9 de dezembro de 2010

mais uma incursão pela (ir)realidade da escola pública

esquizofrenia É certo que a escola não inventou a esquizofrenia em que se move, visto que a escola não tem capacidade para inventar nada. Ela deixa-se simplesmente penetrar por ela (a esquizofrenia), com a promessa de se sentir depois mais feliz e realizada.


(Imagem daqui)

A escola pública está esquizofrénica. O que se passa dentro dela, e a montante e a jusante dela, é uma complexa teia de irracionalidades, todas convergentes numa mesma disfunção social, como se ela contaminasse mesmo os clientes que ainda não a frequentam. Evidentemente, a jusante, isto é, os que de lá saíram, esses estão sem remédio, metidos na camisa-de-forças que é a incompetência situacional. Ao saírem da escola secundária (e porque não da superior?), as gentes que nela sofreram durante 17 mais ou menos risonhos anos adquirem um estado de demência sem retorno, que os levará até o limiar do seu nível de incompetência que, no dizer de Peter, é um plano social e profissional indisponível para promoção.

Já ouço os meus leitores perguntar a razão porque estou a dizer isto. Essa é uma questão a que não posso responder. O objectivo de eu falar disto é tão obscuro como a intenção da própria escola pública. Não posso, pois, responder com clareza, a menos que se satisfaçam com a resposta

esquizofrénica de que estou a falar disto simplesmente porque sei que é assim. Reconheço que, para uma pessoa normal, o facto de se saber uma coisa não é razão para se falar dela. Mas não para um esquizofrénico. Já viram? Eu sou professor e garanto que aquele meu colega que toma bicas de empreitada está com problemas em entender o que eu digo, não porque eu sou esquizofrénico e ele não, mas antes porque ambos o somos, porém de maneiras esquizofrenicamente diversas.

É certo que a escola não inventou a esquizofrenia em que se move, visto que a escola não tem capacidade para inventar nada. Ela deixa-se simplesmente penetrar por ela (a esquizofrenia), com a promessa de se sentir depois mais feliz e realizada. Qualquer namorado faz o mesmo. E ela, claro, colabora. Qualquer rapariga apaixonada faz o mesmo, desde que não doa.

É isso, amigos. A escola só parece desejar que nada doa. E os partos, depois, serão também com epidural. É a felicidade indolor para todos, a esquizofrenia universal da suprema e resplandecente bem-aventurança…

(Ah, tem outros ainda piores que eu, sabiam?)

PS: Corrijam-me lá isto, vá lá. É Natal…

2 comentários:

odete ferreira disse...

A postura dentro dos muros escolares e no exterior é tão diferente. Ainda há dias, o miúdo irreverente de cara borbulhada, que me olhava do alto da sua fortaleza e me lançava olhos de faíscante provocação, se aproximou de mim, quase reverencialmente, para me pedir um favor, caso não me importasse. Naturalmente, faltava-lhe o escudo do grupo e o poder do aluno. A escola não o protege fora de muros.

Anónimo disse...

Dedo na ferida. A escola deixa de o proteger e ele ainda não sabe proteger-se. Quanto a mim, só se aprende verdadeiramente em ambiente hostil. Fora da escola a vida o ensinará. E parece já ter aprendido alguma coisa ao se dirigir reverentemente a ti. :)

joao de miranda m.