29 de fevereiro de 2012

Nem mesmo a revolução é demasiado séria…

Dicionário-Aurelio-para-iPhoneA razão pela qual os portugueses (e os europeus) ainda não fizeram a revolução socialista é que não sabem exactamente em que gaveta está o livro de instruções. Marx tinha um, Bakunine também. A minha mulher-a-dias é quem melhor sabe o que deve ser feito para inverter o percurso negativo da balança de pagamentos. Qual definição shakespeariana de “génio”, ela tem em si todas as regras para a construção de um mundo melhor, sem ter necessidade de ir beber a fontes menos recomendáveis. O meu cão todos os dias me dá lições sobre com quantas patas se constrói a verdadeira felicidade e o próprio primeiro ministro de Portugal também tem um manual de fazer revoluções, embora não saiba como lhe chamar, já que é velho (o livro, claro, e não o ministro) e perdeu a capa. Proponho, para substituir a capa extraviada e, portanto, como nome da revolução de Passos, “revolução neoliberalenguista” ou “a revolução neossocioesclavagista lusitana”.

No entanto, e na impossibilidade de alguém ainda se lembrar, de facto, como se faz uma revolução, acredito que a revolução de que a Europa precisa é uma revolução lexicológica. que é, simultaneamente, uma revolução bakuninista, na medida em que sugere a transformação social a partir de um conjunto de conceitos abstractos e não de um grupo de proletários subalimentados e malcheirosos. Trata-se, portanto, de uma revolução limpa, asséptica, apenas substituindo um império de palavras por um império de outras palavras, e não a esquálida e suarenta revolução marxista, que mais não terá trazido à humanidade que um aumento exponencial na produção de deo colognes.

As revoluções lexicais são eficazes e praticamente gratuitas. Os seus resultados medem-se por descritores e parâmetros que vão do muito bom ao excessivamente excelente, protegendo simultaneamente a alegria no trabalho e a felicidade conjugal. A revolução lexicológica não é mais que uma estratégia de substituição. É só destronar umas palavras e eleger outras em seu lugar. Em vez de dívida externa, elejamos dádiva interna; em vez de coelhos, elejamos beija-flores, em vez de tróica, truca-truca. Substituamos trabalho por tremoços e cansaço por cerveja. Em vez de caderno de encargos, elejamos cabrito com espargos e em vez de fome, escrevamos sempre força. Para austeridade prefiramos mariscadas.

Toparam o sumo da revolução lexicológica? Aposto que amanhã tudo será mais azul (com bolinhas da mesma cor).

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26 de fevereiro de 2012

Dez perguntas de um refinadíssimo ignorante

O Pensador - José Roberto ArrudaVá lá, respondam a um desgraçado que não entende nada de política nem de finanças!

1. Os partidos políticos já foram privatizados, são empresas públicas, clubes ou cooperativas? 

2. Quando os candidatos perdem, quem paga aos fornecedores da sua campanha eleitoral? O povão, o partido, o próprio candidato ou ninguém?

3. Porque é que eu nunca acertei no candidato certo? É falta de sorte ou, na verdade, nunca há candidatos certos?

4. Porque a minha conta bancária não aumenta quando o governo injecta dinheiro no meu banco? E se nenhuma conta cresce, para onde vai o dinheiro injectado nos bancos?

5. Porque é que é nas piores democracias que se forjam as melhores ditaduras?

6. Porque é que todos aqueles que tinham boas soluções já morreram?

7. Porque estamos procurando respostas para perguntas que ainda ninguém fez e ninguém sabe responder a nenhuma das muitas perguntas que já temos?

8. Quando a crise acabar, quem nos ensinará a gastar dinheiro de novo?

9. Porque é que fazer passar uma boa proposta fica sempre tão caro?

10. Porque precisamos sempre de cartazes e de powerpoints e de suportes concretos, lúdicos e mediáticos, para nos fazermos entender? Estamos a falar para burros ou deixámos de saber falar?

(Nota: já obtive uma resposta à pergunta número 4. O dinheiro que é injectado nos bancos é para que eles fiquem com o dinheiro que diziam ter (mas, de facto, não tinham) antes de receber a injecção de dinheiro. Espero obter mais respostas, a fim de iluminar um espírito nadando em trevas, em dúvidas e em dívidas)

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25 de fevereiro de 2012

Outra vez o 7ºA.

alunos-

Tratava-se de uma aula de substituição de Formação Cívica, seja lá o que isso possa ser. A Directora da Turma (que, pelos vistos, lecciona essa matéria) estava a faltar e tinha deixado uma tarefa que consistia em pôr a pequenada a discorrer sobre as alterações de natureza física e psicológica que a puberdade introduz nos corpos e nas mentes dos rapazes e das raparigas. Ao longo dos 45 minutos do total desalinho em que a turma se movimentou, fui recebendo os “trabalhos”, verdadeiras teses de doutoramento com duas ou mesmo três linhas de texto absolutamente original: os rapazes ficam mais musculados – diziam uns; as raparigas têm mais períodos – diziam outras; a voz dos rapazes começa a desafinar – acrescentavam uns; as raparigas ficam mais putas, - acrescentavam outr… Quê? Olhei de novo. Era isso mesmo que lá estava! Incrédulo, voltei a olhar. E era, era mesmo, sem sombra de dúvida.

Larguei a folha rispidamente, como se me queimasse os dedos, não fosse aquilo pegar-se a mim como alforreca. Depois, quase a tremer, levantei-me dali, peguei no molho dos papéis sujos e amarrotados e livrei-me deles na Direcção, tal como estava prescrito no enunciado da DT. Só mais tarde chegou o momento em que pude respirar fundo, pensando como eu era feliz por não ter que decidir o que fazer com aquela eloquente abordagem à questão da puberdade…

Como parece óbvio, não consegui contar este caso a ninguém, para evitar envolver-me nele ou servir de testemunha…

(Só estou a contá-lo aqui, porque tenho a certeza de que nenhum de vocês me acreditará. Afinal de contas, vocês não sabem quem é o 7ºA…)

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12 de fevereiro de 2012

Ouvido aqui e ali

São citações avulsas, algumas das quais nunca foram citadas por ninguém citaçoesalém de mim….

. Não tenhamos dúvidas: quanto mais abundante for a refeição dos ricos, melhor se alimentam os pobres que vivem das migalhas daqueles. Por isso, temos que concluir que precisamos de ricos como de pão para a boca…

. (Corolário de Ary dos Santos: “Só salvamos a pele se formos cães de ricos”)

. Estou a pensar em como as pessoas são, em média, muitíssimo estúpidas. E o pior é que cinquenta por cento dessas pessoas são necessariamente ainda mais estúpidas que a média delas, como é óbvio.

     (Corolário de joao de miranda m.: Estatisticamente, cada um de nós é a média. Não precisamos, pois,  vangloriar por sermos dos menos estúpidos, nem atormentar por sermos dos mais estúpidos.)

. A gratidão é que faz com que o pouco que temos seja mais que suficiente…

     (Corolário de jmm.: a gratidão é o melhor dos alucinogénios legais)

. Todas as pessoas são geniais. Mas se julgarmos um peixe pela sua habilidade de subir às árvores, ele passará toda a vida convencido de que é mesmo estúpido.

. Há duas coisas que são infinitas: o universo e a estupidez humana. Porém, no que respeita ao universo, ainda não tenho a certeza absoluta disso…

. O impossível demora um pouco mais a acontecer.    

     (Corolário de jmm: …independentemente da velocidade com que o possível acontece.)

. A vida pode não ser a festa que sempre desejámos. Mas, já que estamos aqui, que tal aproveitarmos para dançar?

     (Corolário de jmm.: Não sei dançar. Será que dá antes para uns amassos?)

. Se caíres, cá estarei para te amparar. (Autor: O chão).

     (Corolário de jmm.: Há chão e chão, há cair e trambolhão)

. Quando nasceste eras original. Não queiras morrer como cópia.

     (Corolário de jmm.: … a menos que seja Copicanola.)

. Eu acredito piamente nas pessoas boas. O problema é que elas quase não dizem nada.

     (Corolário de jmm.:  Se falam, deixam logo de ser boas.)

.Todos os problemas se resolvem pela lógica. Mas não os podemos resolver com a mesma lógica com que os criámos.

. Liberdade é o direito de estar errado, não o direito de fazer errado.

. Sê tu próprio. Quem mais pode fazer isso melhor do que tu?

     (Corolário de jmm.: o teu clone faz isso melhor e queixa-se muito menos)

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11 de fevereiro de 2012

A grande polémica da lamechice de Passos

egas
Se pesquisarmos pela palavra “piegas” encontraremos, no mínimo, 8 páginas, todas remetendo para comentários mais ou menos boçais, mais ou menos azedos

O fait-divers da pieguice, tal como todos os outros faits-divers dos nossos políticos, voltou a ser aproveitado no mau e no bom sentido. Foi aproveitado no mau sentido quando o povo, por pura pieguice, deixou de dormir naquela noite, revoltado contra o insultuosíssimo vitupério proferido pelo nosso atrapalhado primeiro-ministro. Foi aproveitado no bom sentido, quando o mesmo povo se aplicou à produção de piadas mais ou menos cretinas, mas piadas, enfim, e uma piada é sempre muito bem vinda, mesmo quando pobre e subalimentada. Entre estas está a introdução da palavra Piegas como nome do meio (Francisco Piegas da Silva Lopes), ou o facto de muitos dos que ostentavam desde o baptismo o nome de Viegas passarem a escrever Piegas nas redes sociais. Primárias? Sim, claro, primárias, mas simpáticas na sua ingenuidade. A cereja das larachas chegou-nos, enfim, com o cartoon do Becas e do Egas que se sentia muito 3,1416…

E pronto. Seria suposto terminar a polémica 24 horas depois. Mas não. Se pesquisarmos pela palavra piegas encontraremos, no mínimo, 8 páginas, todas remetendo para comentários mais ou menos boçais, mais ou menos azedos, todas empolgando o insultuoso epíteto aplicado pelo primeiro-ministro ao seu sentimentalóide povo.

Mas eu não. Eu jamais chamaria piegas ao povo. Eu chamo ao povo é BESTA de carga, isto para ser politicamente correcto. Besta de tiro, mas com orelha assombrosamente sensível à mosca e à

palavra “piegas”.

Quando será que o cretinismo militante deste povo lhe permitirá fazer as perguntas certas, ouvir as pessoas certas, ler os livros certos, seguir os raciocínios certos, para tentar descobrir de vez se há, de facto, ou não, uma solução plausível para o país, para além da pieguice de Coelho ou da miséria financeira do Senhor Presidente da República?

Afinal, há solução para nós, povo burro, ou não? Quem tem uma? É boa? É viável? Se há, se é, deitemos abaixo Passos e Merkel e restantes chibos anacreônticos. Se não há, agradeçamos a Passos Piegas Coelho pelo facto de, pelo menos, ter uma.

E, com pieguice ou sem pieguice, com presidentes sem dinheiro para alfinetes ou um país sem dinheiro para os alfinetes do presidente, ou alfinetadas tolas no governo ou no presidente, ou piadas de péssimo gosto a acentuar mais e mais a burrice deste povo cronicamente estúpido, que nada vê do que acontece e jamais entende o que acontece, mesmo quando o vê, façamos todos, vá lá, um pequeno esforço de inteligência para compreender que tempos e que modos serão estes.

Entender não passa por perder tempo com pieguices e faits-divers. Entender exige trabalho, esforço mental, estudo, perspicácia e análise profunda de todos os indícios disponíveis. (E estes são, de facto, muitos, escondidos atrás das cascas de banana com que nos vão atravancando o caminho…)

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6 de fevereiro de 2012

Professores quebradiços

professor indisciplinaEu? Mandar alunos para a rua? Nada disso! Não estou interessado em levar uma cachaporra de um bando de ciganos. (Ah, desculpem, isto é racismo ou xenofobia ou sarampo ou lá como isso se chama). Nem sequer sei quem bate com mais força, (eu ignorantão de surras, de tareias e de esmurrações) se são os ciganos ou os gadjos…

Sei lá que punhos ou coices são mais demolidores das carcaças dos professores da escola pública nacional! Sei lá disso, eu, que até hoje, em 32 anos de ensino, nunca apanhei a sério. (Quando andei na tropa em Mafra, levei uma vez duas chumbadas no cu, dadas por um sargento miliciano com uma espingarda de pressão de ar. Dois buraquinhos sem importância, ladeando o que, por natureza, já lá estava. Mas essa operação de charme nunca mais se repetiu.)

Mas, se nos meus 32 anos de ensino nunca apanhei, já vi apanhar! Uma vez, foi um doutor de leis que esmurrou um colega meu novato e inexperiente. Outra vez foi um médico muito conceituado que mandou um tremendo estaladão em outro colega (estaladão de médico é demolidor, como devem saber). Há dias foi um de Matemática que foi surrado por ciganos (bolas, lá estou eu de novo todo xenófobo, rácico ou parkinsónico ou lá que diabo de coisa é essa).

Racista e sem razão, porque nem sequer sei quem bateu melhor (quero dizer, pior), se foi o causídico, o sangrador ou a ciganada. O professor de Matemática foi, dos três professores, o que mais maltratado ficou, mas isso não prova que o desancar dos ciganos seja pior ou melhor que o dos doutores brancos. O caso é que os brancos agiram individualmente, por conta própria, cada um com a sua vítima, ao passo que os ciganos eram três, agindo de modo organizado, esmurrando de modo científico, e eram todos muito jovens. Já se sabe que um jovem, por vezes, não tem bem a noção da força com que bate. E a vítima, neste caso, era um velhote da minha idade, frágil e quebradiço como todos os velhotes. E este apresentava ainda uma debilidade maior, por ter passado 34 anos a tentar ensinar Matemática a ciganos! (Caramba, desculpem de novo a minha racicidade, parkinsonidade xenofobia ou sarampo ou lá o que isso possa ser…). Quanto à apregoada diferença de idades entre agressores e agredido, tudo não passa de pura demagogia, visto que quer um quer outros tinham exactamente a mesma idade: O professor tinha 60 anos e os três agressores também (vinte anos cada um). 

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5 de fevereiro de 2012

repescando tralices

02-relogio bCantar ao fado a dois tempos (mas desafinado)

Era o tempo de Sócrates ainda fresco no poleiro, poleiro limpo ainda, penas alisadas, rabo colorido, crista refulgente, soberba. Mas já se vislumbrava, com ele e com Maria de Lurdes, o início imparável do ataque sem precedentes à classe docente.

Este é o segundo texto deste blogue. Foi postado em 30 de Janeiro de 2007. Já lá vão 5 anos. (O tempo, parecendo que não, foge-nos depressa. É cavaleiro andante, sobre cavalo sem rabo, calvo na traseira parte da cabeça. Mas eu pego-o por uma das patas, no blogue…) 

Para recordar aqui.

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4 de fevereiro de 2012

Panem et circenses

carnavalSim, mas isso era na Roma antiga, na Roma esclavagista, há perto de três milénios. Aqui, nesta democratíssima sociedade lusitana, nesta barcarola sem rumo, nem panem, nem circenses. O pão já nos foi roubado da boca para dar aos abutres. O circo, acaba de nos ser vedado com o corte do direito ao Carnaval.

Eu acho que o primeiro ministro devia pensar melhor. Roubar-nos a dignidade, o pão, o trabalho, o salário, a casa, encher-nos de impostos, de taxas, de multas, de opróbrios, de angústias, de tristezas e de depressões, enfim, inviabilizar-nos qualquer forma de existência aceitável será perfeitamente suportável por este povo que deixou há muito de sentir. Mas, senhor primeiro ministro, tirar-nos o dia do ano em que podíamos gozar livremente com a sua cara, e a dos outros parvalhões que nos governam, isso é que não pode ser.

(Vá por mim, isso pode fazer ruir o resto do império, homem…)

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