26 de julho de 2008

Tenho um apêndice entalado entre as palavras

Virgula Sempre me interessei pela vírgula. Desde muito cedo refutei a teoria primária colegial de que a vírgula servia para respirar. A vírgula é o sinal de pontuação mais manhoso da nossa língua. Franceses e ingleses estão agora só agora a dar-se conta de como pode ser transcendente virgular com dignidade. Quanto a nós desde o professor ao cientista desde o politico ao jornalista passando pelo escritor e pela minha empregada de fora (meu deus como virgula mal aquela mulher - virgula quase tão mal como poda e rega) todos virgulam de modo tão primário como os meus alunos do sétimo ano.

Estudo virgulação há vários anos e aprendi que ninguém me pode ensinar tão transcendente competência. Nunca encontrei uma vírgula em Mário Cesariny de Vasconcelos nem em Daniel Filipe nem em Melo e Castro nem em Natália Correia (esta nunca terá ouvido sequer falar de tal apêndice) nem em José Forte nem em Maria Teresa Horta nem em Gastão Cruz nem em António Aragão nem em Dórdio Guimarães nem em Saramago nem na Guidinha nem mesmo neste meu pobre texto. Muito poucas em Pedro Tamen e poucas e más em Ana Hatherly.

Decididamente não se pode aprender esta matéria com escritores.

O problema é que estou a criar uma rejeição quase histérica a quem virgula mal. A única classe que irremediavelmente discrimino é a classe dos maus virguladores. O tipo virgula mal pronto perdeu a razão e nunca mais confio nele nem para amolador de tesousas.

Sou um animalejo inofensivo. Mas se algum dia tivesse que linchar alguém seria certamente um desses desvirguladores fanáticos.

(Imagem tirada daqui)

Hoje deu-me para olhar para a carteira…

burro1 Por que será que os velhos clientes de qualquer empresa de serviços, os mais fiéis (aqueles que mais lucro já deram, visto estarem há mais tempo a ser comidos), são sempre mais mal tratados do que os novos? Será que as empesas pensam que têm os old ones for granted?

Quando se trata de um bem determinado no tempo, como por exemplo a compra de um telemóvel ou de um computador, ainda faz um certo sentido que quem já comprou ontem tenha pago o dobro de quem vier comprar amanhã. (Faz sentido, embora dê cá uma raiva…). Porém, serviços continuados, como, por exemplo, a televisão por cabo ou satélite, a Internet adsl, ou mesmo a assinatura da revista Deco não deveriam discriminar tão negativamente os velhos fregueses em detrimento dos novos aderentes.

Acabei agora de verificar que as ofertas de serviços idênticos aos novos clientes são, indiscutivelmente, muito mais favoráveis do que as precaríssimas condições em que estão mergulhados os clientes mais antigos. É como se o facto de eu entrar na loja mais cedo me vá penalizar no preço da mercadoria… Parece um contra-senso e nem acredito que esta política venha a ser muito saudável para as empresas, tão logo as pessoas se apercebam a sério destas anómalas situações.

Fiquei siderado ao perceber que pago, há seis anos, 35,57 por uma ligação adsl de 8 mbs, quando os novos aderentes estão a pagar 29,99 por 16 megas e ainda recebem serviço de telefone com chamadas ilimitadas. Trata-se, quanto a mim, de um abuso inqualificável. No cabo passa-se coisa idêntica: possuo, há cinco anos, o pacote clássico por 26,08 com ligação a um só televisor e agora a empresa está a aliciar os novos aderentes com um faustoso clássico por 23,39 que ainda permite ligação a três televisores.

Que espécie de ódio terão eles contra quem já subscreveu os serviços há mais tempo?

Isto é mesmo assim? Tem sentido? Há alguma razão ética? Há só uma razão comercial? Estou enganado e isto não está a acontecer nem a mim nem a ninguém?

(A sério, se alguém souber o que se passa e por que se passa, informe-me. Agradeço, não em meu nome pessoal, mas em nome da minha carteira, coitada…)

(Imagem tirada daqui)

25 de julho de 2008

Much ado...

gestao escolar Não me preocupa sobremaneira o novo modelo de gestão antidemocrático. Cada regime ou sistema traz consigo a génese do seu contrário. Não foi o modelo democrático que permitiu o engendrar deste que agora se prefigura? Presumo que sabem porquê e desejo ardentemente que sim, para não ter que produzir aqui uma explicação pormenorizada.

Perdeu-se a democracia na escola. E daí? Uma gestão democrática envolver-me-ia, necessariamente, no projecto da escola. E quem, em seu juízo perfeito, estaria interessado em se envolver num propósito tão abjecto como o que representa esta escola hoje? Claro, certamente, os que o ministério comprou. Mas sobre esses não garanto nada, nem mesmo que estejam em seu juízo perfeito…

(Apesar de tudo, direcciono os meus leitores para o texto “contra o novo modelo de gestão escolar”, onde poderão ler sobre o assunto.)

(Imagem tirada daqui)

Smile… you’re in candid camera

Sorriso Ter de sorrir está-se a tornar insuportável. Sinto que estou a mobilizar um exército de músculos e de outros elementos faciais. Muitos mais do que os que movimento para simplesmente deixar cair as beiças e as pelancas deste meu imperturbável frontispício. O resultado desta construção hercúlea do convenientíssimo sorriso é um cansaço desmesurado, uma prostração quase definitiva.

Reconheço que um bom sorriso me poupa algumas chatices quotidianas. É por isso que penosamente tento construí-lo e mantê-lo. A relação com os outros pode melhorar, fica mesmo mais provável que alguém por perto sinta um súbito desejo de me pagar a bica ou de me ceder um cigarro. Tudo isso é benefício civilizacional.

Mas a que preço, caramba!

(Imagem tirada daqui)

24 de julho de 2008

Menos televisão, por favor!

TVCABO Estimados Senhores

O que pretendo é, de facto, um downgrade do pacote Clássico para o pacote Selecção que foi, aliás,  o que pedi inicialmente, no momento da subscrição do V/ serviço de TV por satélite e não um upgrade para mais canais e mais telefone e Internet mais rápida, como creio seria do gosto de V. Exas. Deve ter-se formado entre nós um hiato de comunicação, o que não admira, visto que um homem sem dinheiro fica tendencialmente autista.

A razão que me levou a solicitar este downgrade é uma razão de natureza predominantemente  económica, isto é, estou a ficar ensopado em dívidas e a ver-me obrigado a cortar seriamente em todas as despesas. E V. Exas aparentam ser uma delas.

Se, como me escreveram, o downgrade que lhes solicito não é exequível, desejaria ser informado da razão desse facto do mesmo modo claro e inequívoco com que acabei de informar V. Exas da razão do meu pedido.

A escusa avançada por V. Exas de que "não se verificam todas as condições necessárias" não colhe nem me parece suficientemente apaziguadora. Teria, assim, todo o prazer em conhecer pelo menos uma dessas condições necessárias que tão irredutivelmente impediram a satisfação da minha “empenhada” súplica.

Ficarei, entretanto, calmo e embevecido, coleccionando as facturas emitidas mensalmente por V. Exas, angelicamente destituído de qualquer intenção séria de as pagar.

Com enlevada estima e consideração

Um professor verdadeiramente "empenhado"

(Imagem tirada daqui)

19 de julho de 2008

A morte e a morte…

jorge amado Fui bebido ontem ao cair da noite.

Por toda a tarde, meus amigos ébrios transportaram-me de tasca em tasca, achando que eu ainda estava vivo. Quando finalmente descobriram o meu estado rígido e frio, sepultaram-me sobre a mesa da sala e esgotaram um garrafão de bagaço. O álcool fazia-os rir e chorar.

(Eu divertia-me com esse seu estado indeciso, embora apreensivo pelo que se faria de mim quando eles saíssem e me deixassem só).

Um alambique na madrugada

Alambique[1] Hoje acordei com vontade de fazer aguardente. Por alguma razão cheirou-me a Setembro. Na imagem estava o meu pai sentado junto da fornalha do alambique, um prato de batatas e algumas postas de bacalhau prontas para assar, enquanto um fio de um destilado cristalino escorria por uma folha de tangerineira. Um exotérico aparelho estava mergulhado na bilha de vidro que aparava a cachaça. Meu pai passava horas a verificar a flutuação do teor alcoólico.

(Não sei por que razão hoje acordei com vontade de fazer aguardente. Ou foi o tempo que me cheirou a Outono ou o outro tempo que me cheirou à vida que se vai destilando, inexorável, em fino fio, através de uma folha seca de tangerineira…)

(Imagem tirada daqui)

9 de julho de 2008

intendencia1

Foram corrigidos erros e gralhas de vária ordem desde 05 06 2008 até à presente data.

Inépcias

inepcia Sinto-me como quando tinha quinze anos.

Evidentemente, não estou a falar de pujança física, ou de saúde a rodos, ou de alegria tonta, ou de paixão incontinente, ou de esperança enérgica ou de todas as vigorosas mazelas dessa idade. Não. Sinto-me como quando tinha quinze anos porque, nesse tempo, sofria admiravelmente, todos os fins-de-semana, o martírio de ter que escrever uma redacção até domingo à noite ou, na melhor das hipóteses, até às nove horas de segunda-feira, momento em que tinha que a ler em voz alta perante o irascível Professor Álvaro. Não era nada fácil. Só muito mais tarde revivi esses terrores, esses suores, quando a crónica radiofónica não saía, ou quando, no momento da entrega, a acta se me desconjuntava toda em fragmentos desaparelhados.

Hoje sei que a atávica sensaboria do que escrevo (que perpetuamente me seguiu, desde as redacções do Dr. Álvaro até aos relatórios, actas e blogs, passando pelas crónicas na rádio) teve sempre a mesma causa: uma inépcia monumental. Mas tratava-se de uma inépcia articulada sobre panoramas diversos: a inépcia das redacções escolares provinha do facto de nada ter para dizer e precisar, portanto, de inventar; a inépcia do blog procede de ter tanto para dizer e de não haver mais razão para inventar nada, a não ser o silêncio, a mudez provocada, provocatória.

(Mas, ainda assim, inepta…)

 

(Imagem tirada daqui)

5 de julho de 2008

Por esta semana a Bossa faz meio século

bossa nova Eu tinha sete anos quando rompeu a nova música brasileira em Copacabana e no Leblon.

Não me lembro de me ter apaixonado por ela, nessa idade. Na verdade, o meu primeiro rádio só chegou em 1959 e Bossa Nova não seria ainda matéria que preocupasse as direcções de programas musicais da época. A televisão, essa, só teve a sua entrada triunfal aqui na aldeia em 1960 (O Sr Henrique Madail, do Café Olímpia, instalou-a à janela, olhando para o exterior).

Mas ouvi muito cedo falar do joelho de Nara Leão! E só uns anos mais tarde (em 66) soube que fora Vinicius que a eles se referira com a lubricidade e a incontinência verbal que possuía (ambas e cada uma delas mais que a outra, suponho) nessa época.

Ouvi Bossa pela primeira vez no Zip, em 69, olhando extasiado para a monumental televisão do Sr. Henrique, entretanto recolhida ao interior do café. E era, vejam só, Nara Leão. Procurei, em vão, o tal joelho de Vinicius. A televisão do Sr. Henrique era, definitivamente, demasiado apudorada para o meu gosto. E o joelho de Nara ficaria para sempre oculto, lendário, mitificado. Um pouco como a própria Bossa.

Para além de Vinicius de Morais, conheci então João Gilberto, Baden Powell, Luiz Bonfá, Carlinhos Lyra, Bôscoli, Sylvia Telles e tantos outros.

Quando a Bossa se misturava com Debussiy, Ravel e com o melhor do Jazz norte-americano, rendia-me, e ainda hoje me rendo, despudoradamente, aos seus encantos.

Viva a Bossa. Está uma mulherzinha.

OUÇA BOSSA AQUI!

(Imagem tirada daqui)

3 de julho de 2008

À volta do estudo de João Freire

(Divulgo um texto de excepcional qualidade que me foi enviado por email, proveniente da APEDE e que se encontra publicado aqui, no seu site oficial. )

 

PARA UMA GENEALOGIA DO ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE ?

1
SOBRE O ESTUDO DE JOÃO FREIRE
Recentemente, tem sido objecto de crescente atenção um texto que dá pelo título de Estudo sobre a Reorganização da Carreira Docente do Ministério da Educação, da autoria de João Freire, sociólogo do ISCTE e mentor da actual Ministra da Educação. O Paulo Guinote deu-lhe o devido destaque no seu blogue, e outros o têm comentado. Trata-se de um texto que permaneceu, durante demasiado tempo, no "segredo dos deuses". Percebe-se porquê: ele constitui, ao mesmo tempo, a matriz inspiradora e a legitimação "a priori" da revisão a que esta equipa ministerial entendeu submeter o Estatuto da Carreira Docente. Precisamente por isso, este texto merece sair do quase secretismo onde foi estrategicamente encerrado e deve ser exposto diante dos seus principais interessados: os professores.
A análise a que o iremos sujeitar não pretende ser exaustiva. Deter-nos-emos apenas nos aspectos que nos parecem mais significativos. Descobrir este texto é, de facto, mergulhar nas raízes de muitas das políticas educativas que o Ministério tem despejado sobre as escolas e sobre os profissionais do ensino. O Paulo falou de «arqueologia» do Estatuto da Carreira Docente. Nós preferimos o termo mais nietzschiano de genealogia, por ser uma palavra que retém uma atitude de suspeição face às maquilhagens retóricas que procuram disfarçar e servir certos interesses inconfessados e inconfessáveis.
Logo nos primeiras páginas do relatório de João Freire, há um pormenor que não pode deixar de causar estranheza até ao leitor mais distraído ou mais benevolente. De facto, o estudo parece ter sido encomendado pela Ministra a 27 de Setembro de 2005, numa carta onde explicitava os objectivos que esse trabalho deveria preencher: nada mais, nada menos do que a «revisão urgente do modelo de progressão nas carreiras de educadores de infância e de professores do ensino básico e secundário, norteada pelo princípio da valorização da prática lectiva e sustentada por referências comparativas com outras carreias profissionais de estatuto social equivalente em Portugal e com carreiras homólogas em outros países» (p. 8). Seria de esperar que um objectivo tão extenso e tão ambicioso, requerendo o tratamento analítico de imenso material empírico, a exploração de comparações pertinentes entre sistemas educativos de vários países e entre carreiras profissionais diversas, obrigasse a um longo período de trabalho científico. A virtude da "ruminação", própria do tempo da ciência, não se compadece, de facto, com as "urgências" do tempo político. Ora, qual não é o nosso espanto quando constatamos que João Freire realizou a proeza de ter o estudo pronto em... Dezembro. Pouco mais de três meses foi quanto bastou para responder a um objectivo cuja complexidade intrínseca pareceria incompatível com a celeridade das decisões políticas. Em nosso entender, esta pressa contamina todo o estudo de João Freire e compromete a qualidade e o rigor que alguns, mais "generosos", lhe apontam. Na verdade, pensamos que aqui a questão da temporalidade não é inocente, nem isenta de consequências. Ela remete para um ponto fundamental e embaraçoso da actividade científica contemporânea: o das relações promíscuas entre a ciência institucionalizada e o poder político. Numa cultura em que a religião deixou, há muito, de fornecer a caução legitimadora dos actos políticos, é a ciência que se vê solicitada a desempenhar esse papel. Os ganhos materiais e simbólicos que daí decorrem são um poderoso atractivo para muitos cientistas e uma almofada sedutora onde repousam muitos casos de desonestidade intelectual. Poder-se-á objectar que o estudo de João Freire, na sua génese, nunca pretendeu constituir uma tese de investigação aprofundada sobre um determinado tema, mas, tão-só, um produto de encomenda para satisfazer uma necessidade política conjuntural. Porém, não é exactamente assim que ele se nos apresenta, nem é assim que o seu autor e o próprio Ministério o querem ver reconhecido. O texto de João Freire habita, pois, uma zona cinzenta onde o científico se confunde com o político, e na qual o ideológico se recusa a dizer o seu nome. Cabe-nos, portanto, denunciar o que procura, desse modo, furtar-se ao nosso escrutínio.
Outro motivo de perplexidade que encontramos no início deste estudo é o enunciado dos «princípios e principais problemas esperados» (p. 9). Notem que não são «princípios» e «problemas» quaisquer. São, isso sim, princípios e problemas «consensualizados» numa reunião do autor com a Ministra. Essa «consensualização» obriga-nos a lê-los com atenção redobrada. Quanto aos princípios, deparamo-nos, desde logo, com a ideia de «progressividade, implícita na noção de carreira, com ou sem limitações de acesso aos escalões mais elevados, mas com reconhecimento do mérito individual e valorização da experiência». Sim, leram bem: parece que a Ministra e o seu antigo mestre João Freire admitiam que a progressão dos professores pudesse ser feita sem limitações de acesso aos escalões mais elevados. É verdade que semelhante hipótese vai ser rapidamente descartada pelo próprio estudo, mas não deixa de ser bizarro vê-la referida à cabeça do texto. Também é digno de nota, por ser tragicamente cómico, que entre os tais princípios «consensualizados» se contem coisas como a «simplicidade de compreensão do sistema e dos próprios processos» e, sobretudo, a «não desvalorização salarial dos docentes em exercício». A obscuridade perversa dos textos legislativos produzidos pela actual equipa ministerial ? um detalhe em que ela não é, aliás, inovadora ? e as medidas economicistas para bloquear a promoção salarial dos professores dispensam comentários adicionais sobre a coerência com que o Ministério tem interpretado esses dois últimos princípios. Mas, quando nos voltamos para os «principais problemas esperados» pelo autor do estudo, encontramos afirmações deveras curiosas (embora não necessariamente intrigantes). De facto, João Freire considerava "problemática" a «manutenção de uma carreira única», ou que a «transição de regimes legais» se fizesse com «respeito por direitos adquiridos», ou ainda - e isto é verdadeiramente espantoso num texto que se quer científico e nada ideológico - a «negociação da concretização ou ajustamento de soluções com as associações sindicais do sector». Será aqui que devemos encontrar a raiz do desprezo com que Maria de Lurdes Rodrigues tratou os sindicatos de professores ao longo de todo o processo negocial do Estatuto da Carreira Docente?

(Para continuar)

2 de julho de 2008

Impõe-se diversificar

encruzilhada Mas num tempo em que a minha temática privilegiada caducou despudoradamente, o Trala diversifica-se. Tem de diversificar-se para sobreviver. E se o Trala sobreviver, sobreviverei eu.

Declara-se, assim, aqui, o fim da obsessão. Está certo, o Trala foi (é) um blog sobre educação mas, sendo-o tanto, arriscar-se-ia demais a deseducar-se, se persistisse nela, do modo tão furiosamente exclusivo como o vinha fazendo.

Admito. A educação é um assunto intrigantemente obsessivo. Não se pode parar de falar dela sem se sentir que se deixou de falar de algo essencial. Falar de educação é o primórdio do discurso da vida. Mas essa educação efabulada, que o Trala se propôs obstinadamente servir, não existe mais. Uns energúmenos, de que não conheço os rostos nem os fins, enfiaram-na inteira dentro de uma gaiola infecta onde estiola à míngua de ar. Empapelaram a educação. Emparedaram-na. Empalaram-na...

Há mais mundo para além da educação. Tantos blogs me disseram isso e eu, obstinado, aqui a somar dias tristes e pálidos amuos...

(Imagem tirada daqui)

1 de julho de 2008

Decepções semióticas

decepção

Acontece-me, por vezes, olhar para as palavras, sobretudo as palavras que ouço, e não as reconhecer mais como minhas, como nossas, como fazendo parte de uma continuidade lexical competente, lúcida. O que leio (e, sobretudo, o que ouço) encontra-me sempre desesperadamente distante, como se alguém tivesse construído uma barreira entre os que me rodeiam e falam e dizem e fazem coisas (tantas coisas) e esta minha recentíssima inépcia de os entender.

Todos estarão, porventura, à espera que eu agora diga “vem tudo isto a propósito de…”. Mas não digo. Não vou dizer. Não se trata de sonegar informação aos meus leitores, mas antes de uma magistral burrice que adquiri à força de tanta humilhação, de tanta leviandade, de tantos factores de indignação e mágoa.

E aos que esperavam que eu concretizasse agora a razão do que escrevo, perdoem-me a frustração de os deixar assim, traídos e quase conformados.

É que não sei mesmo como me explicar melhor. Quem sabe amanhã…

(Imagem tirada daqui)