29 de fevereiro de 2008

Isto não é um texto...

Professor…são, na verdade, quadras soltas.

1.  Valter Lemos contrapôs nove acórdãos favoráveis à tutela, contra os seis que Mário Nogueira tinha referido anteriormente. Bom, a ser verdade este caso, verifica-se uma vantagem de três pontos a favor do Ministério. Proponho que se esclareça a verdade total, doa a quem doer.

2.  Segundo a Fenprof, os tribunais mandaram suspender todo o processo de avaliação da classe docente. Quanto a este assunto a Ministra Maria de Lurdes não proferiu nenhuma afirmação em sentido contrário. Simplesmente, terá mandado prosseguir as demarches com vista ao cumprimento, dentro dos prazos que estipulara, do processo de avaliação docente.

3.  As escolas cumprem, obviamente, as directivas da tutela, e não as ordens dos tribunais, pelo que continuam afadigadas no “trabalho” de produção da instrumentação avaliativa. Não se lhes pode levar isso a mal. Se alguém prevarica é a tutela que, clandestina e ilegalmente, se substitui aos pareceres judiciais.

4.  Uma grande maioria de professores nem sabe que coisas se processam nos recônditos gabinetes do sistema. Continuam a dar aulas como sempre fizeram, a corrigir pilhas de testes como sempre fizeram, a preparar conteúdos o melhor que podem e sabem (e, indubitavelmente, fazem-no cada vez melhor), a esforçar-se deveras em nome do sucesso verdadeiro, alheados das suas próprias existências, lutando pela boa meta do seu trabalho - o êxito verdadeiro dos seus alunos.

5.  Outros, infelizmente, esqueceram isso tudo, na voragem dos tempos, assoberbados que estão no “trabalho” oficial de construção de instrumentos para avaliação dos seus pares.

6.  Contra tudo e contra todos, o trabalho sério na escola há-de continuar, feito pelos que não sabem sequer o que, nos gabinetes vários dos vários poderes, se pode estar a tramar contra eles…

(Imagem tirada daqui)

Educar para a sexualidade

sexuaÉ público e notório que ninguém está habilitado para leccionar Educação Sexual no ensino secundário. A menos que se contrate rapidamente o Binoc para distribuir cursos intensivos às cetoras que se esforçam, coitadas, por ensinar aquilo que nunca souberam verdadeiramente (o ensino secundário está atafulhado de virgens e outras que, embora não o sendo nem de longe, se ficaram por Kinsey ou pelos conhecimentos ministrados pelos respectivos maridecos, nas tardes de calor, depois de ingerida, pelo menos, uma boa dúzia de agrafocervejas), a tarefa hercúlea de ensinar sexualidade às novas gerações vai acabar por ser cometida ao Tralapraki e ao seu enrascadíssimo autor. Sem apelo nem agrafo!

(Pelo menos, não um agrafo destes).

 

(Imagem superior tirada daqui)

"A Senhora Ministra da Avaliação..."

o-bom-humor-da-ministra

Não deve ter sido um mero lapsus linguae aquilo que José Sócrates disse há dois ou três dias num noticiário televisivo, mas sim um verdadeiro acto falhado. De facto, até o Primeiro Ministro parece começar a estar farto de tanto protagonismo da Ministra, mais da sua inexorável e intrépida avaliação de docentes. Deve, certamente, estar a formar-se um nó na cabeça dos responsáveis, ao verificarem que a avaliação dos alunos está contaminada pela dos docentes e que a dos docentes está contaminada pela dos alunos…

A nossa sorte é que sempre aparece um engenhoso engenheiro para desenvolver uma inspiradíssima teoria engenharieira, uma miraculosa planilha  de números e de processos, que nos reconcilia instantaneamente com o desacerto ignóbil que esta avaliação é. (Private joke).

(Imagem tirada daqui)

coisas giras por email

Copio para aqui, na íntegra, o texto deste manifesto, tal como me foi recentemente enviado por email:

Murro "Manifesto Escola Pública pela Igualdade e Democracia

A Escola Pública é uma conquista de que a esquerda só se pode orgulhar. Mas esta conquista está hoje esvaziada de quaisquer valores emancipadores. Atacada por todos os lados pela Direita e pela agenda neoliberal, a escola pública está em crise. Falhou na sua promessa de corrigir as assimetrias e diferenças sociais que atravessam o país: hoje, 75% dos filhos de pobres são pobres, a taxa de abandono escolar é de 39%(contra 15% da União Europeia), metade dos alunos reprova no ensino secundário e os últimos dados das comparações internacionais colocam a escola portuguesa na dianteira da reprodução das fronteiras sociais e culturais de partida. A reprodução das desigualdades de origem e a exclusão escolar acompanham, sem variações, as rotas do insucesso: o interior do país, os concelhos mais pobres das áreas metropolitanas, os nichos guetizados dentro das cidades e subúrbios, as classes sociais mais desfavorecidas. As políticas educativas das duas últimas décadas muito contribuíram para a desfiguração da escola pública. Reformas sobre reformas, e nas costas dos parceiros, uma trovoada de medidas legislativas, tantas vezes contraditórias, e orçamentos estrangulados foram marcas de uma constante: a debilidade das políticas públicas para a Educação, demonstrada pela persistência do insucesso e do abandono. Sobre esta debilidade instalou-se o autoritarismo e mantêm-se o laxismo e a irresponsabilidade. Investido na ideologia da rentabilização e da gestão por resultados, que branqueia os verdadeiros problemas e encavalita a urgência dos números do sucesso nas costas dos professores, o PS oferece mais Governo e menos serviço público à educação. E na escola-empresa, que vai triunfando contra a escola-democrática, crescem novas burocracias feitas por decreto, centraliza-se o poder em figuras unipessoais, desenvolve-se a cultura da subordinação e do sacrifício acrítico. Nenhum outro governo foi tão longe na amputação de direitos aos professores e na degradação das suas condições de trabalho, abrindo caminho à desvalorização social da escola pública e do papel dos profissionais de educação, que são o seu rosto . A resposta não se pode ficar pelo protesto. Ela exige o projecto, e há nas escolas experiências e práticas que são património e potencial deste projecto. É urgente relançar a escola pública pela igualdade e pela democracia, contra a privatização e a degradação mercantil do ensino, contra os processos de exclusão e discriminação. Uma escola exigente na valorização do conhecimento, e promotora da autonomia pessoal contra a qualificação profissionalizante subordinada. Somos pela escola pública laica e gratuita e que não desiste de uma forte cultura de motivação e realização, que não pactua com a angústia onde os poderes respiram. Uma escola que não desiste é aquela que combate a fatalidade: pelas equipas multidisciplinares e redes sociais, determinantes na prevenção e intervenção perante dificuldades de aprendizagem; pela valorização das aprendizagens não formais; pelas turmas mais pequenas e heterogéneas como espaço de democracia, potenciador de sucesso; pela discriminação positiva das escolas com mais problemas; pela real aproximação à cultura e à língua dos filhos de imigrantes. Somos pela escola pública que assume os alunos como primeiro compromisso, lugar de democracia, dentro e fora da sala de aula, de aprendizagem intensa, apostada no debate para reflectir e participar no mundo de hoje. Somos por políticas públicas fortes, capazes de criar as condições para que a escolaridade obrigatória seja, de facto, universal e gratuita e de assumir que o direito ao sucesso de todos e de todas é um direito fundador de democracia e é o desafio que se impõe à esquerda. Porque queremos fazer parte da resposta emancipatória, empenhamo-nos na construção de um Movimento que promova a escola pública pela igualdade e pela democracia. Ao subscrever este Manifesto queremos dar corpo a uma corrente que mobilize a cooperação contra a competição, a inclusão contra a exclusão e o preconceito, que dê visibilidade a práticas e projectos apostados numa escola como espaço democrático, de cidadania, de conhecimento e de felicidade, porque uma outra escola pública é possível."

Texto enviado por email. Autor não identificado.

(Imagem tirada daqui)

balancoBalanço quinzenal

Os menos maus do Trala esta quinzena:  1º Tentação de Ostentação (20 02 08);  2º Mooners e Venus Desnudas (22 02 08);  3º Quinhentos Bravos (24 02 02)

24 de fevereiro de 2008

Quinhentos bravos

luta1

Visto daqui, a olho nu, o recente movimento de professores que se levanta contra a reforma educativa em curso parece inteligente e corajoso. O movimento escora-se em dois grandes pilares: 1- a incapacidade demonstrada por todos os partidos da oposição em perceber o que está realmente em causa na reforma educativa; 2- a alegada intromissão dos partidos (especialmente os de esquerda) nas organizações sindicais que, alegadamente, lhes fragilizam qualquer tomada de posição. Cada um destes pilares parece conter robustez suficiente para suportar futuras críticas ou acções que o movimento agora emergente possa vir a tecer ou a tomar. Na verdade, na actual conjuntura de profunda fragilidade da democracia portuguesa, tal como a entendemos, um movimento espontâneo, teoricamente apartidário, nascido das bases e protagonizado por quem, definitivamente, não se pode alhear da matéria (os professores), tem tudo para dar certo.

No entanto, o facto incontestado de parecer, a priori, uma causa racional e justa não dispensa um profundo sentido de audaciosa coragem. Por mais razão que lhe assista, o movimento não sai de casa protegido contra todas as intempéries. E, desde despedimentos sumários até processos disciplinares ou cíveis, tudo pode cair sobre as cabeças desprotegidas destes quinhentos professores que assim afrontam, sem o guarda-chuva das organizações oficiais, os poderes instituídos. E, para que castigos sérios, com raios e coriscos, possam chover sobre eles, basta que, por qualquer carga de água, a reforma do Governo venha a coroar-se vitoriosa…

Abandonando agora a invernia a que aludi anteriormente, só posso desejar que o sol finalmente brilhe sobre estes quinhentos bravos e descongele, também, os espíritos gélidos dos seus opositores.

Mandem notícias.

 

(Imagem tirada daqui)

23 de fevereiro de 2008

Há, tem de haver, uma ética na blogosfera

etica

Na blogosfera também há propriedade intelectual e direitos de autor.

O facto de ser graciosa a grande maioria dos produtos nela publicados não lhes retira nenhum dos direitos devidos aos restantes produtos intelectuais comercializados. Pelo menos ao nível estritamente ético. Use, corte, cole, aproprie-se, mas refira sempre as fontes originais bem como os autores dos produtos, se identificados.

Não dói nada e fica-lhe muito bem. A saúde da blogosfera agradece.

(Imagem tirada daqui)

Pela mão de Santana Castilho...

santana castilho

... chega mais um texto inteligente que Suas Exas o Primeiro Ministro e a Ministra da Educação teimam em não querer ler.

Para ler integralmente aqui!

A escola não é nossa!

paquete_oliveira2Ouviram o que disse Paquete de Oliveira? “Sem professores não há escola, mas a escola não é dos professores”.  Devo, pois, aprender rapidamente a não me sentir responsabilizado pela escola, visto que ela não é minha...

O tribunal é dos magistrados, o banco é dos banqueiros, o hospital é dos médicos, a assembleia é dos deputados, a loja é do Mestre André. Mas a escola não é dos professores!

Afinal, Paquete não esclarece a quem quer dar a escola. Ao pessoal auxiliar? Aos alunos? Aos encarregados de educação? Às autarquias? Ao Governo?

O pessoal auxiliar não saberia o que fazer com ela; os alunos transformá-la-iam numa discoteca gigante ou num centro de engate; os encarregados de educação fariam dela um salão de baile ou um clube de sueca; as autarquias usá-la-iam como sede do seu quartel escolapublica2eleitoral; o Governo, por seu turno, talvez a transformasse numa espécie de entreposto onde se alojassem patetas, escravos e pequenos delinquentes.

Vistas bem as coisas, só os professores têm uma ideia (vaga que seja) do que fazer com a escola. Mas a escola não é deles…

Fico triste por saber que não sou o dono da escola pública. Se o fosse, vendê-la-ia para recuperar um pouco da dignidade mensal que fui perdendo…

(Imagem inferior tirada daqui)

22 de fevereiro de 2008

Mooners e Vénus Desnudas

bundas(A propósito da proibição da Vénus Desnuda no metro de Londres)

 

Nunca conheci um mooner. Mas há-os em Portugal. Na verdade, foi com um friso de mooners que começou a geração rasca. Três ou quatro matulões resolveram mostrar os rabos à Assembleia da República, a propósito de algo que já não consigo recordar. Escandalizei-me tanto na altura que ainda hoje receio todos os dias que algum cabrão um dia me faça o mesmo.

O mooning na América é prato do dia: rabos de todas as marcas e etiologias surgem, no tráfego, em janelas de automóveis, quais carantonhas de sorrisos alarves, verticais.

Infelizmente, o mooning é um fenómeno exclusivamente masculino e provavelmente homossexual, pelo que não manifestarei especial fervor se, um dia (que espero longínquo), com ele me vier a deparar.

Já em relação às Vénus Desnudas, todas, desde Cranach até ao Playboy, a minha opinião sobre o mooning melhora exponencialmente.

Venha de lá, pois, o mooning feminino, generalizado, ubíquo e depilado.

Depravado eu? Não! Apenas permissivo, ora essa…

 

(Imagem tirada daqui)

20 de fevereiro de 2008

promocaonovo2

“Se exceptuarmos algumas vozes críticas pontuais, a educação tem vivido nas últimas décadas algo semelhante a uma «paz podre» que sobrevive debaixo do chapéu da pedagogia. Se ela é ou não romântica, é uma questão de rótulo. A verdade é que as correntes pedagógicas dominantes têm produzido resultados nefastos (…)”

Pedagogices, Consumices e Sociologices… Mais um texto de Gabriel Mithá Ribeiro, para ler integralmente AQUI.

Tentação de ostentação

Irresistível.
Irresistivelmente hilariante o modo como se “trabalha” agora na escola secundária. O trabalho tornou-se, de repente, odorífero, visível, ostentatório. Cheira, ouve-se, insinua-se, patenteia-se. Cada professor rodeia-se de néons fulgurantes que publicitam as suas novas imagens de labor, dinamismo e competência, grotescos simulacros que brotam risíveis num sistema confrangedoramente dissimulado…

(Imagem tirada daqui)
Os amigos que me lêem regularmente aperceberam-se de que tenho vindo ultimamente a mudar as cores do template, com frequência desusada. Que poderá isto querer dizer? Nem mais nem menos: falta de imaginação. Quando escasseiam as ideias, muda-se o template.
Será que vou deixar o “Trala” estiolar assim, preso a tão imprestável formalidade?

Salvaguardando a devida distância, passar o tempo a mudar a cara de um blogue, à espera de um artigo salvador que o reoriente no caminho certo, pode comparar-se à recente operação estética governamental, onde se implantou o silicone da aparência.

Tanto veemente reparo para escrever e, em vez disso, atenua-se o blogue com charmes...
Tanto rumo errado para corrigir e, em vez disso, atapeta-se o torto rumo da irracionalidade...

(Imagem tirada daqui)

16 de fevereiro de 2008

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balancoBalanço semanal

Os menos maus do "Trala" esta semana:

1º Renata; 2º A escola de Léautaud e Darien; 3º audácia e coerência inconcebíveis

"Paideia" é mais?

paideia1 Ou é impressão minha, ou perscruto aqui uma posição que ainda não tinha visto clarificada em "Paideia"?!

É, decerto, impressão minha. "Paideia" é, há algum tempo, um arrimo, um arquétipo, uma parte importante da minha "formação contínua". Mas sempre achei também (e desculpar-me-á a sua autora) que "Paideia" fosse um pouco a voz do dono.
Será que me enganei? Será que posso confiar também no posicionamento crítico de "Paideia", para além da competência educacional que sempre lhe reconheci? Seria ditosamente excessivo...

audácia e coerência inconcebíveis

escola1

Ao longo do tempo, sempre os sucessivos ministérios da educação olharam para o sistema educativo com alguma gana indómita de o mudar. Uns mais afoitos, outros mais tímidos, todos tentaram modificar-lhe a estrutura, por forma a fazerem da educação uma coisa diferente do que era antes.

Voracidade não tem faltado também ao actual Ministério, neste campo. E coerência também não. Voracidade, porque nenhuma outra reforma anterior conseguiu ser tão profundamente inconcebível como esta. Coerência, porque nenhuma medida subsequente desmerece da anterior. Todas têm sido igualmente concebidas de acordo com a mais estrita inconcebibilidade.

15 de fevereiro de 2008

A escola de Léautaud e Darien

Duvido, no entanto, de que os nossos alunos desprezem a escola pelas mesmas razões de Léautaud e Darien:

darien leautaud “L'instruction apprise ne prouve rien, ne rime à rien, est complètement inutile, pour ne pas dire malfaisante, et ne fera jamais d'un imbécile un homme intelligent, d'un cerveau obtus un cerveau actif, et d'un être sans compréhension un être capable de jugement personnel. La seule instruction qui compte, et qui donne des fruits, c'est celle qu'on se donne soi-même car seule elle prouve chez un individu le désir de savoir et l'aptitude au savoir. Elle a de plus cet avantage qu'on s'instruit selon le sens de son esprit, en conformité avec lui, d'une manière appropriée à la nature de son être, à ses tendances et à ses goûts, ce qui ajoute encore à l'efficacité de cette instruction. En réalité, l'enseignement pédagogique est fait pour les paresseux, pour les esprits sans curiosité, pour les individus qui resteraient complètement ignares si on ne leur apprenait pas quelque chose de force, pour ainsi dire. Il n'y a que l'élite qui compte, et l'élite ne se constitue pas avec des diplômes. Elle tient à la nature même de certains individus, supérieurs aux autres de naissance, et qui développent cette supériorité par eux-mêmes, sans avoir besoin de l'aide d'aucuns pédagogues, gens, le plus souvent, fort bornés et fort nuisibles.”

Paul LÉAUTAUDdarien

“Et puis l'école obligatoire, c'est très joli... Pourtant, ce n'est pas l'école qui forme l'esprit, l'intelligence et le coeur. C'est la nature ; c'est le contact avec la vie ; le commerce libre des deux sexes. L'école est un bâtiment. Tous les bâtiments sont des prisons. Ce n'est pas le maître d'école qui doit être le vrai éducateur et le guide du peuple. Le maître d'école est un maître. Tous les maîtres guident l'homme vers une seule direction : la servitude. Les éducateurs et les guides de l'enfance, ce sont tous les hommes qui vivent bien, c'est-à-dire librement ; et tous les morts qui ont bien vécu, c'est-à-dire qui ont librement vécu.”

Georges DARIEN

(Imagens Wikipédia)

coisas giras por email

obviousJá aqui escrevi sobre o assunto, mas ainda não o tinha feito (nem tinha visto outros fazer) do modo como o faz Gabriel Mithá Ribeiro. Dou, pois, a palavra ao autor, extraindo do seu artigo, este pequeno excerto:

(Mas saiba Vossa Ex.a, Senhora Ministra da Educação, que o texto não é meu. Nunca seria capaz de colocar um tal texto num blogue que me pertencesse...)

“(…)

(vi) um ensino que já tinha as escolas, de algum modo, dominadas por caciques, escancara agora as portas ao caciquismo mais rasteiro a pretexto da aproximação às comunidades, a pretexto da «melhoria» da gestão e a pretexto de uma nova forma de avaliação dos professores;

(vii) escudados por essas pretensas inovações, os «iluminados» atacam a sala de aula enquanto espaço de intimidade intelectual entre professor e alunos, tentando transformá-la num «território» vigiado, inventando-se para isso umas aulas assistidas ao longo de toda a carreira docente por uns «controleiros» que, de maneira directa ou indirecta, mesmo que não o queiram individualmente, a pressão do sistema fará deles agentes do reforço do controlo ideológico das «ciências da educação» (ou de outro «lobby» que existirá no futuro) sobre a prática docente, atentando contra o essencial da noção de liberdade que morre se não for construída a partir do ensino. Professores que tomem isso como normal, tanto do ensino básico e secundário quanto do ensino superior, era bom que tivessem um pouco de vergonha na cara. Não sei o que vai na alma do «actual» Partido Socialista, mas sei que a liberdade, naquilo que há nela de mais íntimo e essencial, está a ser cerceada, num processo que chegou à sala de aula. Resvalamos para domínios altamente preocupantes. E quem duvida disso era bom que estivesse nas escolas básicas e secundárias dos dias de hoje. Perceberia por evidência empírica o que pode ter sido, há pouco menos de um século, o resvalar para o totalitarismo. Felizmente ainda estamos no início. Mas só travaremos o «monstro» se o enfrentarmos na sua vontade férrea de imposição de um suposto «bem comum» que só «eles» (os que mandam) parecem ver. Os professores não são massa estúpida, gananciosa e interesseira, como o populismo alimentado pelo actual governo faz crer. Fazem parte do grupo socioprofissional mais vasto, qualificado e diversificado da nossa sociedade. E se nele não existe massa crítica, ela não existirá em mais lado nenhum. Só uma grande dose de ingenuidade fará acreditar na «bondade» e nas «boas intenções» do actual Ministério da Educação. Recordo que o Ensino é da Sociedade, não é do Estado e muito menos do «actual» Partido Socialista. Não é preciso ser-se de esquerda ou de direita para se perceber o que está em causa. Inacreditável é que aquilo que hoje e à pressa está a ser imposto às escolas vai sendo conseguido sem um contraditório consistente, quase sem escrutínio, num país que se diz democrático. António Sérgio falava n'«o reino cadaveroso ou o reino da estupidez». O que diria António Sérgio se assistisse ao que está a ser feito hoje ao ensino e, por via dele, a prazo, à sociedade?

Com os melhores cumprimentos,

Gabriel Mithá Ribeiro”

(Imagem tirada daqui)

14 de fevereiro de 2008

Renata

renata

Renata possui dezassete anos e uma risada certeira.

Frequenta um curso profissional, sem aproveitamento. Nas aulas sorri para mim despudoradamente e eu fico feliz, imaginando que ela está a perceber o que lhe digo. Chego mesmo a pensar que aprecia as minhas aulas e, imbecilmente, envaideço.

Mas não. As risadas ostensivas de Renata devem-se a uma lesão no seu cérebro que a faz evocar ou engendrar situações ou cenas hilariantes.

Que paramoléstia misteriosa será esta que faz felizes as pessoas? A psiquiatria chama-lhe um nome obsceno, impronunciável. Eu não lhe sei chamar nada a não ser refúgio.

Paulatinamente, Renata vai-se evolando no ar, num fade out progressivo, deixando, cá em baixo, o mundo pequeno dos outros, irremediáveis doentes que se arrastam tristonhos e decrépitos e se contristam, piedosos, com a alegria vigorosa das gargalhadas pontiagudas de Renata…

(Imagem tirada daqui)

10 de fevereiro de 2008

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balancoBalanço semanal

Os menos maus do "Trala" esta semana:

1º Arbeit Macht Frei; 2º Uma hipótese escandalosa?; 3º Educação para a sexualidade

Uma hipótese escandalosa?

familia

Se a instituição familiar e a instituição escolar estivessem irmanadas num objectivo comum, e se esse objectivo comum fosse, verdadeiramente, trabalhar para um efectivo sucesso escolar dos alunos (e não esse sucesso fictício com que se pretende, a todo o custo, promover um ranking aceitável para Europa ver) os professores poderiam enviar aos pais, com duas semanas de antecedência, todos os testes de avaliação que pretendem aplicar aos seus rebentos.

Imaginemos, por mera hipótese depravada, que isto acontecia um destes dias. Os professores resolviam enviar, por e-mail, aos pais dos alunos, cópias dos testes de avaliação, acompanhadas do seguinte apontamento:

“Ex.mo Senhor

Seguem em anexo os testes de avaliação que pretendo usar como um dos instrumentos escritos a aplicar aos saberes e competências do nosso estimado Educando, o Aluno Fulano de Tal. Cumpre, agora, a Vª Exª acompanhar o Aluno no estudo e desenvolvimento das matérias e competências exigidas. Obviamente, exclui-se a situação indesejável de uma pura e simples elaboração conjunta do referido instrumento de avaliação, dado que esta hipótese não contribuiria para a formação integral do seu Educando.”

Quantos professores seriam capazes, neste momento, de confiar aos encarregados de educação os testes de avaliação de todos os períodos lectivos? Muito poucos, em meu entender. E quantos encarregados de educação sucumbiriam à tentação de, simplesmente, os mostrar aos seus educandos? Quase todos, presumo eu.

Se as minhas expectativas forem verdadeiras, ninguém me fará acreditar na possibilidade, ainda que remota, de unir pais e professores na prossecução dos verdadeiros fins de educação e formação dos jovens. Irmanar professores e encarregados de educação seria um pouco como irmanar patrões e operários, vendedores e compradores, polícias e ladrões, vencedores e vencidos (e com notória primazia para qualquer um dos exemplos do segundo termo da comparação)…

9 de fevereiro de 2008

Educação para a Sexualidade

sexualidade escolar

Miguel P. (Bicicleta de Recados) diz ter encontrado este cartaz numa escola secundária da região centro. Segundo o autor do blog, o cartaz poderá ser o produto final de um trabalho sobre Educação para a Sexualidade. Miguel P. ridiculariza a situação e critica, muito educadamente, o professor que, eventualmente, tenha orientado tal trabalho.

Quanto a mim, não posso criticar, porque esse professor simplesmente não pode existir. Se eventualmente existisse, no sistema educativo, uma singularidade deste jaez, formar-se-iam filas de cépticos só para ver de perto esse precioso exemplar.

Não, não metam professor nisto, que dão razão à Ministra! Estou convicto de que terá sido um aluno dos primeiros anos que escreveu aquilo a expensas próprias. Mas, ainda assim, resta uma dúvida relevante: quem permite que um chouriço destes permaneça pendurado na parede de uma escola secundária? Fico corado, só de o ver pendurado no blog…

Também não faço ideia do que seja “vida matrimonial sem dom de si”…

(A minha ignorância é tão preciosa e singular como o professor que não há. Ou há?)

(Imagem tirada daqui)

8 de fevereiro de 2008

O Dragoscópio passou para a carteira da frente?

dragoscopio novoO Dragoscópio está diferente...

O blog pirata e anacoreta aligeirou-se, esmerou-se, coloriu-se, “educou-se”.

Acho que se metrossexualizou um pouco!

Os textos continuam muito bons, sem dúvida, mas parecem-me um pouco mais mansinhos. É como se o autor tivesse aberto uma sucursal, e tivesse dito ao gerente: “Ficas aqui a ler os posts anteriores com atenção e, depois, tentas imitá-los”.

Será que a “nacinha”, que tanto e tão merecidamente apanhou do Dragão, acabou por, num ímpeto masoquista, o promover? É que, sinceramente, achei os textos mais sociáveis, mais tranquilos, mais bentos…

Ou ter-se-á o autor simplesmente aperaltado com o meu capote da razoabilidade, agora que decidi despi-lo definitivamente?

Enfim, não posso negar a beleza do sol poente que emoldura o novo Lança-Chamas, mas fica-me um leve gotejo de saudade do velho Dragoscópio negro.

 

(Imagem retirada da sidebar do blog)

7 de fevereiro de 2008

"Arbeit Macht Frei"

liberdade expressao1

Um pouco antes da sua maratona sobre as eleições americanas, Daniel Oliveira, no Arrastão, trazia-nos (com youtube e tudo) a curiosa história de uma jovem apresentadora da televisão alemã, que, num concurso, terá soltado, a um qualquer despropósito, a expressão “Arbeit macht Frei” que encimava a entrada dos campos de concentração nazis, nos anos 30 e 40 do século passado. Mais nos adianta Oliveira que, tendo caído em si ou tendo sido informada do que dissera, a pequena terá pedido desculpas, facto que de nada lhe serviu, pois foi logo ali liminarmente despedida.

Daniel Oliveira, com um esboço de juízo de valor, remata que é assim mesmo que as coisas acontecem num país a sério, onde se respeita a memória. Imaginei, por momentos, ter percebido uma ironia subtil nestas palavras. Mas não. O homem falava a sério.

A opinião de Daniel Oliveira (atribuindo justa causa ao despedimento da jovem, em nome do respeito pelos que sofreram a torpe carnificina nazi) não me suscitaria nenhum comentário pessoal minimamente inflamado, visto que não conheço a referida apresentadora de concursos e o medo do meu próprio despedimento está a tornar-me insensível aos despedimentos dos outros. Mas acontece que o referido post despoletou, até ao momento em que escrevo isto, nada menos que 62 comentários, muitos dos quais embarcando, com Oliveira, na tese do justo e douto castigo – o despedimento sucinto e relâmpago da desbocada apresentadora. E foi aí que me assustei a sério.

E, já que Oliveira (que é um jornalista dos bons) pode terminar com um juízo de valor, muito mais o posso eu que não sou coisa nenhuma. Aí vai, pois: os nazis estão vivos e são, certamente, os patrões da rapariga que foi despedida. Nazis parecem ser também todos os que consideram que terá havido justa causa para o despedimento.

Se descontextualizarmos “Arbeit macht Frei”, ficaremos com uma frase absolutamente inócua. Porém, um despedimento nunca é inócuo, seja em que contexto for.

Nem mesmo tratando-se de despedimentos absolutamente indiferentes, como são os dos outros…

(Imagem tirada daqui)

5 de fevereiro de 2008

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intendencia1

Corrigidos hoje erros de vários tipos em todos os posts publicados entre 26 01 08 e a presente data.

4 de fevereiro de 2008

balancoBalanço semanal

Os melhores do "Trala" esta semana:

1º As metas; 2º Democracia de trela; 3º O Capote da Razoabilidade

As metas

professorOrlando de Seide estava arrasado!

Tinha declarado, em Setembro, que as suas metas de sucesso para 2008 se situariam pelos 70 por cento. Mas é que nessa altura ele ainda não sabia que o sucesso dos alunos representaria uma componente de peso na sua própria avaliação como professor.  E a tragédia instalou-se, lenta e insidiosamente.

Ao princípio nem parecia uma tragédia a sério. Só uma simples contrariedade. Mas logo se avolumou e se abateu sobre ele, sem apelo nem agravo: ele tinha, imagine-se, logo no primeiro período, conseguido um inesperado e inexplicável sucesso de 92 por cento, em todas as suas turmas. Este lamentável falhanço nunca mais deixou Orlando dormir sossegado…

Confrontado com a situação (os donos da sua escola não se inibiram de lha fazer ver do modo mais incisivo que encontraram), Orlando viu agigantar-se um problema que nunca pensou que alguma vez o fosse. Mas era.

O facto de ter ultrapassado de longe, logo no primeiro período, as metas que estabelecera para todo o ano lectivo, fazia dele um professor  irresponsável, desatento, pouco ambicioso e desastrado. Irresponsável, porque poderá ter cedido a um impulso porreirista, falho de rigor e pouco profissional, na medida em que teria sido o imperativo da sua própria avaliação a ditar aqueles magníficos e magnânimos resultados; desatento, porque não soube adivinhar, com exactidão, as potencialidades e as limitações de cada um dos seus alunos em processo de aprendizagem; pouco ambicioso, porque o facto de ter traçado uma meta tão modesta pressupõe, de imediato, uma certa predisposição do professor para a lassidão, o laxismo, a preguiça e a acomodação. Finalmente, desastrado, por ter, levianamente, pensado que aquela espécie de promessa eleitoral (que as chefias designam por metas) teria, como todas as outras promessas eleitorais, um único e previsível destino, o de ser calma e deleitosamente esquecida.

O post já vai longo. Não é, no entanto, apenas por isto que o panicovou terminar aqui. A outra razão é que não entendi muito bem a tragédia de Orlando de Seide e não sei, portanto, como resolvê-la.

E vocês? Entenderam? E sabem?

(Imagens tiradas daqui)

medicamento eficaz

Noticiou-se hoje que o Champix, um medicamento contra o habito de fumar, está a induzir desejos suicidas nos pacientes. É óbvio que, se o paciente morrer, o medicamento cumpre eficazmente o objectivo para que foi criado. Mas achamos que, em benefício da saúde dos fumadores, não se deve lançar mão de medicamentos assim tão convincentes… :)

(imagem tirada daqui)

3 de fevereiro de 2008

Aplainar a História ou o sábio ignorante

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Nas aldeias há homens espantosos. Vivi muito tempo na Beira Interior e conheci lá, numa das suas aldeias paradas no tempo, um carpinteiro sábio, homem que em 1985, devia girar já pelos seus 70 anos. Passava tardes a conversar com esse homem. Fotografei-o de vários ângulos, quer no sentido próprio, quer no sentido figurativo, sempre escorado na sua banca carcomida, rodeado das suas plainas, plainetes e garlopas, como se fossem troféus de uma glória improvável.

“Quem trabalha no meu ofício não entende as mudanças do tempo. Nem do tempo que faz nem do tempo da História. Sinto que hoje está mais frio que ontem, e sei que houve uma revolução em Lisboa há dez anos, mas nunca entendi por que essas coisas acontecem. Sempre trabalhei aqui no torno e tudo o que ouço dizer não tem para mim nenhum sentido: nem o fascismo, nem a democracia, nem o 25 de Abril, nem o 11 de Março, nem o 25 de Novembro, nem a ditadura, nem o liberalismo, nem a realeza, nem a república, nem o comunismo, nem o capitalismo. Não sei que coisas são a intriga política, o terrorismo, ou a corrupção. Passo as tábuas no torno, desenho-as a lápis e produzo as minhas obras de arte, mesas e bancos, que me dão o que comer. Sempre foi assim. Mesmo que quisesse entender isso tudo de que me fala, já estou plainado demais para que alguma coisa se me agarre ao cerne.”

Aí está um verdadeiro sábio que não sabe absolutamente nada...

(Imagem tirada daqui)