A certa altura estava mesmo convencido de que aquelas coisas que penduraram na parede fronteira das nossas salas de aula se chamavam quadros hiperactivos. Não são. São quadros interactivos. Não são quadros que saiam da parede sem pedir licença e vão até à janela espreitar a chuva, e daí até à porta e não conseguem estar quietos e fogem para o fundo da sala quando lobrigam o giz. Nada disso. São, afinal, uma espécie de quadros, a meio caminho entre a lousa e o futuro, que interagem connosco, com uma inteligência binária, uma cara lavada e uma cabeça de ET fosforescente. Esticam aquele pescoço dromedário e mostram-nos tudo o que já fizeram e o muito que sabem fazer. E parecem querer transformar em si próprios, plasmar na sua proteína, todo o conhecimento do mundo, tão opressivos e dominadores se instalaram na escola. São os quadros interactivos e nada mais existe para além dos seus domínios: nem Matemática, nem Física, nem Línguas, nem Geografia, nem História, nem Filosofia. Tudo isso vive na sua dependência e para os servir foi desenhado.
Sem quadros interactivos já não há professor. O professor é tão-só um maquinista de quadros interactivos. A sua competência reside na destreza com que os saiba pilotar.
Os interactivos prometem uma aprendizagem sem esforço, uma festa quotidiana e um sucesso educativo sem precedentes e nunca sonhado nos tempos da obscura e vil ardósia.
(Entretanto vão, de modo pouco interactivo para mim, metendo uns trocados nos bolsos dos novos quadros pedotecnodirigentes, esses que tão bem interagem com os novos quadros pedotecnointeractivos. Hiperactivamente.)
Post 702 (Imagem daqui)
4 comentários:
Já quase tenho vergonha de afirmar que sou professora, pois sou da alvorada dessa ferramenta miraculosa que fez da sala de aula "seca" um espaço moderno, dinâmico,com apetência para as luzes do conhecimento.
Amirgã
Essa realidade interactiva parece-me assustadora, logo agora que acordei para as novas tecnologias. Isto porque iniciei ontem um curso online para poder finalmente aprender a fazer material interactivo. Mas já ouvi falar do "quadro interactivo" que invadiu as escolas portuguesas, ameaçando comprometer o papel activo e preponderante do professor no seu trabalho de educador, comunicador... Marla
Amirgã
Luzes do conhecimento, sim. Muitas luzes. Praticamente só luzes...eheheheh. Um enorme abraço.
Marla
Eu, pelo contrário, estou a fazer um esforço para adormecer um pouco para elas... Já vi que, apesar do seu fulgor, não nos trazem a felicidade nem a decência.
Outro grande abraço.
joao de miranda m.
Ui... tb estou farta de tanta tecnologia at work... até pode ser mais atractivo ou criativo numa outra circunstância mas...dios mio, que mega trabalheira. E ajudará os alunos a escreverem e a pensarem melhor? Não queridos, não... Faty
(Olá Marla nice to find you here:)
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