28 de dezembro de 2012

as palavras dos outros

“Guia Politicamente Incorrecto da História do Brasil”

Tadashi, um anti-marxista feroz, fala do livro “Guia Politicamente Incorrecto da História do Brasil”, de Leandro Narloch. Acrescenta-lhe um video inflamado sobre a eventual mistificação marxista da História sul-americana. Seguindo a trilha do blogue e do vídeo, descobriremos uma tendência generalizada para reescrever a História sul-americana, numa perspectiva isenta de ideologia marxista que, segundo o autor, terá infestado todo o factualismo da História brasileira. Para ler AQUI:

     Post 873       (Imagem daqui)

21 de dezembro de 2012

Acompanhando o fim do mundo (mas de longe)

Não sei se vamos ter fim do mundo, mas pelo menos o fim de semana já aí está. E onde há fumo, há fogo. Hoje, o meu fim do mundo começou como o meu fim-de-semana – a tomar o pequeno-almoço na cama. Não pensem que costumo tomar o pequeno-almoço na cama. Na verdade, nem costumo tomar pequeno-almoço. Esse luxo estava a levar-me a uma descapitalização sem retorno. Não, as nossas mulheres servem-nos o pequeno-almoço na cama apenas quando suspeitam que poderá ser o último, sobretudo por nossa parte. Foi o caso. E sabem que mais? Acho que isso é o fim do mundo. Não precisamos de outro para o escândalo ficar completo.

De facto, as nossas mulheres deveriam trazer-nos o pequeno-almoço mais vezes, mesmo nos dias em que o mundo não acaba. Lembram-se do que elas disseram quando nos casámos? Isso mesmo, “amar e respeitar o marido com pequeno almoço na cama, na saúde e na doença, até que a morte nos separe”. Suspeito fortemente de que deve ter sido esta última frase que inspirou a minha companheira a trazer-me hoje, e terminantemente hoje, o pequeno-almoço à cama.

A minha saborosa vingança sobre o fim do mundo é que tomei o pequeno-almoço na cama e o dito ainda não acabou. Mesmo que ainda acabe, pois ainda são só 13 horas, já me terá dado tempo de fazer a digestão. E dei comigo a pensar que a felicidade é isto: tapearmos os processos degenerativos. Eles estão aí, certamente vencer-nos-ão no final, pelo cansaço, mas serão sempre contrariados com adiamentos inoportunos. Sabemos que o fim virá. O nosso gozo é sabermos que ele quer acontecer hoje e que a nossa esperteza e criatividade o adiam sistematicamente para amanhã, depois do fim do mundo…

Descobriram peritos cá de casa que o calendário Maia pode ter sido erroneamente interpretado. Por uma qualquer desatenção ou ignorância matemática o dia do juízo vai ser em vinte e dois do dois de dois mil duzentos e vinte e dois. Ou, melhor ainda, será no dia vinte e dois de vinte e dois de dois mil duzentos e vinte e dois, na medida em que, por essa altura, o calendário Maia, e também o Gregoriano, terão 24 meses por ano. Isto, apesar de nós, os portugueses, continuarmos a receber apenas doze. Os que continuarem, está claro.

      Post 82            (Imagem daqui)

18 de dezembro de 2012

repescando tralices

Esta tem mais de cinco anos. Data de Novembre de 2007 e dava conta de uma das primeiras reuniões sobre avaliação docente a que, obviamente, o meu amigo R.C. e eu faltámos descaradamente. O R.C. estava em casa a corrigir testes; eu (j.m) estava na sala de professores a tratar do mesmo assunto. A conversa, através do Messenger, correu exactamente do modo como segue. O post foi um dos mais fáceis. Tratou-se apenas de colar no blog o diálogo do Messenger que agora vos ofereço de novo.

TEATRO BLOGOSFÉRICO - A Falta


[17:03:02] j.m. diz :
Acho que vamos ter falta à sessão de informação sobre avaliação do desempenho…
[17:03:44] R.C. diz :
Tu que dizes?!!!
[17:07:27] j.m. diz :
Estão-me a pedir para ir lá assinar o papel.
[17:07:43] R.C. diz :
Qual papel???!!!!
[17:08:04] j.m. diz :
O papel das presenças.
[17:08:22] R.C. diz :
Estão a marcar faltas, é?
[17:08:43] j.m. diz :
É, deve ser isso.
[17:09:17] R.C. diz :
Estou em casa a trabalhar prá escola. Se me marcam aí falta, paro já!!!
[17:10:30] j.m. diz :
Pois, eu não quero ser chato, mas a F. M. acabou de me dizer que há lá uma folha de presenças.
[17:11:04] R.C. diz :
O que não quer dizer que marquem falta... Se a folha fosse de faltas, podíamos ter falta... mas como é de presenças, não há-de haver azar.
[17:11:10] R.C. diz :
Pois... eu tb penso assim. Os que assinarem têm uma presença e os outros não...
[17:11:20] R.C. diz :
Tal e qual!
[17:11:25] j.m. diz :
Mas olha lá! Será que não ter presença não vai equivaler a ter uma falta?!
[17:11:50] R.C. diz :
Nada disso. Presença é uma coisa, falta é outra, porra!!
[17:12:04] j.m. diz :
Tb penso assim... Mas, se não é para distinguir os que foram daqueles que não foram, para que raio têm lá um papel de presenças?
[17:12:10] R.C. diz :
Para se saber quem lá esteve e não quem faltou, ora essa…
[17:13:04] j.m. diz :
E como se distingue um tipo que esteve lá de um que não esteve, a não ser pela falta?
[17:13:18] R.C. diz :
És burro ou quê? Distingue-se pela presença, é claro.
[17:14:03] R.C. diz :
Ainda aí estás ou já foste assinar o papel?
[17:14:17] j.m. diz :
Mas qual papel? O das faltas ou o das presenças?
[17:15:01] R.C. diz :
O das presenças, meu pequeno lorpa.
[17:15:20] j.m. diz :
Eu faltei, não posso assinar o papel das presenças.
[17:15:40] R.C. diz :
Assina o das faltas, porra!
[17:16:00] j.m. diz :
Se eu assinar o papel das faltas, posso ter falta, ora.
[17:16:12] R.C. diz :
Olha lá, meu parvo! Tu não estiveste na Escola até às quatro horas?!
[17:16:55] j.m. diz :
Estive. Ainda estou. Estou aqui no Ninho das Víboras...
[17:17:10] R.C. diz :
Então, assina só meia assinatura. Mas assina.
[17:17:58] j.m. diz :
Ah é? E depois? Vou ter meia falta, não?
[17:18:50] R.C. diz :
Pois, mas também ficas com meia presença. Não se pode ter tudo. Isto não é o da Joana…

12 de dezembro de 2012

Apesar de já ter dois anos…

… este relatório ainda pode ser comentado deste modo:

Após a leitura do quadro que Paulo Guinote nos apresenta, resolvi também botar faladura sobre o mesmo tópico, do modo como segue:

Obviamente, estamos a trabalhar demais.  Na medida em que os nossos resultados (dizem) são piores do que os resultados dos professores que trabalham menos horas por ano do que nós, isto é, a quase totalidade dos países da OCDE, facilmente podemos inferir que estamos a trabalhar demais e demasiado mal, isto é, que as nossas aulas são todas uma enormíssima bosta (com perdão da palavra aos mais sensíveis). Nem sequer se safam aqueles arrogantes que para aqui há, que acham que dão as melhores aulas da OCDE e mesmo, sem grande favor, do universo. Somos, evidentemente, uma cambada de burros e incompetentes que passamos o tempo a puxar uma carroça cujas rodas estão pregadas ao chão... 

E por aí continuaremos, a menos que alguém algum dia resolva atribuir parte das culpas do que somos aos nossos alunos incompetentes, mimadíssimos e astronomicamente mal formados. São estes alunos incompetentes e mal formados que praticamente não existem, por exemplo, na Dinamarca, onde os professores trabalham metade de nós (364 horas anuais de serviço lectivo, contra as nossas 752), obtendo resultados bem mais atraentes. Mas, é claro, professor Dinamarquês deve ser o supra-sumo da competência educacional...

Acho que lá virá um dia em que a cambada que nos governou, governa e governará porá os pontos nos ii, reconheça o verdadeiro mérito que todos nós temos e peça desculpa aos professores por tê-los transformado numa classe de pedintes e lhes ter roubado toda a dignidade, transformando-os numa massa inerte e acrítica, cheia de medos e de paranóias. Mas isto não acontecerá no meu tempo. Nem mesmo no vosso tempo, caros jovens. Descansai.  (Sentados).

     Post  871          (Imagem daqui)

10 de dezembro de 2012

duzentos anos de uma chalaça chamada democracia…

330_cartoon_iranian_democracy_small_overVivemos hoje um novo encolhimento democrático. (Já repararam neste começo? Com um começo destes, o post fica praticamente resolvido). Não tenho certeza se todos nós o vivemos. Eu, pelo menos, vivo. Queria poder vestir jeans de cu caído, mas não á para a minha idade. Queria beber uns copos com os amigos, mas não é para a minha saúde. Queria dizer umas coisas a um monte de gente, mas não é para a minha posição. Queria uma tarde de maluqueira, mas não é para a minha carteira.

Há 200 anos que a civilização ocidental persiste no conceito de democracia como forma de governo que espelha a sociedade, i.e., o povo. Ora, o povo é um dos conceitos mais abstractos que se pode imaginar (tão abstracto quanto elástico) e, portanto, o regime democrático é a governação abstracta da própria elasticidade. A democracia é hoje uma forma simplista de governação: o povo é que decide. Sim, certamente o pooooooovo decide. Mas então e eu? Se sou povo, porque é que eu não decido nada? Nem sequer decido o que quero almoçar. O médico decide o que devo almoçar e a minha mulher decide o que eu almoço. Estarei porventura a decidir alguma coisa quando coloco um voto na urna? Claro que não. O máximo que eu estou a fazer é uma escolha. E, até hoje, sempre péssima.

Senão, vejamos. Colocam-me à frente dois indivíduos. Um deles é jovem e parvo e o outro é velho e parvo. Vou às urnas e escolho o velho que, apesar de ser parvo, é mais parecido comigo, pelo facto de ser velho, já que parvo também o outro o é. Imaginemos que ganha o velho parvo. Este, obviamente, começa logo a fazer parvoíces. Aí, eu fico com a certeza de que escolhi o melhor candidato, visto que tem menos tempo pela frente para fazer parvoíces.

Suponhamos agora que é o jovem parvo que ganha as eleições. Como votei no velho parvo, não me sinto responsável pelas parvoíces deste governo. A democracia é, de facto, um regime generoso. Qualquer que seja a tua escolha, a bondosa democracia te absolverá, e o mesmo fará em relação aos escolhidos, quer sejam apenas parvos quer acumulem doses generosas de mafiosa corrupção.

E assim, acabo por aceitar a escolha dos outros. Na minha cabeça vai estabelecer-se um argumento decisivo: tenho que reconhecer que este jovem parvo vai produzir as suas parvoíces muito mais lentamente do que o velho parvo o faria, uma vez que tem mais tempo para as produzir. Serão, portanto, parvoíces de melhor qualidade, mais planificadas e reflectidas. Há toda uma possibilidade de ele construir um sistema totalmente parvo, em que todas as parvoíces fazem parte de uma superestrutura sistémica da mais elaborada e requintada parvoíce. E quando a parvoíce se torna sistémica, deixamos de a perceber como tal. E eis um estado muito próximo do paroxismo da felicidade.

(Eu não disse que tínhamos chegado a este ponto, nem me referi ao presente governo nem a este vilipendiado país. Estava a falar em conceitos abstractos… e elásticos. Vocês é que têm a mania de ficar fabricando concretismos para vestir as abstracções mentais que formulo…)

     Post 870         (Imagem daqui)

7 de dezembro de 2012

Todos os pulhas para a rua! Já.

Também na escola pública a pressão aumenta. A escola pública poderá, a breve trecho, ser uma lembrança fugidia. Todos sabemos hoje como se consegue produzir um aluno mais barato. Entrega-se o ensino a um capitalista que escraviza os assalariados com ordenados de miséria e trabalho praticamente impraticável. Quando o professor rebenta pelas costuras, é mandado embora. Este será, certamente, o futuro da escola pública.

Porém, mesmo não o sendo exactamente assim, mesmo permanecendo ainda sob tutela ministerial, em breve ela recorrerá às mesmas estratégias, ao mesmo humilhante esclavagismo. Os primeiros passos nesta aviltante caminhada já foram há muito encetados. A escola pública desarticulou-se, as escolas viraram empresas, sacrificando todos os seus trabalhadores ao ranking nacional. As “melhores” têm bónus e os “melhores” professores têm prémios e reconhecimento oficial e aperto de mão da comandita imprestável que nos governou, que nos governa e nos governará para sempre. A escola pública afunda na sua estupidez sumária, nas suas emplumadas serpentes, nos seus galaricos de ouro, nos seus penachos de araras e de pavões… E depois, verificado o quanto ela se tornou improfícua devido à canalha que nela se tem vindo a abotoar, os governos entregam-na à iniciativa privada que compra carros topo de gama e condena os subalternizados professores à miséria e à doença mental.

Vivemos num país onde são tão brandos os costumes como é fácil a devassidão, a imoralidade, a prepotência e a corrupção generalizada. Canalha sem rosto, oportunistas sem pejo, usurpadores sem tréguas, vão para o diabo que vos carregue de dinheiro e de merda!

Todos os pulhas para a rua! Já.

     Post  869  

1 de dezembro de 2012

Gérson

O Gérson do 9º ano tirou outra positiva. Desta vez a Ciências.

- “Yesssss! Mais cinco euros”

- “Mas porquê isso, Gérson?”

- “A minha avó dá-me cinco euros por cada positiva que eu tirar.”

- “Mas então porque tiras tão poucas? “

- “É que os professores também não ajudam muito… O Setor ganha bem?”

- “Nem por isso, Gerson. A minha avó já morreu e…”

- “Quer ganhar uns trocados? O negócio é o seguinte. Por cada positiva que os profes me derem, ganham 40 por cento dos cinco euros que a minha avó desempochar. Eu fico com os outros 60 por cento.”

- “Negócio fechado” - disse o professor – e foi, no intervalo, contar aos colegas, que riram do desplante do Gerson e esqueceram o incidente.

Acontece, porém, que o Gérson arrancou, na segunda ronda de testes, mais positivas do que na primeira. Na verdade, quase quadruplicou o seu sucesso académico, tendo feito outro tanto com o seu sucesso económico, evidentemente. Como prometido, e acossado pelo seu impoluto sentido de justiça e hombridade (e também por causa da nota em atitudes e valores), o Gérson apresentou-se ontem mesmo a todos os professores que lhe tinham dado positiva. Trouxe a cada um deles uma redondíssima moeda de dois euros, que lhes fez rodopiar sobre a secretária. Para seu espanto, nenhum professor aceitou o pagamento contratado, facto que o Gérson atribuiu à total taralhoquice dos profes, certamente provocada pelo barulho nos corredores, pelos cortes salariais ou pela tal burocracia de que tanto se queixavam sempre...

O sentido de justiça e hombridade do Gérson foi momentaneamente escoriado mas logo se recompôs. Os golpes morais, nestas idades, apagam-se com alguma facilidade…

Em casa do Gérson, uma avó preocupada:

- “Oh, Gerson, vê lá não andes a estudar demais, filho. Isso pode fazer-te mal. Vá, deixa o computador e vai espairecer um pouco com os teus amigos…”

     Post 868       (Imagem daqui)