Ainda agora aconteceu de novo. A propósito de Margarida Fonseca Santos. Parece que a autora da peça “A Filha Rebelde”, levada à cena no Teatro D. Maria II, terá sido processada por sobrinhos de Silva Pais, director da PIDE DGS. O enquadramento judicial da autora terá sido motivado pelo facto de esta ter sugerido, na referida peça, que o General Sem Medo teria sido assassinado por aquele esplendoroso esbirro, director de tão prestigiada instituição.
Essa notícia, obviamente, sugeriu-me logo um manancial de posts. Optei, de imediato, por um comentário à própria notícia do Sol, mais ou menos nestes termos: “Curioso. Eu também estava convencido de que a PIDE é que tinha assassinado o General Sem Medo. Mas, claro, a PIDE é a PIDE e Silva Pais é apenas o seu Director, praticamente, não tem nada a ver com a prestimosa instituição. Mas que diabo, Humberto Delgado era apenas um perigoso esquerdista, segundo também ouvi dizer. Sendo assim, e se os meninos quiserem apenas reabilitar a memória do titio, talvez lhes baste esperar mais um pouco e ele será certamente bajulado e laureado pelo seu feito. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Para quê gastar dinheiro em tribunais? Tenham paciência, vá lá, é só esperar mais um pouco…”
Escrevi aquilo de rajada. Só depois fui ler os outros comentários.
Para meu espanto, quase todos apresentavam opiniões unânimes, quase todos adoptaram a mesma postura irónico-sarcástica.
Acontece-me vezes sem conta. E isso faz-me infeliz. Fico lastimoso porque não fui capaz de simplesmente descolar da opinião colectiva. E aquilo que me deveria deixar feliz, a comunhão de sentimentos e opiniões sobre os factos e as coisas, também me entristece, devido ao péssimo aproveitamento que, como sociedade, fazemos do acto de estarmos assim, quase todos, providencialmente unidos.
Para que me servirá integrar-me num rebanho tão coeso e homógrafo, tão irmanado na atitude, se isso não nos leva a mudar o mundo?
Post 708 (Imagem daqui)