26 de janeiro de 2012

sobre presidentes, lugares comuns, simbolismos, tretas, por aí…

esmolaO presidente da república disse primeiro e pediu desculpas depois. Faz sentido. É a ordem normal das coisas. Mas eu, o anormal da blogosfera, estou neste momento a pedir desculpas a todos os meus leitores por tudo o que vou dizer a seguir.

Em primeiro lugar tudo aquilo que o Presidente da República disse não passa de abobrinha. Não tem nenhuma relevância política nem, por si só, poderia jamais ensombrar qualquer relação entre um presidente e os seus súbditos. Seria um simples descaso, prontinho para passar despercebido e enfiar na gaveta do esquecimento, não fosse a paranóia colectiva que atacou duro este povo bipolar. E foi então que a blogosfera e as ditas redes associais evidenciaram todo o azebre que lhes cobria os amarelos (trata-se de um sucedâneo da imagem recorrente do estalar de verniz, mas em versão metaloide). E vai daí, inventaram aquele expediente primário, típico da parolografia mais refinada que esta nação pariu ultimamente, expoente máximo do jumentismo mais saloio (estúpido simbolismo que ainda não abandonou de vez a literatura e a ignorância populorum), de ir deixar moedas no palácio de Belém.

Não votei Cavaco, não o defendo, não o entendo. Acho-o, de facto, um pouco irrelevante. Não levo muito a sério quase nada do que ele diz, já que não diz nada de verdadeiramente inesperado, vívido, revolucionário, romântico, criativo, sério, oportuno. Em Cavaco, o lugar-comum é um lugar sentado e eterno…

Mas apareceram na televisão os cretinos que vinham depositar as moedas no chapéu do presidente, cheios do mesmo discurso simbolista do homem necessitado a quem vêm prestar o caritativo auxílio. Meu deus, (que deves estar no céu porque aqui já não dá mais) que nem a fazer piadas estes tipos a têm. Deve ser coisa de humor retrasado de revista decadente que, tal como o ubíquo simbolismo, ainda acha que é coisa fina. Não suporto os simbolistas, não por não os entender (o simbolismo é a mais primária das manifestações de comunicação), mas exactamente pela sua inerente deprimência.

E os polícias, cujas caras não abonam em favor da inteligência (embora não pretenda com isto insinuar qualquer relação de causa e efeito entre aquela e a bobinóide expressão do olhar), não quiseram receber o dinheiro. Já não falo das galinhas e dos ovos, e das nabiças e do casqueiro que os solícitos cidadãos levaram a Sua Ex/a, que o Solar de Belém não é uma cortelha qualquer, porra. Isso não! Mas o dinheirinho Sua Ex/a devia mandar aceitar, providenciando quantos alforges ou chapéus fossem necessários para recolher as dádivas. No fim do dia, poderia aparecer numa das janelas agradecendo ao povo (ambas as mãos içadas em estilo papal) por tão bondoso, patriótico e clemente (e molóide) gesto.

Não preciso pedir desculpas agora. Já o fiz no início.

  Post 812       (Imagem daqui)

8 de janeiro de 2012

Somos inabaláveis, praticamente eternos…

toiroQuando chegarmos ao fim do corrente ano, teremos a certeza total da nossa evidente indestrutibilidade - teremos subsistido à crise económico-financeira. Se não nos ocorrer uma camoeca de facto definitiva (como, por exemplo, a morte), teremos sobrevivido a um ataque que supúnhamos não deixar pedra sobre pedra. Mas sobreviveremos, vocês vão ver. Existem indícios e provas nada despiciendas da nossa invencibilidade. Vocês lembram-se do fascismo? E da democracia parlamentar? Ora bem, até agora, sobrevivemos a ambos. E do disco-sound? Quem imaginaria que poderíamos sair ilesos dele? E da música do João Pedro Pais? E das arengas de Sócrates? E do apanhar de cabelo de Pedro Passos Coelho? E da casa dos segredos? E…? E…? …

Não, nada mais nos pode molestar. Nem mesmo esses gerontófilos, comedores de velhinhos e das suas pelintríssimas reformas, nem os mercados, nem os mercadores e mercantilistas acéfalos que compram, vendem, alugam, trocam e revendem a força de trabalho, lavam dinheiro e se embebedam da infelicidade alheia.

Todos eles sucumbirão, eles e as suas bonifrateiras teorias económicas, o seu medonho servilismo à pata capitalista que tudo arrasa… Eles sucumbirão e nós permaneceremos imutáveis, embora aturdidos, como bois na arena depois de rabejados.

(Quem sabe, alguém desembola de vez os nossos cornos…)

    Post 811       (Imagem daqui)

7 de janeiro de 2012

Ouvido aqui e ali

medicoHaja saúde…

- Queixo-me dos pulmões, Sr. Dr.

- Bem, vamos fazer uma radiografia.

- O Sr. Dr. quer que eu tire o casaco?

- Não! Deixe ficar o casaco, por favor.

- Mas o Sr. Dr. não quer ver se eu tenho alguma coisa nos pulmões?!

- Primeiro, quero ver se tem alguma coisa na carteira. Se der positivo, veremos então se tem alguma coisa nos pulmões.

- Ah, mas eu não tenho a carteira no bolso do casaco. Tenho-a no bolso das calças.

- Já podia ter dito que afinal o seu problema é nas ancas...

     Post 810        (Imagem daqui)

6 de janeiro de 2012

povo que lavas no rio…

ze povinho 2O povo português é neoliberal e neo-estúpido.

Em primeiro lugar, fico obrigado a definir o que é o povo, já que se trata de um conceito muito elástico, Conceito-saco-de-sarapilheira, estica até o infinito, abarca quase tudo, desde o agricultor pobre ao assalariado miserável, do pequeno-burguês proletarizado ao profissional liberal sem crédito nem cliente, do comerciante atrapalhado ao padre-ide-em-paz, do professor-tá-bem-mas à prostituta-trinta-euros. Ecce lusum populum! E foi esse povo que, em todos os patamares votou neoliberalismo, em todas as barracas brandiu alaranjado pendão, em todos os andaimes clamou por Coelho. Tudo na esperança de uma enxerga mais mole, uma ração de aveia ou uma albarda nova.

O povo português é neoliberal e neo-burro. Meu bom povo, já estás de cilha e cabresto, dois grandes alforges te pendem do espinhaço. Já podes ir à bosta…

     Post 809