23 de fevereiro de 2011

revoluções

revolução Um dos meus maiores pesares é não ter tomado parte em nenhuma revolução. É certo que estive no 25 de Abril, apanhei toda a cacimba dessa noite, formado a três, em posição de descansar (curiosas as expressões militares! “Descansar” significa ficar de pé mais de seis horas seguidas, de espingarda ao colo, sob chuva civil que, como sabemos, sendo civil não molha militares), tentando dormitar de pé, absolutamente indiferente ao que se passava a cem metros de mim, onde um capitão ainda desconhecido vociferava ordens.

Mas nem o 25 de Abril foi uma revolução a sério, nem eu era sério dentro dela. É óbvio que tinha então 24 anos e total obrigação de militar num partido de esquerda. E militava. Mas o meu partido era tão de esquerda que relativizou completamente o tal 25 de Abril, onde eu estava metido sem grande convicção, por achar que aquilo era muito pouco, face ao que deveria ter sido. Pouca revolução para tanto alarido!

Porém, na terceira fila havia três tipos que achavam ser aquilo revolução demais para o que eles esperavam que tivesse sido, ou seja, absolutamente nada. Era para eles revolução demais, sobretudo para as pequenas mordomias de que gozavam nas suas vidinhas pequeno-burguesas, plenas de conforto e de tranquilidade.

Não foi, pois, para mim, uma revolução a sério, embora, depois dela, muitos lho tivessem chamado. Para os da terceira fila, foi. Foi uma noite de frio (Abril foi frio nesse ano), alguma morrinha e o desabar das suas convicções e dos seus baluartes salazarentos. Pelo menos nessa noite. Depois, terá sido o seu regresso à tranquilidade mais cómoda, à mais apaziguada atitude. Nunca mais vi esses três espécimes pequeno-burgueses que caíram desamparados no meu pelotão, em plena revolução de Abril, como se se tivessem enganado na estrada.

Mas revoluções a sério nunca passaram pela minha mão. Na verdade, nem sei onde diabo elas andam. Parece que no mundo árabe está a haver uma. Até agora também não me pareceu a sério. Só fumaça.

(E como pode ser séria uma revolução onde eu não estou? As revoluções dos outros, ainda que feitas para mim, nunca serão à minha medida…)

(Imagem daqui)

2 comentários:

Anónimo disse...

É isso mesmo! Cada um tem de fazer a sua própria revolução. Ando a pensar fazer a minha, mas como ninguém faz uma guerra sozinho, vou treinando com tudo o que está à minha volta. Resmungo, barafusto, protesto. Depois, já cansada, sento-me no sofá, leio, vejo um filme ou desabafo no Amirgã. Às vezes, converso com amigos que não querem saber de revoluções.
Até que elas nos entrem pelos dias dentro!

Anónimo disse...

A única forma revolucionária que tenho para me expressar é esta: "Volta Salazar, estás perdoado. Uma coisa sei que não fizeste: nunca roubaste o povo como estes sacanas o fazem..."