Uma das teorias mais erradas sobre a educação dos nossos alunos é a que nos assegura que as crianças aprendem pelo bom exemplo. Ora bem, aprendem pelo bom exemplo de quem? Eu vos asseguro que não é pelo exemplo impecável dos professores. Seguirão certamente, e sem o mínimo desvio, o exemplo dos craques de futebol ou dos roqueiros mais da berra, mas nunca o exemplo dos professores.
Os professores são pobres, honestos, dinâmicos e… estafados. Os seus alunos esforçam-se, portanto, por serem ricos, pilantras, madraços e folgados. E sê-lo-ão com prazer, desde que isso signifique contrariar os seus pobres mestres.
Na verdade, se queremos construir uma juventude trabalhadora, activa, responsável e disciplinada temos que lhes passar a imagem de que somos exactamente o contrário, adoptando posturas claras de mandrião, de insubordinado, de inconsciente e de madraço. Assim, devemos esquecer-nos sistematicamente de dar testes ou, no caso de darmos algum, devemos esquecer-nos de o corrigir ou entregar; devemos desistir definitivamente de preparar aulas ou de produzir materiais didácticos; devemos passar ostensivamente a ressonar nas aulas e a arrastar os fundilhos pelos pestilentos corredores (beijos, abraços e amassos incluídos); devemos negar hoje o que afirmámos ontem e desatar a morder canelas de directores e encarregados de educação, e de tudo o que mexe, e sujar as paredes e pontapear as mesas e distribuir murros e cabeçadas por tudo o que cruzar o nosso caminho. Se conseguirmos operar em nós esta desejada transformação sociopedagógica, produziremos finalmente os cidadãos honestos, educados e respeitáveis que sempre quisemos ter e nunca tivemos, simplesmente porque, inocentes, acreditámos no poder do bom exemplo.
Maior estultícia ainda do que essa é acreditar que os nossos alunos ainda nutrem por nós alguma réstia de admiração e respeito. É estado de imbecilidade severa, exigindo internamento.
Post 755 (Imagem daqui)
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