A minha primeira abordagem à geração de 60 pareceu-me agora, ao relê-la, bastante desencantada. De facto, apesar de ela nos ter dado, por exemplo, Jean-Luc Godard e tantos outros combatentes por sociedades perfeitas, não passámos além dos nossos pais. Possivelmente nem os alcançámos sequer. Godard e muitos outros sonharam, no cinema e nas outras artes, uma ética da estética, uma sociedade sem arte, por desnecessária, já que o real era para já e suplantaria o sonho mais ousado. Esta sociedade pacificada, sem anseios, desassossegos e inquietações, feita só de felicidade e de realização, seguiria, em nossos dias, um rumo indelével e incontornável. Esta sociedade, ainda sem nome nem baptismo, dispensaria a arte, na medida em que o belo era a ética e a ética o belo, e ambos estariam presentes, em acto sublime e acabado.
Não aconteceu assim. Essa sociedade arrepiante de tão bela não passou de quimera. E não passámos nunca além dos nossos pais. E precisámos da arte e a fizemos evoluir e crescer na razão inversa do nosso descontentamento. Só a arte nos pode devolver o paradigma do éden, irremediavelmente perdido pelos jovens da minha geração…
Post 705 (Imagem daqui)
1 comentário:
Gostei.
Rui Lins
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