Tropecei num ponto de interrogação mal arrumado e deixei cair o dicionário. Detesto coisas em gancho, como pontos de interrogação, anzóis, embustes e outras esparrelas onde facilmente se tropece. Detesto a minha desengonçada aselhice para evitar o que me enrola, enrolando-se nas patas…
As palavras espalharam-se pelo chão, arfantes, boquiabertas, atónitas. Algumas estavam a recuperar do abuso a que foram sujeitas ultimamente. Dormiam no fundo das páginas o sono reparador que vem depois da canseira. Outras, mais evasivas, esgueiraram-se escada abaixo e saíram rastejando por debaixo da porta. As mais voláteis e etéreas apanharam boleia num sopro que uma janela aberta debitou na sala.
Perdi-as quase todas. Só recuperei as mais trôpegas, as que os políticos não quiseram, as que os poetas desprezaram, as que ninguém solicita ou admira. Com elas fiz isto que os meus pacientes leitores acabaram de ler…
Post 748 (Imagem daqui)
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