Tratava-se de uma aula de substituição de Formação Cívica, seja lá o que isso possa ser. A Directora da Turma (que, pelos vistos, lecciona essa matéria) estava a faltar e tinha deixado uma tarefa que consistia em pôr a pequenada a discorrer sobre as alterações de natureza física e psicológica que a puberdade introduz nos corpos e nas mentes dos rapazes e das raparigas. Ao longo dos 45 minutos do total desalinho em que a turma se movimentou, fui recebendo os “trabalhos”, verdadeiras teses de doutoramento com duas ou mesmo três linhas de texto absolutamente original: os rapazes ficam mais musculados – diziam uns; as raparigas têm mais períodos – diziam outras; a voz dos rapazes começa a desafinar – acrescentavam uns; as raparigas ficam mais putas, - acrescentavam outr… Quê? Olhei de novo. Era isso mesmo que lá estava! Incrédulo, voltei a olhar. E era, era mesmo, sem sombra de dúvida.
Larguei a folha rispidamente, como se me queimasse os dedos, não fosse aquilo pegar-se a mim como alforreca. Depois, quase a tremer, levantei-me dali, peguei no molho dos papéis sujos e amarrotados e livrei-me deles na Direcção, tal como estava prescrito no enunciado da DT. Só mais tarde chegou o momento em que pude respirar fundo, pensando como eu era feliz por não ter que decidir o que fazer com aquela eloquente abordagem à questão da puberdade…
Como parece óbvio, não consegui contar este caso a ninguém, para evitar envolver-me nele ou servir de testemunha…
(Só estou a contá-lo aqui, porque tenho a certeza de que nenhum de vocês me acreditará. Afinal de contas, vocês não sabem quem é o 7ºA…)
Post 818 (Imagem daqui)
3 comentários:
::)) Que narrativa desconcertante:) Quero acreditar que aconteceu, porque o ensino assim tem mt mais graça:)
Boas notícias para ti: aconteceu mesmo. (Mas safei-me totalmente do embrulho). :)
Grande abraço.
joao de miranda m.
Pois são histórias como estas, apesar de desconcertantes, que tornam a vida de um professor menos monótona! Marla
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