31 de janeiro de 2009

E agora, Ary?

ary O voto é a arma do povo?  (Se votas, ficas, portanto,  desarmado?)  A arma é o voto do povo? Armamo-nos em parvos e votamos? Desarmamo-nos, idiotas, e não votamos?  Mudamos? Não mudamos? Fugimos? Vamos? Rimos?  Ai o mal deste sal, ai o fel deste mel… 

A sério: votamos em quem? (Haja Deus…  e videntes das estrelas.)

(Imagem daqui)

Minudências minhas (4)

figo pingo mel O figo

O Figo que me perdoe, mas este é muito melhor. Na casa da minha infância havia uma figueira pingo de mel. Quando desapareceu, nunca mais encontrei essa delícia em lugar nenhum. Ninguém mais tinha, não se vendia. Só sucedâneos. Comprei uma figueira que me foi apresentada como sendo pingo de mel. Não era. Era uma coisa remotamente parecida. E ficou uma saudade pungente de uma exultação irremediavelmente perdida. Finalmente, encontrei na Web esta foto saborosa. Depois de tantos anos, achei alguma coisa que me reconstruiu a esperança: parece que o figo pingo de mel ainda é vivo. A alegria pode ser um figo pingo de mel. Vários, num cabaz, a felicidade suprema…

(Imagem daqui)

26 de janeiro de 2009

ouvido aqui e ali

ministra “Quero felicitá-la, Senhora Ministra, por tudo o que conseguiu, e dizer-lhe que foi um gosto trabalhar consigo.”

Foi exactamente isto que disse o Primeiro Ministro, agora mesmo, na RTP 1, dirigindo-se a Maria de Lurdes Rodrigues.

Essa agora! FOI?! No passado?! Então é mesmo verdade? Sócrates demitiu a Ministra da Educação? Ou demitiu-se ele próprio? Se assim não fosse, ele teria usado “tem sido um gosto trabalhar consigo”, a menos que não saiba construir o Presente Perfeito (o Pretérito Perfeito Composto).

(Imagem daqui)

a palavra dos outros

livro “O mal destas reformas tem a ver com a falta de ideias de obra e a ausência de manifestações de comunhão, só mobilizáveis pela gestão motivacional do bem comum. E a crise espiritual resulta da invasão  dos tecnocratas, dos tais educacionólogos e avaliólogos, uma fauna ornitológica que está a destruir tanto a educação nacional como a própria instrução pública, em nome de uma nebulosa reforma pela reforma que não passa de mera tradução em calão de reformas estranhas à nossa índole e à nossa experimentação. Umas traduções em calão que nem sequer são dignas daqueles antigos estrangeirados do verdadeiro método de estudar, ou da "ratio studiorum" dos jesuítas, dos que souberam nacionalizar tendências importadas.”    (Sublinhados meus)

José Adelino Maltez in Sobre o tempo que passa

Texto integral aqui

(Imagem daqui)

Curso-me, mestro-me e doutoro-me em…

tasca Estive a ler uns curricula de professores que são deputados socialistas e que, na passada sexta-feira, se submeteram, obviamente, à disciplina de voto socratina. Digo “obviamente”, porque ninguém é néscio o suficiente para deitar tachos a perder de modo tão gratuito…

Um deles é licenciado em Física. Muito bem. Tiraria o chapéu se, por acaso usasse um. Mas depois acrescenta logo “ramo de ensino”. Aí piorou exponencialmente. Finalmente, o mesmo professor acrescenta ainda uma pós-graduação em Supervisão e Orientação da Prática Profissional. Aí fodeu tudo! Soa-me ao típico curso de quem aspira a capataz e pretende aprender a lixar os outros, convencendo-os sempre de que os quer ajudar. Este deputado socialista é professor do 3º ciclo e do ensino superior! Maravilha! Pasmo! Nem mais! É do terceiro ciclo e do superior, tudo junto e ao mesmo tempo. Na boa…

Outra é licenciada em marketing. E esta? Para que camandro servirá uma licenciatura destas? E onde se tiram estas coisas? Não haverá por aí uma licenciatura em caixeiro-viajante? Ai há? Bem me queria parecer…

Um terceiro professor deputado é licenciado em Educação e Animação Comunitária. Juro, é isso mesmo que lá está. Em meu entender, uma licenciatura em Animação Comunitária aproxima-se vertiginosamente de uma licenciatura em Sexo Grupal. Ah, é a mesma coisa? Não? Ah, existem ambas! Entendi.

(Pena que aquele que se doutorou há dias em Cabra do Gerês não seja deputado socialista.)

(Imagem daqui)

25 de janeiro de 2009

a palavra dos outros

Só para vos mostrar mais uma vez os golpes de génio e de ternura que se vão publicando no Brasil. Encontrei este poema de Ferreira Gullar, no Poetas do Tietê.

rio-de-janeiro meu pai foi
ao Rio se tratar de
um câncer (que
o mataria) mas
perdeu os óculos
na viagem


quando lhe levei
os óculos novos
comprados na Ótica
Fluminense ele
examinou o estojo com
o nome da loja dobrou
a nota de compra guardou-a
no bolso e falou:
quero ver
agora qual é o
sacana que vai dizer
que eu nunca estive
no Rio de Janeiro
                
          (Imagem do blog)

24 de janeiro de 2009

O que restava da dignidade…

P-FloralPeaceSign-Large-Tratated ...foi-se na sexta-feira

Ontem, sexta-feira, milhares de professores entregaram, às escondidas, envergonhada e vergonhosamente, os seus (?) objectivos individuais. Executivos respiraram de alívio. A luta sofreu um golpe traiçoeiro. A dignidade morreu. Paz à sua alma…

(Imagem daqui)

23 de janeiro de 2009

Uma retractação

perdao Escrevi aqui uma inverdade. Fui traído pela leitura de vários sucedâneos do texto original do artigo 12º do Dec Reg. 1-A/ 2009, proveniente do Ministério da Educação. O texto original é, de facto, claro quanto às implicações decorrentes do pedido de dispensa da avaliação. O texto diz que ficam dispensados da avaliação de desempenho, no ano lectivo de 2008/2009, os professores que em 2010/2011 reunirem as condições para pedir reforma ou que requeiram reforma antecipada, nos termos da lei. Em vários documentos, de procedências várias, que considerei fidedignas, lia-se algo como: “ficam dispensados da avaliação de desempenho, no ano lectivo de 2008/2009, os professores que, em 2010/2011 reúnam condições de pedir reforma ou reforma antecipada, nos termos da lei”. São, obviamente, coisas diferentes. Aos que, ainda que involuntariamente, enganei, aqui endereço os meus pedidos de desculpa. E aos conselhos executivos de muitas escolas, a quem, neste texto, critiquei a devolução dos requerimentos, reconheço a razão que lhes assistiu.

(Imagem daqui)

21 de janeiro de 2009

Quarta-feira gloriosa

OdeteSantos01 Odete Santos visitou-nos hoje. Deliciosamente inteligente mas sem nenhum arremedo intelectual, extremamente lúcida no seu anacronismo ideológico e muito constipada, mostrou-nos a todos como é essa nobre arte de simplesmente deixar fluir o cérebro e o coração. Falo de falar, é claro. Calma e compassada, as palavras saíam-lhe fáceis e poderosas. Achei-a, no entanto, triste, apesar do seu humor translúcido de uma subtileza crua. Emocionou-se um pouco com a presença de vários alunos que lhe endereçaram perguntas bastante consistentes. Vislumbrei-a mais tarde em dois momentos, em situações de humildade extrema: um primeiro momento em que me cumprimentou entre tímida e resignada e um segundo em que parecia esperar por algo ou alguém, sentada num caixote, no átrio da escola.

Como aprendi hoje! Sem formalismos impertinentes, sem imposições protocolares, sem avaliação de resultados. Só ouvir, pensar, saborear, sorrir, crescer por dentro…

(Imagem daqui)

19 de janeiro de 2009

a palavra dos outros

comadres Regresso agora ao “Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos” para vos mostrar este excelente texto que nos garante que Manuela Ferreira Leite não é alternativa a José Sócrates. Não podia estar mais de acordo e acrescento: Paulo Portas também não é alternativa, nem Jerónimo de Sousa, nem Francisco Louçã. Nem Sócrates é alternativa a ele próprio.

(Imagem daqui – As cinco comadres)

18 de janeiro de 2009

Para que servirão as faculdades?

diploma Está a passar neste momento na TVI um programa sobre profissionais sem canudo. Desde professores a médicos, passando por padres e engenheiros, todos têm em comum o facto de nunca terem andado numa faculdade ou, pelo menos, de nunca terem tirado um canudo, nem mesmo um canudinho. Também têm todos em comum o facto de terem sido competentíssimos nas suas profissões, até serem caçados pelo sistema que os julgou, condenou e proibiu de exercerem as respectivas profissões: o médico, depois de tratar milhares de doentes tão bem quanto o fazem os diplomados, foi suspenso; o professor, considerado excelente por quase todos os estudantes e pelos notórios resultados que obteve, foi obrigado a abandonar o ensino; o padre, orador excelente, camarada excelente e excelente servo de Deus, viu impugnados todos os casamentos que realizou. Só o engenheiro é que teve mais sorte. Conta-se que foi desterrado para um país (zeco) do terceiro mundo, onde se tornou o melhor primeiro-ministro de que há memória. Pelo menos ele acha isso…

(Imagem daqui)

17 de janeiro de 2009

Há um novo embaraço?

A batalha pode estar a mudar de campo, de paradigma. Deixou de ser simplesmente uma batalha entre a Ministra da Educação e a “classe” docente. A luta agora é entre a ética e o oportunismo, entre a dignidade e a baixeza. Temos, portanto, alinhados de um lado do campo os professores que permanecem baluartes indefectíveis da honra e da hbattleombridade, e do outro os vendilhões que aparentam companheirismo mas que, no seu mudo rastejar, entregam objectivos e, à cautela, já requereram aulas assistidas, porque a vida e o futuro, sabem-no eles muito bem, está do lado dos gabirus. O maior inimigo da justa luta dos professores nasce, pois, debaixo dos seus próprios pés, no âmago das suas fileiras. São os que, silentes como bufas, envoltos na poeira dissimuladora, não ousam já erguer os olhos para os que ainda se conservam verticais. Um arremedo de vergonha intimidou-os, mas arrastam-se até onde sabem encontrar os poderes que lhes premiarão a cobardia.

(Imagem daqui)

Já estarei mumificado?!!!

mumia Estou a ouvir o Portas na Antena 1. Tendo eu sido um dos soldados do 25 de Abril, tendo adquirido, nos inícios de 70, uma consciência política anti-fascista e anti-capitalista, tendo, definitivamente, pendido para o lado dos fracos e oprimidos, deveria agora, liminarmente, rejeitar todas as palavras desse esquisito líder do CDS. Mas, caramba! Por mais que me doa, tenho que reconhecer que, até este momento (14H05), não encontrei uma única ideia refutável ou condenável no discurso do centrista da direita. Estarei a ficar velho? Estarei a ficar cansado? Estarei a ficar idiota? Estarei a ficar surdo? Imbecil? Néscio? Mentecapto? Ou estará o CDS muito mais revolucionário que o partido de Sócrates?

Façam-me calar já, por favor. Lancem mão de mordaças e de esbirros, mas não me deixem continuar a escrever. Ainda acabaria por dizer que a minha esquerda não conseguiu falar tão certo… Embrulhem-me em gazes e façam de mim a múmia mais obtusa da civilização…

(Imagem daqui)

16 de janeiro de 2009

Ver o que lá não está?

camisa avalia Os mais velhos, os que acharam que saltariam fora do processo de avaliação, os que sonharam que aquela carroça não era mais sua, enganaram-se outra vez. De facto, o artigo 12º do Decreto Regulamentar nº1-A/2008 de 5 de Janeiro, dispensa-os, claramente, da avaliação do desempenho no corrente ano lectivo. No entanto, alguns conselhos executivos terão recebido instruções (ou recomendações) no sentido de indeferir todos os requerimentos abrigados por aquele documento. Consta-se que o indeferimento se deve a uma interpretação visionária do dito decreto regulamentar, segundo a qual os professores em condições de pedir reforma, ou reforma antecipada, ficariam vinculados à obrigatoriedade de a pedir, de facto, no decurso do ano lectivo de 2010/2011. Ninguém conseguiu ver isso no articulado do 1-A/2008 proveniente dos serviços centrais. Mas alguns conselhos executivos conseguiram. Isso e outras coisas mais.

(Está claro como água: ver de mais não é bom para a saúde. Pelo menos para a minha…)

(Imagem daqui)

12 de janeiro de 2009

Um soldado nunca recua...

asterix ...dá meia volta e avança em frente

Paulo Guinote diz-nos aqui e aqui que não advirão reveses de natureza disciplinar para os professores que não entreguem os seus objectivos individuais. Por maioria de razão, não advirão castigos (para além de não se poder guindar ao Muito Bom ou ao Excelente) a quem não requisitar aulas assistidas. E neste ponto as opiniões dividem-se: uns acham que todos deveríamos requerer esse item da avaliação, pois isso emperraria mais ainda o emperrado e torto processo de avaliação; outros, pelo contrário, sustentam que ninguém deveria requisitá-lo, o que, embora fazendo o jogo do ministério (e indo, portanto, ao encontro de uma das mais queridas expectativas da tutela), injectaria uma nova noção de dignidade e honradez em todo o processo e daria a mais definitiva lição, a “ultimate lesson”, a quem sempre achou estar a dar lições aos professores.

Assim ou assado, mais cru ou menos cozido, a tutela acabou por dispensar da avaliação os professores mais velhos e cansados. E muitos destes estão a voltar as costas à luta que até agora encabeçaram, uma vez que ela deixou, por momentos, de lhes dizer respeito. Quem poderia levar-lhes isso a mal? Do mesmo modo, não se poderá levar a mal o facto de, já há muito, decorrerem nas escolas, por baixo dos panos, indecorosas negociatas para determinar, de um modo mais ou menos apriorístico, quem irá preencher as quotas para Excelente e Muito Bom. São humanos, não são?

(Ils sont fous ces humains...)

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11 de janeiro de 2009

repescando tralices

relogio_contratempo3 Hoje trago-vos este. Chama-se "Não direi isto duas vezes". Na altura em que o escrevi, 15/11/2007, achei que não voltaria a abordar o assunto. Não imaginava então que me enganaria tanto...

7 de janeiro de 2009

Minudências minhas (3)

odio O ódio

Se eu quisesse escrevia coisas como estas. Mas não quero, porque não querer é não poder. Ele escreve assim, espraia-se nos sentimentos e não sabe dizer mal da vida. Está de bem com ela e refinadamente se lhe declara em cada post. Eu não. Eu fui incumbido da parte destrutiva. É-me mais fácil odiar que amar. Olho para as coisas que saltam à vista como despudoradas náuseas e arrefeço vomitando diatribes torpes.

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“Muito além da sala de aula…”

gestao escolar (pois… 750 euros mais além…)

Por que será que um director de uma escola secundária vai receber um suplemento salarial da ordem dos 750 euros mensais? Será que o legislador acha que ser director de uma escola é um cargo mais difícil, ou que dá mais trabalho ou que envolve maiores responsabilidades do que enfrentar diariamente várias turmas de alunos, especialmente dos que hoje se passeiam pelas nossas escolas secundárias, ganindo, bocejando, vociferando e apalpando-se freneticamente pelos cantos? Por que razão o trabalho burocrático de gestão tem que ser mais conceituado e muito mais bem pago que o trabalho lectivo? Será que é porque acham que uma escola não funciona sem um capataz? Será que, finalmente, alguém resolveu exportar também para as escolas a podridão que há muito vem reinando fora delas? Ou será que a atribuição deste suplemento absurdo vai servir para compensar os reveses que os directores vierem a sofrer quando forem enquadrados judicialmente por gestão danosa? Se assim for está tudo explicado, mas o caso, a acontecer, não deixaria de primar pela originalidade…

Claro, a escola secundária não é mais nem é menos que a envolvente sociedade civil. Como raio poderia ficar isenta de tal contaminação?

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Os telefonemas do futuro...

TELEMOvel - É o Senhor Director? Desculpe incomodar mas, como sabe, estamos no início do novo ano lectivo. Deve ser o tempo de fazer as turmas e distribuir o serviço lectivo e essas coisas todas. Seria pedir demais se eu lhe dissesse que gostaria que o meu miúdo este ano tivesse, se possível, professores classificados com Excelente e Muito Bom? … Sim, eu sei que os outros também têm direito à vida, mas eu acho que, se é para ter professores maus, as propinas devem baixar. Uma coisa é pagar propinas para ter professores qualificados de Excelente e Muito Bom. Outra coisa é ter que levar com um professorzeco avaliado com Bom, que deve ser de uma incompetência absoluta. Sabe do que estou a falar, não sabe? O ano passado o meu miúdo só teve dois professores avaliados com Muito bom. O resto era refugo… Nós achamos que devemos ser compensados este ano. Pense com carinho. Saberei agradecer... prazer em ouvi-lo, Senhor Director.

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4 de janeiro de 2009

Blogosfera sempre…

blogosfera Sei que os diálogos de Ana Téjo com o filhote pré-adolescente ultrapassam, de longe, os textos da “Gente de Palmo e Meio” de Augusto Gil. E que os posts do Dragão são muito melhores que os textos de Eça de Queirós. E que Adelino Maltez sabe explicar a história e a política melhor que qualquer Joaquim Pedro de Oliveira Martins. E que entre Odete Ferreira e Sophia de Mello Breyner, prefiro a primeira. É por isso que continuo a pensar que, na blogosfera, estão (e espero continuem) os melhores escritores a que posso aceder. E, virtude das virtudes, completamente à borla. À borla até o dia em que estes e muitos outros bloggers de qualidade se lembrem de reunir uns cobres à custa dos seus talentos, até agora graciosamente distribuídos por todos nós. Nesse dia voltarei aos clássicos e a Humanidade descerá mais um ponto na minha consideração…

(Imagem daqui)