7 de fevereiro de 2008

"Arbeit Macht Frei"

liberdade expressao1

Um pouco antes da sua maratona sobre as eleições americanas, Daniel Oliveira, no Arrastão, trazia-nos (com youtube e tudo) a curiosa história de uma jovem apresentadora da televisão alemã, que, num concurso, terá soltado, a um qualquer despropósito, a expressão “Arbeit macht Frei” que encimava a entrada dos campos de concentração nazis, nos anos 30 e 40 do século passado. Mais nos adianta Oliveira que, tendo caído em si ou tendo sido informada do que dissera, a pequena terá pedido desculpas, facto que de nada lhe serviu, pois foi logo ali liminarmente despedida.

Daniel Oliveira, com um esboço de juízo de valor, remata que é assim mesmo que as coisas acontecem num país a sério, onde se respeita a memória. Imaginei, por momentos, ter percebido uma ironia subtil nestas palavras. Mas não. O homem falava a sério.

A opinião de Daniel Oliveira (atribuindo justa causa ao despedimento da jovem, em nome do respeito pelos que sofreram a torpe carnificina nazi) não me suscitaria nenhum comentário pessoal minimamente inflamado, visto que não conheço a referida apresentadora de concursos e o medo do meu próprio despedimento está a tornar-me insensível aos despedimentos dos outros. Mas acontece que o referido post despoletou, até ao momento em que escrevo isto, nada menos que 62 comentários, muitos dos quais embarcando, com Oliveira, na tese do justo e douto castigo – o despedimento sucinto e relâmpago da desbocada apresentadora. E foi aí que me assustei a sério.

E, já que Oliveira (que é um jornalista dos bons) pode terminar com um juízo de valor, muito mais o posso eu que não sou coisa nenhuma. Aí vai, pois: os nazis estão vivos e são, certamente, os patrões da rapariga que foi despedida. Nazis parecem ser também todos os que consideram que terá havido justa causa para o despedimento.

Se descontextualizarmos “Arbeit macht Frei”, ficaremos com uma frase absolutamente inócua. Porém, um despedimento nunca é inócuo, seja em que contexto for.

Nem mesmo tratando-se de despedimentos absolutamente indiferentes, como são os dos outros…

(Imagem tirada daqui)

2 comentários:

effetus disse...

Caro amigo: perdoa, mais uma vez, a minha intromissão e a parasitação que faço com o meu comentário.
Mas não podia deixar de dizer isto: fantástica análise!
Um post absolutamente exemplar, pela lucidez e pela coragem que demonstra.
Concordo contigo em absoluto e só tenho pena de não ter sido eu a lembrar-me disto.
O espectro nazi ainda por aí anda, o nazismo também é uma atitude; infelizmente, sempre com maus resultados.
Abração.

effetus disse...

...só um aditamento: no post anterior, a palavra "infelizmente" está a mais. O que eu queria dizer era que o nazismo traz sempre maus resultados.