4 de fevereiro de 2008

As metas

professorOrlando de Seide estava arrasado!

Tinha declarado, em Setembro, que as suas metas de sucesso para 2008 se situariam pelos 70 por cento. Mas é que nessa altura ele ainda não sabia que o sucesso dos alunos representaria uma componente de peso na sua própria avaliação como professor.  E a tragédia instalou-se, lenta e insidiosamente.

Ao princípio nem parecia uma tragédia a sério. Só uma simples contrariedade. Mas logo se avolumou e se abateu sobre ele, sem apelo nem agravo: ele tinha, imagine-se, logo no primeiro período, conseguido um inesperado e inexplicável sucesso de 92 por cento, em todas as suas turmas. Este lamentável falhanço nunca mais deixou Orlando dormir sossegado…

Confrontado com a situação (os donos da sua escola não se inibiram de lha fazer ver do modo mais incisivo que encontraram), Orlando viu agigantar-se um problema que nunca pensou que alguma vez o fosse. Mas era.

O facto de ter ultrapassado de longe, logo no primeiro período, as metas que estabelecera para todo o ano lectivo, fazia dele um professor  irresponsável, desatento, pouco ambicioso e desastrado. Irresponsável, porque poderá ter cedido a um impulso porreirista, falho de rigor e pouco profissional, na medida em que teria sido o imperativo da sua própria avaliação a ditar aqueles magníficos e magnânimos resultados; desatento, porque não soube adivinhar, com exactidão, as potencialidades e as limitações de cada um dos seus alunos em processo de aprendizagem; pouco ambicioso, porque o facto de ter traçado uma meta tão modesta pressupõe, de imediato, uma certa predisposição do professor para a lassidão, o laxismo, a preguiça e a acomodação. Finalmente, desastrado, por ter, levianamente, pensado que aquela espécie de promessa eleitoral (que as chefias designam por metas) teria, como todas as outras promessas eleitorais, um único e previsível destino, o de ser calma e deleitosamente esquecida.

O post já vai longo. Não é, no entanto, apenas por isto que o panicovou terminar aqui. A outra razão é que não entendi muito bem a tragédia de Orlando de Seide e não sei, portanto, como resolvê-la.

E vocês? Entenderam? E sabem?

(Imagens tiradas daqui)

1 comentário:

effetus disse...

Como eu gostava de escrever assim, amigão! Com ironia e com talento!
Um mimo!