27 de dezembro de 2010

minudências minhas

  A colher antiga cozinha  imagem Subjects RetroA colher velha

Encontrei ontem uma colher de sopa. No fundo de uma gaveta inexpugnável, de alquebrado armário no sótão soturno do esquecimento. Foco, João, foco. É um sótão mesmo, real, soalho rangente, clarabóia, telhas. Mas soturno, sim, convenhamos, e esquecido, time-capsule de um tempo que passou. Uma colher de sopa, de alumínio, ou de prata, ou de estanho. Qualquer coisa menos aço inox. Escurecida e perdida em pensamentos, lágrimas de saudade pendiam-lhe do cabo… Foco, João, foco. Uma colher velha, sem valor. Assim é que é. Uma mão de mulher, mão de trabalho, mão de jeira, mão de carinho, pegava nela nos dias de domingo. Depois da missa. Mexia o oloroso café de uma cafeteira mítica que procurei depois como um louco, mas não encontrei. “Está feito, para a mesa!”. “Vamos ,João?” “Vamo pai, vamo depersa”. Foco, João, foco. O cheiro do café e da segurança, do calor, do aconchego, do tudo que era então. A colher de alumínio, de prata, estanho, a mão de minha mãe, os meus 5 anos, a voz cava e meiga do meu pai, a esperança, o sonho, o futuro. Foco, João, foco.

(A colher velha – time-capsule da alma)

(Imagem daqui)

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