Os alunos que apanhei depois de 1985 já apresentavam alguma forma de desconforto quando precisavam de pedir desculpa. Vinte anos depois da revolução dos cravos já todos pareciam ter apenas direitos e nenhuns deveres. Trinta anos passados e ei-los privilegiados detentores de toda a verdade do universo.
Muitos desses nossos alunos estão hoje a ensinar aos seus filhos, adolescentes de um só sentido, de um monolitismo confrangedor, que o acto de pedir desculpa é uma exibição de fraqueza que não pode fazer senão mal aos espaçosos egos dos seus graciosos e louváveis rebentos.
Muitos políticos que hoje atafulham os partidos, que dormitam na assembleia e se refastelam nos governos ainda apanharam a escola de 85, se não no médio, pelo menos no ensino superior.
Deve ser então por isso que rejeitam tão frequente e veementemente o acto nobre e humano de pedir desculpa, mesmo quando tudo parece indicar que, em determinadas circunstâncias, seria essa a única saída airosa e a mais nobre das atitudes.
Qual será a razão que impede um governo de dizer coisas deste género: “Só sabemos fazer assim, não conseguimos fazer melhor. Se alguém souber, venha cá ensinar e colha os louros. Quanto a nós, ficaremos atentos, disponíveis para aprender e ajudar, se o novo projecto for, realmente, melhor que o nosso.” ?
Quanto a mim, palavras como estas representariam uma enorme vitória de quem tivesse a audácia e o denodo de as dizer sem afectação. E seriam também um passo de gigante na linha evolutiva do menos burro dos primatas. Mas tenho, de facto, dúvidas se significariam o mesmo para a grande maioria dos labregos que atravancam esta jeira…
Post 722 (Imagem daqui)
1 comentário:
Creio que estamos todos a aguardar com uma grande expetativa o futuro desenrolar dos acontecimentos! Mas esses senhores, "labregos" que são, vão obviamente corresponder à imagem que temos deles e vão continuar a não nos surpreender e não vão pedir desculpa nenhuma (esse vocábulo não faz parte do vocabulário deles)... Marla
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