31 de março de 2007


Lentamente, vou descobrindo outros blogs de referência.
O “
abnoxio” é o último achado. Sinalizo-o a propósito deste texto sobre excursões de estudantes (e, acrescento eu, muitas das mais pacatas visitas de estudo).


O autor do "abnoxio" comenta, nesse texto, a imagem que vos colo aqui à direita, também ela retirada do mesmo blog:


30 de março de 2007

Políticas

Faz agora três anos, numa pequena cidade do interior, o meu ranhosíssimo utilitário foi assaltado. Rebentaram-no quase todo para extrair um rádio topo de miséria. Fiz queixa na GNR local e esqueci o incidente.
Ontem recebi um documento da GNR daquela cidade, informando que o assaltante tinha sido localizado e identificado. Inclusive, o documento indicava o nome completo do larápio. Na esperança de vir a ser parcialmente ressarcido, fui com esse papel à GNR que, no entanto, não me pôde adiantar nenhuma informação ulterior sobre o delinquente, devido à sua Política de Privacidade (dela, GNR). Remeti o papel ao bolso, agradeci muito e saí. Achei melhor não insistir. Política de Sobrevivência (minha, joão).

26 de março de 2007

Casal de jovens namorados (declaradamente hetero), num amasso tresloucado, no recreio de uma escola secundária:

Ele, ofegante, ao ouvido dela: "Está a tocar para dentro."

Ela, afastando-o: "Eu sei, mas agora não dá tempo. Temos que ir para a aula...

24 de março de 2007

O Prefixo do Ministro

Este é o país de todos os provincianismos caducos.
A polémica acerca de José Sócrates ser ou não ser engenheiro já ultrapassou uma semana.
O facto de ser engenheiro desculpabiliza-lhe as posições contra os trabalhadores? E o facto de não o ser agrava-lhes a índole? E as posições a favor dos trabalhadores (se alguma vez ele vier a tomá-las) serão perturbadas pelo facto de não o ser? E as posições contra os dominadores financeiros (se um dia as vier a haver) serão divinizadas ou satanizadas (consoante as classes que as comentem) tendo em conta a existência ou inexistência do prefixo do senhor Primeiro Ministro?
Ora façam o favor de ir dar uma volta ao bilhar grande. Não têm um trabalhito com que se entretenham?
Que tal apenas Primeiro-ministro José Sócrates, se querem, à fina força, atribuir-lhe (ou recusar-lhe) um prefixo?
Por que razão teria Sócrates que acumular?

21 de março de 2007

que viva o blog...

Não se pode, definitivamente, subestimar a blogosfera.
Por ela jorra diariamente um manancial de informação nunca antes suspeitado, uma torrente da melhor literatura que jamais se escreveu, o pulsar do pensamento mais livre que alguma vez se enunciou.
Contrariamente ao que aconteceu com outros produtos comunicacionais da era electrónica, como os chats, por exemplo, (que rapidamente foram usurpados por estratos sociais culturalmente menos interessantes), o blog parece ter nascido com uma outra ambição, um outro rumo, um outro paradigma, bem mais exigente e refinado.
Com um pouco de optimismo, é possível augurar para o blog um lugar de inusitado relevo na difusão e partilha de convicções livres de embaraços e de constrangimentos. E, sem necessidade de tanto optimismo, já é possível conferir que o blog está a alcançar a quase miragem de chamar de novo os jovens à leitura e, sobretudo, à produção de texto limpo, escorreito, organizado, criativo.
Que viva o blog e quem o entendeu.
Sexta-feira ao cair da tarde:
- A senhora está à espera de algum Director de Turma?
- Eu nao. Eu vim cá ver se a vossa cantina tem condições para o casamento da minha neta.


20 de março de 2007


está lá fora um inspector

parece que as escolas estão a ser avaliadas para depois serem escalonadas e posicionadas umas à frente outras atrás e outras obrigatoriamente no meio.
a ideia que eu tenho é que há uns indivíduos desconhecidos de todos excepto de alguns (que nestas coisas há sempre as honrosas excepções e a gente sempre fica atordoada quando descobre que um colega nosso que considerávamos um indivíduo normal está de paleio social semiformal com um inspector, vejam lá, entre o tu cá tu lá porreirista e a adulaçãozita pegajosa que se instalou de novo em tudo que é cu) que entram escola adentro sem cartão nem nada contam árvores e janelas, faltas e querelas, falam com os presidentes para saber dos profes e com os alunos para saber dos presidentes e com os auxiliares para saber de todos e mexem em actas e contam as palavras e dividem orações e dissecam planos de recuperação que recuperam (e também os que não recuperam nem o tempo perdido) e relatórios de apas e de compensações (quer compensem quer não) e telefonam para as esposas de panela no fogo ou para as amantes de fogo na panela a dizer que estão atrasados e elas guincham do outro lado que eu bem as ouço (a telemobilada que anda para aí agora faz um chinfrim que só ouvisto) e enfiam os pescoços cheios de bicos sorridentes (nunca ninguém viu rir um carrau, ou mesmo um alcatraz ou um pego?) nas frestas das salas de aula e perguntam ao prof o que ele está a fazer e perguntam aos alunos se aquilo é mesmo verdade, e os alunos vão logo passando a manga pela testa para limpar o suor (que esta técnica persuasora e convincente foi a primeira que eles aprenderam e a única coisa que aprenderam realmente) você é de quê? é como a minha professora, aquela ali? ah prontos desculpe lá tar a perguntar se calhar não devia mas vi-o aí sem fazer nada @cetera @cetera @cetera.
amanhã vou fazer endoscopia respiratória e tinha que berrar isto antes.

17 de março de 2007

"Se Deus fosse vivo teria um site na Internet"

"DOT.COM, uma deliciosa comédia de Luís Galvão Teles. A história de Águas Altas, uma pequena aldeia no interior de Portugal que subitamente se torna num caso nacional quando uma multinacional espanhola pressiona os aldeões para fechar o site da aldeia, precisamente o mesmo nome de uma marca de águas que os espanhóis querem lançar no mercado. A partir daí gera-se uma grande divisão na aldeia: há quem queira manter o site para garantir a soberania nacional, mas há também quem queira tirar partido de uma possível compensação financeira. Num abrir e fechar de olhos, a imprensa instala-se em Águas Altas para cobrir este caso que apaixonará Portugal."
(In rtp.pt antena 1)
Let's look at a treila
Aqui

16 de março de 2007

Hoje deu-me pra isto (ou o regresso à barrica)

Quero sair do ensino. Não sirvo mais para isto.
Curem-me de todas as maleitas que aqui apanhei, dêem-me uma barrica voltada ao sol e eu fico lá dentro, escarrapachado, quedo, a espreitar, indiferente, como segue a Educação em Portugal. Prometo ficar a ver, sem adormecer, mau grado o sol nas ventas, o desfilar atribulado das reformas, dos reformadores e reformistas, revisores e revisionistas, mas sem ter de intervir, pactuar, objectar, corrigir.
Dêem-me um prato de caldo ao cair da tarde e a dignidade de um anacoreta.

Ao diabo os vossos prémios ignóbeis e o divisionismo impudente que criastes entre nós, que eu quero sair de vós, fugir de vós, cair, amochar, subjazer-me.
Quero livrar-me deste insustentável grilhão que me prendeu trinta anos à perna de uma mesa, olhar aparvoado, recebendo migalhas e sonhando terras prometidas que nunca me foram doadas.

Quero que o ensino saia de mim, me esqueça, e leve com ele todos os penachos ridículos de que hoje se enfeita…

(Mas se um dia nele reentrar a seriedade, que alguém me diga “volta, há que fazer”).

11 de março de 2007

Bom, mas vesgo...

Rui Cerdeira Branco escreve hoje no Adufe um artigo tão invulgar como perturbador. Trata-se de mais uma visão do Big Brother que as nossas sociedades actuais instauram sistematicamente, como recurso para tentar sobreviver a todos os terrorismos. E são muitos: há os que se escondem nas montanhas da Pérsia, das Arábias ou das Espanhas, e há os que se escondem nas cabeças bem pensantes dos governantes do mundo. Há os grandes terrorismos civilizacionais e os pequenos terrorismos que governos caseiros impõem, quotidianamente, aos seus súbditos, em nome de um terrorismo tão vasto que dificilmente pode ser visto.
Remeto-vos para o texto do Adufe, “
Big Brother: Confessa-te, ou Não te Damos um Passaporte” que me pareceu excelente e terrivelmente oportuno, mas não sem antes opinar sobre o Big Brother cá do burgo: não é um monstro mau, mas deve ser vesgo.

10 de março de 2007

- Tenho a certeza de que vou tirar uma boa nota nesta composição.
- Porquê?
- Porque escrevi "a desgraça abateu-se sobre ele" e as professoras adoram isto.

(In "Abrupto")

Ou bica ou sesta - agora escolhe!

Para além de mulheres e de fruta fresca, as duas coisas seguintes que mais amo na vida são a bica e a sesta. Porém, se, teoricamente, (e só teoricamente, como se explicará mais adiante) posso desfrutar, em simultâneo, das duas primeiras, as duas últimas manifestam-se incompatíveis no meu organismo: a bica anula qualquer hipótese de sesta (ainda que os nossos actuais patrões ma permitissem), e a sesta obriga-me a ter de passar sem bica.
Terrível condição esta, num momento em que as mulheres rareiam por causa da minha idade e a fruta fresca rareia por causa da lástima a que chegou a pobre agricultura nacional.

À espera da Síntese prometida

E lá voltei a vasculhar velhos livros, sábios livros, à procura de uma explicação para o facto de, aparentemente, todos estarmos a aceitar este tempo que vivemos, como se, passadas e vencidas que foram outras perspectivas, mais não nos sobrasse a não ser ISTO. E tropecei na celebrada carta de Marx a Annenkov (outrora tão vivamente solenizada como o Manifesto ou o Capital, e hoje liminarmente proscrita):

“Na verdade, ele (Proudhon) faz o que todos os bons burgueses fazem. Todos eles nos dizem que a concorrência, o monopólio, etc., em princípio (isto é, tomados como pensamentos abstractos) são os únicos fundamentos da vida (…). Todos eles querem a concorrência, mas sem as suas funestas consequências. Todos querem as condições da vida burguesa sem as consequências necessárias dessas condições. Nenhum deles compreende que a forma capitalista de produção é uma forma histórica e transitória, tal como o foi também a forma feudal. Este erro vem do facto de, para eles, o homem burguês ser a única base possível da sociedade, de não conseguirem imaginar um estado da sociedade no qual o homem deixasse de ser burguês.”

Provavelmente haverá, algures, uma vida mais feliz e emocionante para pobres e remediados, sem as imposições e os constrangimentos dos três por cento, nem mesmo de quatro ou de vinte e quatro. Não sei onde. Mas acredito que esteja na Síntese que, historicamente, ainda não passou por aqui.

4 de março de 2007

Este parte, aquele parte...


Em 1976 e anos seguintes, foram colocados no sistema de ensino professores sem habilitação própria para a docência. Tinham o que se chamava então "habilitação suficiente". O estado, nesse tempo, resolvera democratizar e massificar o ensino. Esses professores permaneceram no sistema porque eram úteis. Muitos deles, apesar de não terem concluído os seus cursos ( e devo aqui acrescentar que o não fizeram porque, de facto, se entregaram ao ensino de alma e coração) mostraram ser responsáveis e sérios, e a enorme maioria deles criou um rasto de competência ao longo do seu magistério de trinta anos. Até que um dia, o que era suficiente deixou de o ser e o mesmo estado, servido agora por outras pessoas e por outras sensibilidades, resolveu expulsá-los, por imprestáveis.

Enfim...tendências, opções, o barómetro dos tempos.