9 de março de 2011

É possível almoçar com um erudito?

lunchSou leitor modesto. Possuo em média 60 a 80 livros roubados da Web e armazenados em dois ebook readers. Normalmente dão-me para dois ou três anos. Como possuo os readers há apenas um ano, ainda não esgotei os livros que lá tenho.

Leio devagar. Perco-me nas frases. Volto atrás. Recomeço. Perco-me outra vez. Quando finalmente entendo, descanso. Uma imagem pode dar-me para uma tarde inteira. Refresco-a à noite e sonho com ela. Leio pouco, de facto, muito pouco.

Tenho literal pavor de livros grossos ou demasiado densos. Evito-os acintosamente. Jamais li Guerra e Paz, o Capital, a Crítica da Razão Pura, o Ensaio de Ontologia Fenomenológica ou mesmo Cem Anos de Solidão. (Há autores assim: “não têm capacidade de síntese, prontos” – como diz uma das minhas alunas)

Mas encontrei pessoas que me garantiram ter lido aqueles livros todos, e muitos outros, embora não sejam capazes de me falar deles, ou sequer de deixar escapar uma reflexão ou um conceito que tivessem casualmente retido. É claro que essa mudez que, por vezes, me parece ignorância (sou um pérfido) pode não passar de uma sóbria reserva para proteger o meu pobre e desapetrechado intelecto de um manancial de verbo e conceito que ele, na sua trôpega mediocridade, não teria condições de suportar.

Há pessoas que leram tudo e muito mais. E não nos explicam nada… E eu, que leio tão pouco, estou, imaginem, sentado com elas a almoçar exactamente o mesmo prato, no mesmo exacto restaurante, exactamente na mesma mesa, tecendo, irmanados, os mesmos comentários torpes à zurrapa que nos serviram hoje…

Post 715     (Imagem daqui)

3 comentários:

Anónimo disse...

Esta análise é muito interessante. Tal como tu, leio pouco. Mas aquilo que leio não esqueço, tirei, digo eu,alguma coisa de lá.E realmente espanta-me que as pessoas leiam tudo, invejo essa sua capacidade. Mas ler tudo, ao mesmo tempo, não quer dizer absorver e pensar sobre isso. Acho que nós somos mais criadores/pensadores do que leitores...só pode ser isso. Bjinho Faty

Anónimo disse...

Não acredito no teu reduzido número de livros lidos.
As tuas reflexões, o teu refinado cinismo, a tua hilariante mordacidade, o teu riquíssimo acervo vocabular, a tua exigentíssima expressão não se adquirem com a leitura de meia dúzia de máximas, por mais geniais que elas sejam.
Não te escondas, João, que quem não te conhece pode acreditar.
Estou a lembrar-me dos momento do nascimento do Amirga e do Trala. Já vivem connosco há uma infinidade de posts!

Anónimo disse...

eheheheheh... Descobres-me a careca assim impunemente? espera só quando eu gritar aos quatro ventos que TU és uma leitora compulsiva e uma escritora a sério, de uma sensibilidade e um rigor linguístico primorosos e que o teu humor sardónico é sempre genial e abusivo... Vê lá se queres que eu diga que escreveste romances e contos belíssimos (Rente aos Passaros, por exemplo, só para citar um), e peças de teatro em cena, com sucesso retumbante, como por exemplo "Eram sete os medos do Pedro". Vê lá se queres...:):):):)
Grande abração
jmm