A minha geração, e sobretudo aquele grupo dela que se encaminhou para a docência, apanhou sempre. (Lawrence Ferlinghetti, Allen Ginsberg e Gregory Corso chamaram à sua a geração batida – a beat generation. Eu chamo à minha a mesmíssima coisa, só que, no caso da minha, o epíteto é absolutamente real, palmatórico, canuloide, vergastífero). A minha geração, sobretudo a tal que rumou ao professorado, começou por apanhar dos professores e acabou apanhando dos alunos. Nem mais: a minha geração, sobretudo a que optou pelo sacerdócio da formação de jovens, acabou por apanhar destes tanto quanto apanhou um dia dos seus formadores.
Bom, eu acredito que muitos de nós, os que apanharam forte e feio dos seus mestres, foram para o ensino na expectativa de se vingarem um pouco do que tinham sofrido e poderem repor um dia o equilíbrio histórico, fazendo o gostinho ao dedo, desancando, por sua vez, as novas gerações. Mas mudou-se o bico ao prego e quem voltou de novo a apanhar foram os que já tinham experiência bastante disso…
Acredito ainda que estes professores (experientes em apanhar reguadas na sua infância e pré-adolescência) acalentem ainda o sonho arredio de um dia poderem bater em alguém: ministros, secretários de estado, dirigentes sindicais, deputados, encarregados de educação e alunos. Este parece ser, lá no fundo, um dos desejos inóspitos dos actuais professores com mais de sessenta anos. Ah, mas ficarão pelo desejo. E levarão para penates esse desejo lúcido mas inconsequente.
(Imagem daqui)
3 comentários:
Caro Amigo:
Um post fantástico.
Nunca me teria lembrado disto.
E não é que tens toda a razão (não por eu ta dar, mas porque ela está em ti!)?
Um abração.
De entre nós, há os que nunca apanharam, por antecipação, por sabujice ou por adivinhação. Os primeiros vão evitando os golpes, sobressaltando-os. Os segundos vão-se ajustando, mesurando o poder de cima e o de baixo. Os outros nunca estão onde está o azar.
Mais uma vez uma conclusão brilhante.
Bom texto e uma perspectiva arrojada.
No fundo, não acredito que seja assim. O professor é um eterno "padre"...tudo perdoa a relega.
Um abraço...
PIJAS
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