Os professores trabalham, de facto, mais. Em contrapartida, passaram a ganhar menos, estagiando perpetuamente no mesmo escalão, devido à crise e ao azar de terem nascido aqui. Até nisto a educação melhorou, ao se obterem melhores resultados com menos esforço orçamental. (Imagem daqui) |
Não, não há facilitismo. O que há é uma simples mudança de paradigmas. Dantes também havia alunos que se entretinham a odiar os professores ou a troçar deles, a arreliar os mais velhos com as suas arrogantes mesuras e a sua já deficiente educação cívica e valorativa. Já desde Horácio que os há, e os houve no salazarismo, e nos anos 80 e 90. Desde sempre houve estudantes que detestaram a escola, o estudo, o trabalho, a ordem, a disciplina, o saber. Desde sempre houve estudantes que faltavam às aulas para se drogarem, que estragaram o material escolar por mero prazer, que atentaram contra a pequena propriedade privada dos pobres professores, roubando-lhes as ameixas, quebrando-lhes as janelas, açulando-lhes os cães, espavorindo-lhes o cavalo ou riscando-lhes o automóvel. Desde sempre. Mas nesses escandalosos tempos também havia chumbos, os vergonhosos chumbos que tanto comprometem os governantes de um país e tanto perturbam a sua imagem no exterior. Mas, segundo a OCDE (que coisa será isto?), melhorou-se muito! A educação finalmente arrancou e Portugal, tal como fez com o deficit externo, está no bom caminho também em matéria de educação. Os nossos alunos recrudesceram na selvajaria, mas as notas subiram substancialmente. Os professores passaram a trabalhar mais, desperdiçando grande parte do seu tempo em substituições inconcebíveis, apoios a alunos que só aparecem nas vésperas dos testes e num horário acrescido de aulas suplementares (não remuneradas, é claro, para não | destoar) destinadas a alunos com muitas dificuldades porque, em vez de estarem atentos, estiveram a arreliar o professor nas aulas curriculares. Os professores trabalham, de facto, mais. Em contrapartida, passaram a ganhar menos, estagiando perpetuamente no mesmo escalão, devido à crise e ao azar de terem nascido aqui. Até nisto a educação melhorou, ao se obterem melhores resultados com menos esforço orçamental. Os professores estão, de facto, a trabalhar mais, mas a ensinar menos, porém o suficiente para fazer a OCDE (mas que porra será isto?) abrir a boca de espanto, os olhos de respeito e os cordões à bolsa de júbilo, tal como o papá descola um ipod novo quando vê um bom. Os professores continuam a apanhar dos alunos, a serem gozados por eles, a rebaixarem-se timidamente perante pais cada vez mais agrestes, a verem os seus carros maltratados, só que a mudança de paradigma de que falei antes dita-nos agora que a culpa de tudo é exclusivamente dos professores (mesmo a culpa do artificiosamente colorido retrato publicitário para Europeu ver). Só não sei o que se dirá quando se descobrir que os cabos-rasos dos professores também sabem iludir (-se), aceitando ficar na linda fotografia do sucesso educativo… Um a um, vão-se aproximando do fotógrafo borboleta, tomando lugar nas bordas da foto, de onde facilmente poderão ser um dia recortados… |
1 comentário:
A rejeição à escola está, como todos sabemos, ligada à rejeição à autoridade, ao primado da liberdade.
Só que alguns deformam ou enformam essa ânsia e, eles próprios, se transformam em mestres escolares.
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