“É à política e não ao estado que devemos regressar” ("Abrupto", hoje)
Pacheco Pereira faz aqui uma análise inteligente sobre a questão da recente crise bolseira e as alegrias e eventuais dividendos políticos que esta actual mancada do sistema capitalista irá trazer a Sócrates e ao partido socialista. Em Pacheco, sempre admirei a coerência interna de um raciocínio limpo, embora não possa garantir que a sua clarividência seja capaz de me fabricar um mundo melhor.
O problema no seu raciocínio de hoje parece-me residir no facto de que nem a crise é capitalista, nem Sócrates é socialista, nem o partido socialista é o que quer que seja, nem mesmo o que Pacheco Pereira está convencido de que ele é. Enfim, nem o liberalismo se afundou, nem o socialismo será instaurado. Esta crise não tem, em termos de sistema económico, nem vencedores nem vencidos. Quem a pagará serão os mesmos de sempre, mas isso não representa nenhuma novidade revolucionária.
Quanto aos dividendos de Sócrates, a ubíqua estupidez lhe atribuirá, certamente, alguns, talvez muitos. Mas acredito que possa por aí haver uma pequena multidão semi-escondida que não votará em José Sócrates nem que a vaca tussa, embora não tenha ainda descoberto em quem votar, pelo simples facto de que não há.
(É que, por vezes, do meio de um monturo de camelices bastardas, podem nascer as flores inesperadas de uma vibrante e indómita inteligência…)
(Imagem tirada daqui)
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