25 de março de 2011

dos outros não sei…

jovemDos outros não sei. Mas sei de mim. E não assumo nem migalha de culpa na construção da chamada geração à rasca. Não pactuei com esta geração, quando a vi tratar alarvemente os seus pais e professores. Não embarquei no seu frívolo optimismo, na sua espantosa arrogância. Não a iludi com perspectivas douradas sobre o futuro, não lhe alimentei as boçais sobrancerias. Não lhe acariciei o já desmesurado ego.

Ensinei-lhe o sacrifício meritório e o oportuno sentido da renúncia. Reprovei-lhe sempre o hedonismo exacerbado em que se ia paulatinamente construindo (destruindo?). Vociferei sempre contra as teorias da escola lúdica que, necessariamente, desaguariam numa juventude asinina. Lamento que a geração à rasca não me tivesse escutado.

Agora, eis aí os jovens que o sistema educou. O sistema, que não eu. Ei-los aí, prateleiras cheias de diplomas atestando saberes escassos, poucas aptidões e menos princípios.

Mas não os invectivo. Tenho pena deles, que vogam sem barco nem bússola, num sistema que os traiu vergonhosamente. Tenho pena deles que finalmente praguejam cheios de razão e, contudo, poucos parecem dar-lha...

(E tenho também pena de mim que não posso usufruir, na minha velhice, do que me seria de direito: o consolo de ver uma juventude feliz e bem formada, idónea, responsável e meritória, poderosa, activa e complacente.)

Post 726 (Imagem daqui)

7 comentários:

Anónimo disse...

Comungo integralmente das tuas sábias palavras. Nunca contribui para esta geração à rasca.

PG

Anónimo disse...

Nascida no pós-25 de abril, eu faço parte da geração denominada de "rasca", mas não desta nova fornada (à" rasca"), que me parece tão inconsciente e mimada. Felizmente, recebi uma educação onde predominavam os valores e não o materialismo. Por isso, desde cedo aprendi que a vida não era fácil! Não recebi carro nem computador comprados graças ao sacrifício dos papás, como tantos outros, e acho muito bem! Mas, assisti, chocada, ao sacrifício de famílias da região que mal se alimentavam e se vestiam para que as criancinhas pudessem ostentar marca X ou Y ou um automóvel novo. Que pena estes progenitores não terem a mesma visão que o João! Marla

Anónimo disse...

Esse sacrifício das famílias, que tão bem caracterizas aqui no teu cometário, também se encontra muito bem expresso num texto de Mia Couto que acabei de receber agora mesmo por mail. Abraço.
joao de miranda m.

Anónimo disse...

Eu não sou da geração rasca (deus me livre!;) nem desta, à rasca. Quer dizer há coisas que estão francamente mal mas passa muito por mentalidades e comportamentos que foram sendo forjados por pais ditos modernos mas que não educam para a autonomia. Por outro lado (ou pelo mesmo) a baixa exigência pedida a estes jovens, fruto do facilitismo, não podia agravar mais o vazio geracional que se verifica. Valores, valores um bocadinho à moda antiga precisam-se. E não sou propriamente passadista. Mas liberdade não é libertinagem nem ausencia de responsabilidade, nem frivolidade. Adorei o texto, mais uma vez. Grande beijinho Faty

joao de miranda m. disse...

E eu estou encantadamente de acordo com o que dizes. :)

Anónimo disse...

Belíssimo texto, acutilante mas contido.
No entanto, a autodesculpabilização pareceu-me excessiva. Parece que ninguém tem culpa de nada neste país...
Jorge Gabriel Margão

joao de miranda m. disse...

Caro Jorge,
Obrigado por ter comentado.
Pode acreditar que não tenho, de facto, muita culpa. E, a valiar pelo que me diz, acredito que também você não a tenha. Deixemos que outros a assumam primeiro. Há certamente muitos que o podem fazer com maior propriedade do que nós dois. :)
Abraço.