9 de julho de 2008

Inépcias

inepcia Sinto-me como quando tinha quinze anos.

Evidentemente, não estou a falar de pujança física, ou de saúde a rodos, ou de alegria tonta, ou de paixão incontinente, ou de esperança enérgica ou de todas as vigorosas mazelas dessa idade. Não. Sinto-me como quando tinha quinze anos porque, nesse tempo, sofria admiravelmente, todos os fins-de-semana, o martírio de ter que escrever uma redacção até domingo à noite ou, na melhor das hipóteses, até às nove horas de segunda-feira, momento em que tinha que a ler em voz alta perante o irascível Professor Álvaro. Não era nada fácil. Só muito mais tarde revivi esses terrores, esses suores, quando a crónica radiofónica não saía, ou quando, no momento da entrega, a acta se me desconjuntava toda em fragmentos desaparelhados.

Hoje sei que a atávica sensaboria do que escrevo (que perpetuamente me seguiu, desde as redacções do Dr. Álvaro até aos relatórios, actas e blogs, passando pelas crónicas na rádio) teve sempre a mesma causa: uma inépcia monumental. Mas tratava-se de uma inépcia articulada sobre panoramas diversos: a inépcia das redacções escolares provinha do facto de nada ter para dizer e precisar, portanto, de inventar; a inépcia do blog procede de ter tanto para dizer e de não haver mais razão para inventar nada, a não ser o silêncio, a mudez provocada, provocatória.

(Mas, ainda assim, inepta…)

 

(Imagem tirada daqui)

2 comentários:

effetus disse...

...a isto chamo eu fase de negação... eheheheh...
Quem escreve algo sobre inépcia de escrever, da forma como escreve, será tudo menos inepto!
Ou então, bendita inépcia!
Um abraço!

joao de miranda m. disse...

Não sejas assim. É por causa de bloggers como tu que eu teimo em continuar na lusosfera. Trata-se de querer lucrar alguma coisa com as boas companhias, uma tentativa de aprender por osmose...