Ora, meu caro Lúcio, quando eu falo de mudança de partido estou a falar de mudança de regime. Porque é suposto que os vários partidos prescrevam vários regimes, cada um tentando servir o melhor possível as infra-estruturas produtivas de que se reclamam. Se permanecermos dentro das relações de produção capitalistas, disporemos de duas superstruturas fundamentais: a que defende o mercado livre e o enaltece, afirmando a sua sábia auto-regulação e vociferando que toda a sociedade moderna assenta nesse pilar. Chamemos-lhe, por preguiça, liberalismo; e a outra que entende dever intervir nas manifestações mais ou menos desbragadas dos mercados, regulando-os a partir do exterior, por meio de uma estrutura dotada de algumas normas socializantes, de dar a cada um segundo as suas necessidades, exigindo de cada um segundo as suas capacidades, a que chamaremos, por hipótese, social-democracia. A confusão que se engendrou nas sociedades do pós-guerra não passa de poeira lunar, como é o caso dos partidos sociais-democráticos ou mesmo liberais que resolveram, ao sabor de conjunturas várias, adoptar as designações de socialistas. Exageros publicitários e, obviamente, populistas.
São, pois, só estes, meu caro Lúcio. Não existe outra superstrutura conhecida que protagonize o sistema capitalista, apenas graus mais ou menos audazes se podem estabelecer de permeio. Não há superstruturas socialistas em que votar para a mudança, partindo do pressuposto que se pretende mudar para uma sociedade socialista. Socialismo é uma infra-estrutura, opõe-se terminantemente às leis selváticas do mercado e aos jogos de sedução e lucro capitalistas. Socialismo não se consegue pelo método de Hondt. Pode-se, sim, votar no liberalismo primário, destituído de estado social, se pretendermos radicalizar o capitalismo no seu melhor, equilibrando a balança e aumentando a produção e o PIB, mas à custa, obviamente, de um contingente de desempregados, de uma população frustrada, miserável e viciosa. Temos solução, meu caro Lúcio?
Regressando à mais comezinha politiquice, essa que inunda as folhas dos nossos jornais e as ondas etéreas das nossas rádios e televisões, não se vislumbra, de facto, nenhuma brecha ou postigo através do qual se veja paisagem outra que não o lodaçal onde patinhamos. Apeando o Partido dito Socialista, poremos lá o partido dito Social-democrata. Apeando os dois, poderíamos lá colocar o reaccionário Partido dito Popular, o PC dito Comunista ou o Bloco dito de Esquerda. E, se empossássemos algum destes últimos, garantiríamos seguramente um mundo muito melhor que o péssimo e muito pior que o óptimo. Tanto faz fez, como fez faz.
Resta-nos, pois, empossar a Virtude e a Justiça Absolutas, venham elas de onde vierem, militem elas onde militarem. Mas onde encontraremos tais coisas, caro Lúcio?
Post 701 (Imagem daqui)
1 comentário:
eta niilista feroz... :)
Pedro Lins
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