Tinha declarado, em Setembro, que as suas metas de sucesso para 2008 se situariam pelos 70 por cento. Mas é que nessa altura ele ainda não sabia que o sucesso dos alunos representaria uma componente de peso na sua própria avaliação como professor. E a tragédia instalou-se, lenta e insidiosamente.
Ao princípio nem parecia uma tragédia a sério. Só uma simples contrariedade. Mas logo se avolumou e se abateu sobre ele, sem apelo nem agravo: ele tinha, imagine-se, logo no primeiro período, conseguido um inesperado e inexplicável sucesso de 92 por cento, em todas as suas turmas. Este lamentável falhanço nunca mais deixou Orlando dormir sossegado…
Confrontado com a situação (os donos da sua escola não se inibiram de lha fazer ver do modo mais incisivo que encontraram), Orlando viu agigantar-se um problema que nunca pensou que alguma vez o fosse. Mas era.
O facto de ter ultrapassado de longe, logo no primeiro período, as metas que estabelecera para todo o ano lectivo, fazia dele um professor irresponsável, desatento, pouco ambicioso e desastrado. Irresponsável, porque poderá ter cedido a um impulso porreirista, falho de rigor e pouco profissional, na medida em que teria sido o imperativo da sua própria avaliação a ditar aqueles magníficos e magnânimos resultados; desatento, porque não soube adivinhar, com exactidão, as potencialidades e as limitações de cada um dos seus alunos em processo de aprendizagem; pouco ambicioso, porque o facto de ter traçado uma meta tão modesta pressupõe, de imediato, uma certa predisposição do professor para a lassidão, o laxismo, a preguiça e a acomodação. Finalmente, desastrado, por ter, levianamente, pensado que aquela espécie de promessa eleitoral (que as chefias designam por metas) teria, como todas as outras promessas eleitorais, um único e previsível destino, o de ser calma e deleitosamente esquecida.
O post já vai longo. Não é, no entanto, apenas por isto que o vou terminar aqui. A outra razão é que não entendi muito bem a tragédia de Orlando de Seide e não sei, portanto, como resolvê-la.
E vocês? Entenderam? E sabem?
(Imagens tiradas daqui)
1 comentário:
Como eu gostava de escrever assim, amigão! Com ironia e com talento!
Um mimo!
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