pensar no seu caso. O seu tempo expirou, peço desculpas. Boa tarde. Dieta, mas nem tanto…

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25 de outubro de 2008

da luta que vale...

A verdadeira luta dos professores passa também por uma urgente auto-responsabilização e uma rápida aquisição de inteligência, sabedoria, coragem e verticalidade (coisas que, de momento, lamento dizê-lo, lhes fenecem), de modo a serem dignos daquilo que um verdadeiro Professor e Homem – Santana Castilho - pensa e diz sobre eles:

santana castilho “(…) E a dissolução ideológica dos professores pela via populista tem procurado ainda, com êxito, identificar e premiar uma nova  vaga de servidores menores – tiranetes deslumbrados ou adesivos - que responderam ao apelo e massacram agora os colegas, inflados com os pequenos poderes que o novo modelo de gestão das escolas lhes proporciona.

A experiência mostrou-me que o problema do ensino é demasiado sério e vital para o abandonarmos ao livre arbítrio dos políticos. “Bolonha”, a que este governo aderiu, ou a flexibilização das formações que este governo promoveu através do escândalo das “novas oportunidades” não se afastam, nos objectivos, dos tempos da submissão ao evangelho marxista, ou seja, os interesses das crianças e dos jovens cedem ante a ideologia dominante, e o resto só conta na medida em que seja eleitoralmente gratificante. Assim, contra a instauração de santanaum regime de burocracia e terror, para salvaguardar a sanidade mental e intelectual dos professores, encaro o protesto e a resistência como um exercício a que ninguém tem, actualmente, o direito de se furtar.”                               Santana Castilho (Professor do Ensino Superior)

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Sobremesa intragável aquela…

gato01 Sexta-feira foi o dia de me chatear. O almoço não tinha sido nenhuma maravilha. E depois aquilo… Já deveria saber que a Dra Maria Coisa de Andrade e Bosta me cai sempre mal depois do almoço. Sobremesa de lascar, amigos, de lascar… E lá estava ela, tresandando a uma pontualidade servil, especada na sala de professores, rodeada por velha cutelaria de aço pardo, colher e faca atentas, solícitas, aquiescentes, burras, burras. Lá estava ela, proeminente como um bolo de bolacha. E falava. Falava de como avaliar os colegas, de como ser rigorosa e séria nessa nobilíssima tarefa, e de bolachas...

Tive que a subtrair ao meu enfado, desmantelando-a, embrulhando-a logo ali num guardanapo de pura indiferença.

(Só não a atirei pela sanita porque iria entupir a única verdadeira evasão do lixo que este prédio acolhe…)

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22 de outubro de 2008

ouvido aqui - E o colega? Fez teste diagnóstico?

- Hmmm… creio que não. Mas, se for preciso, fiz.

                  (contado por Rogério Cunha)

cabruuummmm

cabrum cabruuuuuummmm! ops, que foi aquilo? o onze de setembro? o pinto caiu das escadas? a ministra caiu da cadeira? o socras tropeçou no governo? cabruuuummmmm! ah, fui eu. nunca imaginei que pudesse ser tão visível, audível, ostensivo, patente, detonante, acre. mas sou. partes de mim suspensas do tecto, outras escorrendo bueiro afora, outras minudências minhas fabricando suas próprias deflagrações em cadeia. cabruuuum. cabruuuuuum. cabruuuuum. etc. etc.

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18 de outubro de 2008

É um não docente que assim fala…

…e, no entanto, ou por isso mesmo, eu, que sou docente, não me importaria de ser avaliado por este homem. Nele confio. Em muitos dos meus colegas de profissão, nem tanto...

avaliacaodesempenho “(…) Ao contrário da convicção dos responsáveis pela área da Educação, considera-se que não é legítimo subordinar, mesmo que em parte, a avaliação do desempenho dos professores e a sua progressão na carreira, ao sucesso dos alunos e ao abandono escolar (Decreto Regulamentar nº 2/2008, Artigo 8º, ponto 1, alínea b), desprezando-se uma enormidade de variáveis e de condicionantes que escapam ao controlo e à responsabilidade do professor, tendo em conta a dificuldade fáctica em ponderar, objectivamente, a diversidade e a incomparabilidade de casos e situações. Desta forma, criam-se condições desiguais entre professores. (…)”

“(…) É, pois, perante todos estes argumentos que o Conselho Pedagógico toma a decisão de suspender a sua participação em toda e qualquer iniciativa relacionada com a avaliação do desempenho à luz do novo Modelo de Avaliação do Desempenho na defesa da qualidade do ensino e do prestígio da escola” (…)

Extracto de um texto de José Carlos Lopes  (Representante dos Não Docentes no Conselho Pedagógico do Agrupamento de Escolas de Ovar)

imagem para linkar texto

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(Imagem daqui)

No encalço de Dermeval Saviani (2)

motivaçao Não é fácil motivar para a aprendizagem. Aliás, não existe isso de motivação, pelo menos na asserção de uma motivação extrínseca ao aluno, fabricada pelo professor, utilizando um sem número de enviesadíssimas técnicas para a obtenção de uma sedução artificial. Na perspectiva de muitos estudiosos do processo, a construção técnica de uma sedução pela escola e pelo conhecimento simplesmente não existe. A motivação para o saber tem de residir na escola e no aprendente desde o início, precedendo ambos. A escola e o saber ou são definitiva e intemporalmente sedutores ou dificilmente as nossas idiotas manobras de sedução conduzirão a algo que se pareça com o verdadeiro papel da escola e com uma séria, útil, honesta e credenciada intervenção dela na sociedade. E esta intervenção inclui a elevação de um aprendente do nível espontâneo e empírico ao nível elaborado, científico e filosófico capaz de permitir um percurso até ao entendimento…

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repescando tralices

clock3Em vez de PC's, deem-nos bússolas...

26 10 07

Sobre a desorientação provocada pela indefinição de objectivos para o sistema. Hoje, parte dessa desorientação foi mitigada. Depois de muito penarem, os professores parecem ter finalmente entendido o que a equipa educacional deseja para o país. Ou seja, passou-se da meia verdade à verdade insofismável da mentira.

bilu bilu...

parabens Outubro 04, 2006

Foi quando nasceu o “Tralapraki”, ainda na maternidade http://tralapraki.blog.com. Pai desnaturado, que deixou, pela segunda vez,  passar desapercebido o aniversário do seu pobre rebento…

15 de outubro de 2008

Rituais

mijar Era um homem que só fazia rituais: acendia velas, fumava cachimbo, ia à missa, passeava o cão, tomava café, lia o jornal, sentava-se no engraxate, dava corda ao velho relógio de parede, falava do tempo, cheirava a comida, decantava o vinho. Guardanapo, sempre de pano, sobre o joelho direito, pousava os cotovelos sobre a mesa e ficava duas ou três eternidades tamborilando, rodopiando, estalando os dedos grossos em frente das ventas dos comensais. Sorvia a sopa com estridência impositiva, encavalitava montões de espinhas na borda do prato. Pacientemente, construindo com elas hipotéticos puzzles.

Entrava em todo o lado com o pé direito. Se se enganasse, saía e entrava de novo. Muitas vezes esta fronteira entre o dentro e o fora eram só linhas imaginárias que ele teimava em fabricar. Usava papel mata-borrão desde 1954 e, quando no ano passado lhe foi impossível adquiri-lo na velha papelaria do Senhor Abreu, benzeu-se em desespero e marcou uma entrevista com Dona Marianita. Estas idas regulares à bruxa da Videira eram sempre marcadas pelo ritual da mola-de-roupa: a bicicleta reluzente, a calça boca-de-sino e o colocar metódico e um pouco histriónico da mola na dobra da perneira das calças. Assobiava Moonlight Shadow em todos os sítios e situações. Ele dizia que era Moonlight Shadow e, de facto, parecia-se muito com Moonlight Shadow, pelo menos nas pausas. Acabei de vos apresentar o Zé da Albina, mas já não me lembro a que propósito…

(Ah, lembrei: obrigou-me a mijar com ele ontem, atrás da capela...)

(Imagem daqui)

No encalço de Dermeval Saviani (1)

demerval Reunião looonga, bocejo looongo, corredor looongo… Num dos extremos do velho corredor, uma jovem empregada passava a pano o vasto mosaico do chão. Aproximei-me e senti, revigorado, o perfume a lavado que o seu trabalho rescendia. Pela primeira vez em cinco horas nessa tarde, senti que alguém naquela escola fazia alguma coisa bela, conveniente, inadiável: lavava um corredor. E aqueles professores que nos retiveram cinco horas numa lengalenga institucional, tão medonha quanto impraticável, não mereceram, nessa tarde, a fruição do trabalho dessa jovem. E eu soube logo ali, de um saber certeiro e envolvente, que a escola deve reassumir, com urgência, o seu papel de ensinar alunos, deitando para o caixote mais próximo tudo o que a possa afastar deste propósito. E tudo o que eu ouvi naquela reunião a afasta, irremediavelmente, dele…

(Imagem do site de Dermeval Saviani)

12 de outubro de 2008

A palavra dos outros

É à política e não ao estado que devemos regressar            ("Abrupto", hoje)

crise Pacheco Pereira faz aqui uma análise inteligente sobre a questão da recente crise bolseira e as alegrias e eventuais dividendos políticos que esta actual mancada do sistema capitalista irá trazer a Sócrates e ao partido socialista. Em Pacheco, sempre admirei a coerência interna de um raciocínio limpo, embora não possa garantir que a sua clarividência seja capaz de me fabricar um mundo melhor.

O problema no seu raciocínio de hoje parece-me residir no facto de que nem a crise é capitalista, nem Sócrates é socialista, nem o partido socialista é o que quer que seja, nem mesmo o que Pacheco Pereira está convencido de que ele é. Enfim, nem o liberalismo se afundou, nem o socialismo será instaurado. Esta crise não tem, em termos de sistema económico, nem vencedores nem vencidos. Quem a pagará serão os mesmos de sempre, mas isso não representa nenhuma novidade revolucionária.

Quanto aos dividendos de Sócrates, a ubíqua estupidez lhe atribuirá, certamente, alguns, talvez muitos. Mas acredito que possa por aí haver uma pequena multidão semi-escondida que não votará em José Sócrates nem que a vaca tussa, embora não tenha ainda descoberto em quem votar, pelo simples facto de que não há.

(É que, por vezes, do meio de um monturo de camelices bastardas, podem nascer as flores inesperadas de uma vibrante e indómita inteligência…)

(Imagem tirada daqui)

10 de outubro de 2008

Nunca confie plenamente nos animais domésticos

jose gil José Gil, no Radar Ensaio (Visão, 2 de Outubro de 2008), fala assim da domesticação dos professores: “Assim começa a interiorização da obediência (e, um dia, do amor à servidão). (…) São técnicas terríveis de dominação, de castração e de esmagamento e de fabricação de subjectividades obedientes.”

José Gil tem toda a razão. Os professores foram domesticados. (Também o meu burro o foi. Mas foi no exacto momento em que o dei por irredutivelmente manso que levei dele o maior coice da minha vida. Inesperado e demolidor, tanto quanto o pode ser um coice colectivo de 200.000 patas domesticadas.)

9 de outubro de 2008

Aula de Ingreis

may i - Meia cabine?

- Sorry… What is that supposed to mean?

- Num entendo. Meia cabine, ou não?

- Mas o que é isso de “meia cabine”, ra-

  pariga de Deus?

- Estou a pedir para entrar, claro. Daaaa…

                        (Contado por Rogério Cunha)

(Imagem tirada daqui)

6 de outubro de 2008

A palavra dos outros

karla

Angu Dadá Australopitecus 

Quando se descobre uma grande escritora não se pode ficar, placidamente, sem um sobressalto, olhando o umbigo. Por isso vos trago hoje, vindo da outra margem do mar, este arrepio.

3 de outubro de 2008

Uma história verdadeira…

saudade 

- Mas olha lá, tu gostas dele ó não?

- Mas ele é muito criança pra mim.

- Não é rico. Tem terras… e o pai botou-o a estudar. E tu não dás prós estudos e também não tens grande fazenda. Eu acho que ele pode ser alguém.

- Mas é tão pequeno ainda…

- Ele crece

Assim que soube que mãe e filha falavam dele, esgueirou-se sorrateiro e esqueceu o diálogo. Quarenta anos depois lembrou-se disto e sentiu uma inóspita vontade de lhe contar. Mas agora ela era um esqueleto soterrado há trinta anos, desde que guinou o MG do pai ribanceira abaixo. E ele ia morrer em breve sem mesmo conseguir pagar o T0 dos seus estreitos sonhos.

Em que repartição se resolvem estes casos?

(Imagem tirada daqui)

2 de outubro de 2008

A minha cobardia reside nisto

cobardia Ao longo de alguns anos me agastei por aqui contra quem fez o mundo, os homens, o sistema capitalista e todas as demais encanzinações do universo. A minha falta de mira na detecção dos culpados de todo o mal que há no mundo não é só estupidez. É, sobretudo, cobardia. Quase sempre atribuo todas as culpas à Natureza, à potestade suprema, enfim, a Deus, porque sei que Ele não lê blogues, ou, pelo menos, este. (Há, ainda assim, um potencial perigo de eu vir a ser enquadrado judicialmente pelas minhas invectivas contra o Criador. É o facto de alguém mais perto da minha essência comezinha tomar as dores de Deus e disparar, em Seu nome, um anátema fodido contra mim.)

Quando aprenderei a dizer que os culpados da merda desta sociedade putrefacta estão muito mais perto de mim do que Ele, e lêem blogues, e sabem quem eu sou, bem mais do que eu poderia imaginar e, porventura, desejar?

(Imagem tirada daqui)

27 de setembro de 2008

A palavra dos outros

sistema educativo O “Movimento Mobilização e Unidade dos Professores” cristaliza aqui alguns dos argumentos contra muitas das palhaçadas que dia a dia se vêm infiltrando, de modo mais ou menos clandestino, no Sistema Educativo Nacional.

 

 

(Imagem tirada daqui)

Repescando tralices

clock3 José Manuel Pureza dizia ontem de manhã a Eduarda Maio, no “Conselho Superior” da Antena 1, uma coisa tremendamente parecida com a tralice que hoje vos relembro. Foi publicada em 10 03 2007 e está aqui.

Metamorfose do pastor João Efémero

cordeiro Numa única noite, João Efémero passou de pastor a carneiro. Já pela madrugada, o seu cérebro encurtou e ali se aninhou entre dois chifres retorcidos. Perdeu, num ápice, flauta e lancheira. Tufos de lã shetland woolmark benetton cobriram o seu corpito deturpado.

(Como outros carneiros da Tradição, também João Efémero acha agora que veio para tirar os pecados do mundo…)

(Imagem tirada daqui)

21 de setembro de 2008

Still time to repent…(?)

arrependimento_apatia[1] A Ministra da Educação apostou e temo que tenha ganho.

De olhar desconfiado, como muitos outros, me movo agora pelos corredores do que dantes era uma escola. Esta escola de antes mudou de esquina, mudou de hábitos, mudou de paradigma. A Senhora Ministra da Educação, tão periclitante o ano passado (para se estatelar faltou-nos só um golpe de asa e um pouco mais de subversão), reafirmou-se na cadeira do poder e está a convencer metade dos intervenientes do sistema educativo de que as suas políticas sempre foram meritórias. Abana o seu sucesso fictício como se de um sucesso verdadeiro se tratasse. E poucos se levantam já para a contrariar. Muito em breve todos acreditaremos, mesmo os mais cépticos, que fomos mesmo capazes de resolver o problema do insucesso e do descalabro do sistema educativo. Já só falta que um bom grupo de professores passe incólume pelo seu sistema de avaliação para que todos nos esqueçamos, pesarosos e arrependidos, de tudo o que se fez no passado, incluindo aquela passeata festiva pela Avenida da Liberdade. Será que os professores se transformaram na corja que a Senhora Ministra sempre soube que eles, realmente, eram?

(Imagem tirada daqui)

14 de setembro de 2008

O país da cambada

corderosa O tralapraki já tem estatuto suficiente para tratar do social light, da imprensa dos desocupados, enfim, de todos os palhaços famosos que diariamente desfilam emproados diante dos nossos olhos boquiabertos (uma vez vi uma foto que tinha bocas no lugar dos olhos). “O país da cambada” é a nova rubrica que poderá passar por aqui com alguma regularidade, muito mais que aquela que todos desejariam, inclusive eu.

Caso para hoje: Uma tal de Zulmira Ferreira, que eu nunca tinha visto e que ao princípio confundi com Manuela Ferreira Leite, diz na “Fronhas” o seguinte: “A mala está sempre pronta e onde o meu marido for, eu vou…”

Não sei a que marido esta senhora pertence, mas prezei descobrir que os há ainda mais azarados do que eu…

(Imagem tiradad daqui)

11 de setembro de 2008

Coisas giras por email

Palavra aos outros

tristeza "Fui professor durante 37 anos na Escola P. Francisco Soares de Torres Vedras e reformei-me em Janeiro passado. Hoje, dia 1 de Setembro, senti necessidade de voltar à escola para dar um abraço solidário aos meus colegas.

Num expositor da Sala de Professores deixei este texto, que partilho agora com o grupo mais alargado dos leitores deste blogue, cujo mérito tenho divulgado sempre que posso.

CARTA ABERTA AOS MEUS COLEGAS PROFESSORES

Pela primeira vez em muitos anos não retomo a actividade docente no início do ano lectivo. Mas não o lamento e é isso que me dói. Sempre disse que queria ficar na escola mais alguns anos para além do tempo da reforma, desde que tivesse condições de saúde para tal. Contudo, vi-me 'obrigado' a sair mais cedo, inclusivé aceitando uma penalização de 4,5% sobre o vencimento.

Não sou protagonista de nada: o meu caso é apenas mais um no meio de milhares de professores a quem este Governo afrontou. Só quem não conhece as escolas e tem uma ideia errada da função docente é que não entende isto.

É doloroso ouvir pessoas que sempre deram o máximo pela sua profissão, que amam o ensino e têm uma ligação profunda com os alunos, a dizerem que estão exaustas e que lamentam não serem mais velhas para poderem reformar-se já. Vejo com enorme tristeza estes colegas a entrarem no ano lectivo como quem vai para um exílio. Compreendo-os bem…

Este estado de coisas tem responsáveis: são a equipa do Ministério da Educação e o Primeiro-ministro. A eles se deve a criação de um enorme factor de desestabilização e conflito nas escolas que é a divisão artificial da carreira docente entre 'professores titulares' e os outros que o não são. Todos fazem o mesmo, a todos são pedidas as mesmas responsabilidades, mas estão em patamares diferentes, definidos segundo critérios arbitrários. A eles se deve um sistema de avaliação de desempenho que não é mais do que a extensão administrativa daquele erro colossal. A eles se deve a legislação que não reforça a autoridade dos professores na escola, antes os transforma em burocratas ao serviço de encarregados de educação a quem não se pedem responsabilidades e de alunos a quem não se exige que estudem e tenham sucesso por mérito próprio.

No ano passado 100 000 professores na rua mostraram que não se conformavam com este estado de coisas. O Governo tremeu. Mas os Sindicatos de professores não souberam gerir esta revolta legítima.

Ocupados por gente que não dá aulas, funcionalizados e alienados pelo sistema, apressaram-se a assinar um acordo que nada resolveu, antes adiou um problema que vai inquinar o ano lectivo que hoje começa. Todos os que podem estão a vir-se embora das escolas, é a debandada geral. Gente com a experiência e a formação profissional de muitos anos, que ainda podiam dar tanto ao ensino, retiram-se desgostosos, desiludidos, magoados. Deixaram de acreditar que a sua presença era importante e bateram com a porta. O Governo não se importa, nada faz para os segurar: eram gente que tinha espírito crítico e resistia.

«Que se vão embora, não fazem cá falta nenhuma!»

Não, não tenho pena de não voltar à escola. Pelo contrário: entro em Setembro com um enorme alívio. Mas não me sinto bem. Estou profundamente solidário com os meus colegas de profissão e tenho a estranha sensação de que os abandonei, embora saiba quanto isso é pretensioso da minha parte. Vejo com apreensão e desgosto que, trinta e sete anos depois de começar a ser professor, a escola não está melhor.

Sim, regressarei hoje à escola. Mas só para dar um imenso abraço àqueles que, corajosamente, como professores no activo, enfrentam um novo ano lectivo."

                                             Torres Vedras, 1 de Setembro de 2008

                                                             Joaquim Moedas Duarte

(Enviado por Paula Leitão)

(Imagem tirada daqui)

9 de setembro de 2008

O que pretende fazer este ano para melhorar a escola?

logotipoPUBLICO O Público lançou o repto. Quer saber a opinião de 100 professores sobre a pergunta que coloquei como título. Não me fiz rogado e respondi logo, assim:

Nada! Este ano não vou poder fazer nada para melhorar a escola. Devo esclarecer que isso não me orgulha. É, pelo contrário, muito decepcionante. Gostaria imenso de poder contribuir para a melhorar, mas a verdade é que ela, depois da corajosa reforma educativa por que passou recentemente, está absolutamente perfeita e, portanto, teoricamente impermeável a qualquer melhoria…

6 de setembro de 2008