A minha acta foi ontem aprovada com distinção, sem restrições, correcções ou adendas. Nunca percebi a razão pela qual muitos dos meus colegas se mijam todos para fazer uma acta. Para mim, uma acta é um produto intuitivo. Vomito actas por tudo e por nada. É um estado de permanente e ameaçadora iminência. Ao almoço com os amigos digo coisas que parecem actas. E por vezes são. A minha vida é uma acta. E minto e omito e retoco e simulo, tanto na acta como na vida.
Transcrevo agora um pequeno excerto da minha aplaudidíssima acta:
(…) Em cumprimento do ponto dois da ordem de trabalhos, foi solicitado aos professores que, como sempre, procedessem à necessária reflexão sobre os resultados obtidos e consequente posicionamento pedagógico para com os mesmos, sempre com o propósito de os melhorar, se, obviamente, for caso disso. Uma avaliação justa, rigorosa, sem o menor erro de natureza pedagógica ou administrativa é outra actuação primordial, profusamente recomendada pela Direcção, cujo cumprimento cabal se exige e se espera de todos os docentes. A Delegada de Grupo encorajou depois os professores a apresentarem eventuais problemas de natureza avaliativa, de que resultou a partilha de algumas, muito poucas, situações pedagógicas de solução mais delicada, como foi o caso apresentado pela docente Francelina Dominical que solicitou ao grupo um pequeno ajuste no peso da componente de produção oral. Este facto, como sempre, promoveu no Grupo a velha e recorrente discussão sobre a questão da indisciplina que alguns docentes mais visionários afiançam ter observado, em dias de muita sorte e sob conjugação astrológica favorável, etc. etc. etc. (…)
Alguém poderia apontar um defeito a esta acta? Claro que não. Preserva o são princípio de não dizer absolutamente nada. E nada mais havendo a tratar, dei por encerrado o post que, mesmo antes de ser lido por alguém, já vai assinado por mim, que o concebi e secretariei…
Post 690 (Imagem daqui)