A trilogia Nuno Crato, Bagão Félix, Medina Carreira agasta-me. Quando os ouço caio em mim e fico de repente a sentir o verdadeiro país que me envolve. Desgasta-me saber tudo o que não se faz e devia fazer e tudo o que se faz sem a mínima utilidade. Medina e Félix dão-nos um país em queda livre, uma queda sem retorno e sem esperança. Nuno Crato mostra-nos um ensino pobre, mesquinho, subterfugiado, quase devasso. Nenhum dos três apresenta soluções para além das conhecidas, mas dão-nos os três a imagem verdadeira da tragicomédia que nos avassala. Perante o fiscalista e o financista, fica-se com a sensação dominante de que a solução económica não se encontra mais dentro do sistema. Diante da univocidade das medidas propostas (que se quedam por mais trabalho, mais exportações, menores salários, menores reformas, menos apoio social), nada mais parece fazer sentido a não ser alguma reviravolta inovadora, inesperada, audaciosa, marginal. Quanto a Crato, oitenta por cento dos professores com quem privo parecem concordar com ele em género e número. Eu também. Mas não sei se todos temos consciência de quão difícil e desconfortável poderia ser para nós o ensino que ele apregoa. E, sobretudo, se ainda existe no sistema educativo alguém capaz de materializar o ensino de Crato, do modo rigoroso e sério como ele o concebe…
(“Tão mais fácil esperar por D. Sebastião, quer venha ou não”)
1 comentário:
muito bem visto, joão.
fernando frazão
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