Odete Santos visitou-nos hoje. Deliciosamente inteligente mas sem nenhum arremedo intelectual, extremamente lúcida no seu anacronismo ideológico e muito constipada, mostrou-nos a todos como é essa nobre arte de simplesmente deixar fluir o cérebro e o coração. Falo de falar, é claro. Calma e compassada, as palavras saíam-lhe fáceis e poderosas. Achei-a, no entanto, triste, apesar do seu humor translúcido de uma subtileza crua. Emocionou-se um pouco com a presença de vários alunos que lhe endereçaram perguntas bastante consistentes. Vislumbrei-a mais tarde em dois momentos, em situações de humildade extrema: um primeiro momento em que me cumprimentou entre tímida e resignada e um segundo em que parecia esperar por algo ou alguém, sentada num caixote, no átrio da escola.
Como aprendi hoje! Sem formalismos impertinentes, sem imposições protocolares, sem avaliação de resultados. Só ouvir, pensar, saborear, sorrir, crescer por dentro…
(Imagem daqui)
4 comentários:
Olá, amigão!
Tive o prazer de, há uns tempos, fazer uma viagem de Alfa ao lado desta Senhora!
E chamo-lhe Senhora, porque ela realmente o é: apesar do - como tu bem dizes - anacronismo ideológico, ela tem uma enorme capacidade de comunicação, uma simpatia envergonhada, uma simplicidade deliciosa, uma alma grande, uma honestidade intelectual patente e uma lucidez rara.
Política dos pés à cabeça, honra essa arte, hoje tão desgastada.
E não tem medo.
Abração.
É. Nós aqui tivemos o prazer de privar com ela uma tarde inteira. Ela é exactamente como dizes. Acheia-um pouco descuidada na aparência, triste, desiludida... Enfim. Veio palestrar sobre a história da mulher. Eu perguntei-lhe, a despropósito total do tema, em quem é que nós íamos votar. Gargalhada geral pelo inopinado da pergunta, mas ela respondeu asim: "Se, na altura, ainda houver CDU, do que duvido por muitas razões, olhe, quem sabe não seja uma hipótese..."
Abraço.
Respondo hoje à tua resposta. Ou seja, faço uma tresposta...
De facto, ela não cuida muito da aparência. Mas isso até lhe granjeia um certo charme (a vida é feita de paradoxos...).
Quanto a votar, estou como tu.
Uma coisa eu sei: SEI em quem NÃO vou votar!
Um abração, que se repete ad nauseam, mas é sempre sincero e leal.
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