No que respeita à sua relação com as leis, há no país quatro tipos de gente: os que as fazem a seu belo prazer, os que as sabem utilizar a seu proveito, os que as desconhecem totalmente e os que pretendem mudá-las. Nem sempre os que as pretendem mudar as conhecem, nem sempre as conhecem os que as fazem, nem os que as desconhecem deixam de usá-las a seu belo prazer, se puderem. De entre os que as desconhecem totalmente, há os que pretendem conhecê-las para as usar a seu belo prazer e os que, desconhecendo-as e não pretendendo conhecê-las nem mudá-las, pagam a quem as conheça e use a seu belo prazer. Sobram os que, para além de simplesmente as desconhecerem, não sabem quem as faz, não conhecem quem as saiba utilizar, nem entendem por que alguém as queira mudar a seu belo prazer. Estes últimos são os que se demitem de toda a acção. Apenas assistem às mudanças, ao correr da história, às revoluções, às crises, às guerras, às opressões e ao caos, ao nascimento e morte das ideologias, dos cabritos e das galinhas, dos generais e das nações, sempre com o mesmo copo na mão, ora mais cheio, ora mais vazio, mas o mesmo. Lumpenproletariat, Mencheviques, reaccionários pela ignorância, deuses da perenidade, filhos da ruralidade, depurados, sábios.
Post 696 (Imagem daqui)
2 comentários:
O título é Kafka, não é?
Sim, Das Schluss ou, mais provavelmente, Der Prozess.
O título, não o texto...:)
joao de miranda m.
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