Renata possui dezassete anos e uma risada certeira.
Frequenta um curso profissional, sem aproveitamento. Nas aulas sorri para mim despudoradamente e eu fico feliz, imaginando que ela está a perceber o que lhe digo. Chego mesmo a pensar que aprecia as minhas aulas e, imbecilmente, envaideço.
Mas não. As risadas ostensivas de Renata devem-se a uma lesão no seu cérebro que a faz evocar ou engendrar situações ou cenas hilariantes.
Que paramoléstia misteriosa será esta que faz felizes as pessoas? A psiquiatria chama-lhe um nome obsceno, impronunciável. Eu não lhe sei chamar nada a não ser refúgio.
Paulatinamente, Renata vai-se evolando no ar, num fade out progressivo, deixando, cá em baixo, o mundo pequeno dos outros, irremediáveis doentes que se arrastam tristonhos e decrépitos e se contristam, piedosos, com a alegria vigorosa das gargalhadas pontiagudas de Renata…
(Imagem tirada daqui)
1 comentário:
Ela tem um mundo à sua medida. E isso é razão para sorrir.
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