14 de fevereiro de 2008

Renata

renata

Renata possui dezassete anos e uma risada certeira.

Frequenta um curso profissional, sem aproveitamento. Nas aulas sorri para mim despudoradamente e eu fico feliz, imaginando que ela está a perceber o que lhe digo. Chego mesmo a pensar que aprecia as minhas aulas e, imbecilmente, envaideço.

Mas não. As risadas ostensivas de Renata devem-se a uma lesão no seu cérebro que a faz evocar ou engendrar situações ou cenas hilariantes.

Que paramoléstia misteriosa será esta que faz felizes as pessoas? A psiquiatria chama-lhe um nome obsceno, impronunciável. Eu não lhe sei chamar nada a não ser refúgio.

Paulatinamente, Renata vai-se evolando no ar, num fade out progressivo, deixando, cá em baixo, o mundo pequeno dos outros, irremediáveis doentes que se arrastam tristonhos e decrépitos e se contristam, piedosos, com a alegria vigorosa das gargalhadas pontiagudas de Renata…

(Imagem tirada daqui)

1 comentário:

Maria Arvore disse...

Ela tem um mundo à sua medida. E isso é razão para sorrir.