31 de março de 2010

Esperar por D. Sebastião

bagão félix A trilogia Nuno Crato, Bagão Félix, Medina Carreira agasta-me. Quando os ouço caio em mim e fico de repente a sentir o verdadeiro país que me envolve. Desgasta-me saber tudo o que não se faz e devia fazer e tudo o que se faz sem a mínima utilidade. Medina e Félix dão-nos um país em queda livre, uma queda sem retorno e sem esperança. Nuno Crato mostra-nos um ensino pobre, mesquinho, subterfugiado, quase devasso. Nenhum dos três apresenta soluções para além dasmedina-carreira conhecidas, mas dão-nos os três a imagem verdadeira da tragicomédia que nos avassala. Perante o fiscalista e o financista, fica-se com a sensação dominante de que a solução económica não se encontra mais dentro do sistema. Diante da univocidade das medidas propostas (que se quedam por mais trabalho, mais exportações, menores salários, menores reformas, menos apoio social), nada mais parece fazer sentido a não ser alguma reviravolta inovadora, inesperada, NunoCrato audaciosa, marginal. Quanto a Crato, oitenta por cento dos professores com quem privo parecem concordar com ele em género e número. Eu também. Mas não sei se todos temos consciência de quão difícil e desconfortável poderia ser para nós o ensino que ele apregoa. E, sobretudo, se ainda existe no sistema educativo alguém capaz de materializar o ensino de Crato, do modo rigoroso e sério como ele o concebe…

(“Tão mais fácil esperar por D. Sebastião, quer venha ou não”)

(Imagens daqui, daqui e daqui)

24 de março de 2010

ouvido aqui e ali

ouvido- O que é que o colega fez na aula de substituição?

- O mesmo de sempre. Pus as mãos na cabeça.

21 de março de 2010

obsessões do meu ipod (10)

Ant_Silva 2

Isto abre-se, liga-se à parede, e é uma torneira a deitar música, você vai ver…

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Benny Goodman1 Benjamin David Goodman (1909-1986) foi clarinetista exímio e ficou conhecido como o Rei do Swing, tendo editado mais de 40 discos, entre originais e colectâneas. Aqui, Let’s Dance, composta ainda nos anos 30, é um hino aos tempos das big brass bands. Desligue o radio do blog e ouça esta pequena pérola.

 

 

oldradio002

 

 

(Imagens daqui e daqui)

19 de março de 2010

o poder autárquico que temos… (1)

poder local Almocei hoje com um daqueles economistas que andam de autarquia em autarquia a ensinar estratégias de gestão dos dinheiros públicos. Contou-me que o trabalho não falta. As autarquias estão mesmo a nadar em dívidas, a maior parte vive da pura expectativa do dinheiro que, se tudo correr bem, há-de chegar um dia e não de dinheiro real ou existente. E o homem anda por aí, como um bom samaritano, cobrando balúrdios à hora, (que estes tipos são samaritanos mas não são de Calcutá), ensinando as autarquias a governarem a casa, pois que, pelos vistos, os eleitos do povo esqueceram completamente como acertar uma conta de somar.

Deixo uma sugestão aos autarcas que esbanjam o dinheiro do povo em comezainas e querem botar figura, erguendo fontanários e esmifrando o contribuinte para arranjar uma estradeca ou enterrar uns canos de esgoto: leiam com atenção o livro único da segunda classe, edição de 1958, na secção de aritmética. É bom que aprendam a fazer subtracções com números positivos. Não devem subtrair 10 a 5. Se o fizerem, terão depois que pagar indecorosos montantes a um tipo que fez a segunda classe bem feita, como é o senhor economista com quem almocei hoje…

(Imagem daqui)

13 de março de 2010

Quero demolir a minha escola de Dublin

demolish In Dublin’s fair city / Where girls are so pretty /I first set my eyes / On sweet Molly Malone / Crying “Blow up my school / And do not leave my teachers / Alive, alive, oh…”

Becky, a garota de Dublin lá terá as suas razões. Eu próprio gostaria de ver muitas escolas demolidas. Mas não tenho ideia nenhuma de como isso se faz. Ao contrário de mim, Becky parece saber, com inusitado detalhe, como deve ser feito o trabalho. Apresenta mesmo algumas sugestões técnicas, como, por exemplo, o uso do camartelo ou a implosão. Elaborou mesmo um plano completo que inclui a planta da escola, os nomes dos professores e o horário em que a demolição apagaria o maior número deles. Situação real? Encenação? Seja como for, é hilariante. Uma ternura, digamos, demolidora…

(E, claro, a razão deste seu intento é o sempre controverso tpc. Simplesmente não o fazer já pouco adianta. Nada como cortar o mal… pelos alicerces.

 

Ouça Becky ao telefone com uma empresa de demolição de Dublin

 

 

(Imagem daqui)

10 de março de 2010

filosofia cabotinística

filosofia_320 Os jovens fazem uma coisa inteligente. Os velhos fazem duas, porque se esqueceram da primeira…

 

(Imagem daqui)

ouvido aqui e ali…

ouvido “Tenho treze anos. Feitos em Janeiro. O que querem que eu diga? Nunca me deixam em paz… Já na escola todos querem que eu diga coisas… E eu não me lembro, prontos… Mas que c. de pergunta. Por que me fazem sempre perguntas parvas? O que é que eu mudava se mandasse? … Sei lá o que é que eu mudava se mandasse. Olhem, acho que devia começar a receber a minha reforma agora. É isso. A reforma agora e o trabalho mais tarde. Muito mais tarde. Por que quero a reforma agora? Vocês são mesmo burros. Para não ter que andar sempre a roubar a do meu avô… Eu sou um rapaz de princípios, ora…”

8 de março de 2010

obsessões do meu ipod (9)

antonio silva Isto abre-se, liga-se à parede, e é uma torneira a deitar música, você vai ver…”

 

 

 

radio2 Charles Aznavour, Mourir d’Aimer do álbum Non, je n’ai rien oublié” de 1971. A canção terá, no entanto, sido composta na década de 60.  Mourir d’Aimer é também o título de um filme de André Cayatte da mesma época (1971).

 

charles aznavour

Les parois de ma vie sont lisses 
Je m'y accroche mais je glisse
Lentement vers ma destinée
Mourir d'aimer

Tandis que le monde me juge
Je ne vois pour moi qu'un refuge
Toute issue m'étant condamnée
Mourir d'aimer

Mourir d'aimer
De plein gré s'enfoncer dans la nuit
Payer l'amour au prix de sa vie
Pécher contre le corps mais non contre l'esprit

Laissons le monde à ses problèmes
Les gens haineux face à eux-memes
Avec leurs petites idées
Mourir d'aimer

Puisque notre amour ne peut vivre
Mieux vaut en refermer le livre
Et plutot que de le brûler
Mourir d'aimer

Partir en redressant la tete
Sortir vainqueur d'une défaite
Renverser toutes les données
Mourir d'aimer

Mourir d'aimer
Comme on le peut de n'importe quoi
Abandonner tout derrière soi
Pour n'emporter que ce qui fut nous, qui fut toi

Tu es le printemps, moi l'automne
Ton coeur se prend, le mien se donne
Et ma route est déjà tracée
Mourir d'aimer

(Imagens daqui e daqui)

7 de março de 2010

a palavra dos outros

ruizink2 Não podia deixar de vos sugerir este texto delicioso. Só a inteligência e perspicácia constroem texto assim…

 

(Imagem daqui)

6 de março de 2010

coisas giras por email

O que transcrevo a seguir (bem como centenas de outras situações idênticas que todos os dias nos entram pelo mail dentro) não pode ser verdade! Se coisas destas fossem verdade, há muito já que a classe operária, os trabalhores, os fracos e oprimidos teriam feito a revolução socialista. A menos que estejamos todos mortos, e nem sequer o suspeitemos…

image0011SILVA LOPES, 77 ANOS, NOMEADO ADMINISTRADOR DA EDP RENOVÁVEIS .
ISTO MEUS AMIGOS NÃO É UMA VERGONHA, É UM ESCÂNDALO!!!
Meus amigos, vamos unir esforços e angariar fundos para ajudar o COITADO.

A pouca vergonha continua. Ao que isto chegou.
SILVA LOPES, com 77 (setenta e sete) anos de idade, ex-Administrador do Montepio Geral, de onde saiu há pouco tempo com uma indemnização de mais de 400.000 euros, acrescidos de varias reformas que tem, uma das quais do Banco de Portugal como ex-governador, logo que saiu do Montepio foi nomeado Administrador da EDP RENOVAVEIS, empresa do Grupo EDP.
Com mais este tacho dourado, lá vai sacar mais umas centenas de milhar de euros num emprego dado pela escumalha politica do governo, que continua a distribuir milhões pela cambada afecta aos partidos do centrão.
Entretanto o Zé vai empobrecendo cada vez mais, num pais com 20% de pobres, onde o desemprego caminha para niveis assustadores, onde os salários da maioria dos portugueses estão cada vez mais ao nivel da subsistência.
Silva Lopes foi o tal que afirmou ser necessário o congelamento de salários e o não aumento do salário mínimo nacional, por causa da competividade da economia portuguesa. Claro que para este senhor, o congelamento dos salários deve ser uma atitude a tomar, (desde que não congelem o dele, claro).
Quanto a FERNANDO GOMES, mais um comissário político do PS, recebeu em 2008, como administrador da GALP, mais de 4 milhões de euros de remunerações. Acresce a isto um PPR de 90.000 euros anuais, para quando o " comissário PS " for para a reforma. Claro que isto não vai acontecer pois, tal como Silva Lopes, este senhor vai andar de tacho em tacho, tal como esta cambada de ex-politicos que perante a crise " assobia para o ar ", sempre com os bolsos cheios com os milhões de euros que vão recebendo anualmente.
Estes senhores não têm vergonha na cara?”

Se eu tivesse a certeza da veracidade destes factos, faria esta coisa inusitada: rezava três painossos e cinco ademarias a agradecer os meus mil euros mensais e depois jogava este joguinho para descontrair, enquanto esperava pelo meu caldinho de couves. Aurea mediocritas, estão a ver… Falaste de revolução? Tudo bem, tudo bem. Segunda-feira, pode ser? Hoje não.

(enviado por santosilva)

obsessões do meu ipod (8)

antonio silvaIsto abre-se, liga-se à parede, e é uma torneira a  deitar música, você vai ver

 

 

radio antigo 1

tony_bennett

Tony Bennett, justamente considerado um mito do Jazz, sobretudo na sua forma de Swing, canta aqui Stella by Starlight.

(Imagens daqui e daqui)

5 de março de 2010

o epitáfio mais desejado

epitafioOs professores do Secundário estão a ficar velhos, velhos demais para se lembrarem de todas as tarefas que ainda se supõe que façam nesta idade. Alguns já não conseguem sequer decorar os seus horários, os seus planos de aula, entrando em pânico se, por alguma razão, os perdem momentaneamente de vista. O controlo dos tempos de aula passou, de repente, a ser um problema monumental. O seu discurso flutua repetitivo, cada vez mais insípido, e o discurso dos alunos parece-lhes sempre vago, desenraizado, frouxo. O humor dos alunos, por insuportavelmente básico, nunca vem ao seu encontro e o seu próprio humor, por demasiadamente refinado, raramente os conquista. Um hiato comunicacional vai-se estabelecendo entre as gerações, cada vez mais distantes, cada vez mais estremadas…

Nestas condições, os últimos anos de docência de um professor do Secundário podem desaguar num íntimo desconforto, numa espécie de mutilação identitária. Os alunos, por seu turno, têm um projecto de vida ainda novato à sua frente, um sonho ainda imberbe, inconsistente, e não se revêem, por isso, nos professores velhos que esvaecem pardos, entre o dever e a lassidão.

Poucos docentes sabem enfrentar isto com atitudes indómitas e insuspeitamente afirmativas. Poucos sorvem a dose diária da loucura que os revigora. Poucos reaprendem a rir e a contemporizar. Poucos arrancam da boca a flor do cardo, poucos sabem saltar fora do esquife que se anuncia…

(Contudo, serão estes poucos que encontrarão uma réstia de ternura no olhar dos seus alunos. Serão estes que merecerão deles o mais desejado epitáfio: “Era um ganda maluco”.)

(Imagem daqui)

3 de março de 2010

a palavra dos outros

julio dantas Apreciem aqui, no “Estúdio Raposa”, um excerto de “A Seia dos Cardeais” de Júlio Dantas (em audiobook) . A razão por que chamo a vossa atenção prende-se, sobretudo, com a excelente qualidade do audio. Apreciem, sobretudo, a perfeita estereofonia, conceito hoje um pouco abandonado. Creio que o link acima conduzirá directamente ao referido post. Se não, procurem em audiobooks.

alteridades

vida Queria ter sido Aristóteles, visita da casa de meu pai. Quereria ter sido a casa de meu pai. E Arquimedes e Santo Agostinho. E Bachelard e Proudhon. E Bruno e Brentano. A folha de papel pardo de Pitágoras. A marmita de Papin, o pátio das cantigas, a Vénus de Milo. Quem me dera ter sido o fogareiro de Feuerbach, o pénis de Epicuro. Queria ter vivido como Dante, morrido como Cervantes, escrito como Breton. Um murmúrio de Shakespeare, um poema de Blake. Quereria ter sido o lado lunar de Margarida Gautier. Um fidalgo da casa mourisca, o moinho de Daudet. Queria ser tudo o que não fui. E sendo qualquer outra coisa, quereria ter consciência e sonho para me conhecer a mim. Tal como sou. E conhecer a razão esquiva de não me ter querido ser…

(Imagem daqui)

1 de março de 2010

redassão…redação…redacção…redacssão (ufff)

writing-letter1 Afinal, os culpados são os ambientalistas

Os homens verdes já andavam a ameaçar há dois anos, como se pode provar por este video. um dia vocês vão ver o que vos acontece. a enxurrada vem por aí abaixo, cheia de lama e de pedras e é um vê se te avias… ai andaram a construir casotas no leito das ribeiras? quando chover um pouco mais (e aqui chove se deus a dá), isto é tudo a descer, eu nem sei onde isto vai parar. se bem o disseram, melhor o fizeram. com um vídeo desses, ninguém vai mais duvidar de que a tragédia tem o dedo dos ambientalistas. ah pois tem. o alberto jardim, esse, acha que o melhor é encanar as ribeiras. se as ribeiras não estivessem canalizadas, aí sim, aí é que vocês haviam de ver. vá lá, vá lá, do mal o menos que nem foi preciso declarar o estado de calamidade. seria completamente redundante. calamitoso já é o Estado, mesmo antes da calamidade.  certo, desculpem, não fica nada bem estar a atribuir culpas agora. Por isso é que sócrates andou bem, acho que andou bem bem bem. mesmo bem. como nunca tinha andado antes. mostrou dignidade. calou-se e disse só que ia dar a mão à madeira, nesta hora apertada… há males que vêm para bem. temos uma tragédia na madeira, morrem pessoas, destrói-se todo o património, mas salvam-se as relações institucionais. e isso é bonito. é ver o joão jardim todo pimpão, armado em civilizado, que nunca tinha visto o homem tão metro… aposto que pôs perfume para falar no programa daquelas miúdas que só sabem fazer solidariedades na televisão… ai como se chamam… aquilo é solidariedadade por tudo e por nada. tens um puto que perdeu o telemóvel? vai ao programa e recebes dois ou três. não consegues pagar a renda da casa? vai ao programa e eles compram-te uma casa nova. o povo português e as raparigas solidárias da televisão (ai como é mesmo o caraças do nome delas?) são demais, de mais, são mesmo demais. de mais, demais. eu até queria também telefonar, mas estava impedido, tal a quantidade de gente a debitar cêntimos para a madeira, pelo telefone. atenção, eu acho que não é demais. tínhamos que fazer outro programa e talvez outro e outro. o povo gosta mesmo é de dar, doar, entregar cobertores, bolachas, atuns. e de telefonar para ouvir a voz das miúdas da solidariedade (como é que elas se chamam, catano?) a dizer muito obrigada. até se rebentam as lágrimas. mas agora há que prender os tipos que ameaçaram destruir a madeira, os tais tipos verdes, os ambientalistas deste vídeo. olha-me só para isto, deus nos acuda…

Guidinho