Moro dentro de uma coisa a que dificilmente se poderia chamar casa. Húmida, velha e fria, todas as condições de habitabilidade lhe passaram ao lado. Com quase duzentos anos e uma construção tosca de amadores, hoje não seria aprovada pela Câmara. E, no entanto, viveram nela até agora quatro compridas gerações, sempre apinhadas à volta da sua característica principal – a enorme lareira.
Quando eu me for, ela ficará aí, abandonada sobre a areia gandaresa, talvez semi-inundada por um mar cada vez mais perto, cada vez mais alto…
A minha casa entrega-se ao destino sem um gemido. E, no entanto, cumpriu denodadamente a sua função: Quando a minha mãe morreu, ficou ela, mitigando dores e afagando tristezas. Depois foi-se o meu pai e ficou ela, preservando memórias e acendendo novos lumes para aquecer restos de vida que me sobraram…
Não tenho dúvidas da identidade absoluta que nos une: eu sou ela e ela é eu. Simbioticamente amparando-nos...
(Imagem daqui)
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