9 de abril de 2011

Do amor e outros olvidos (5)

abordagem A abordagem


Nunca ninguém viu um homem rico que fosse feio, nem um pobre que fosse belo. Um homem rico impõe logo a sua eventual feiura como beleza universal.

 

Achavas então que eu não voltaria ao assunto, meu caro Paulo! Vê-se que não me conheces suficientemente. Certamente imaginaste que o facto de as minhas abordagens anteriores se terem saldado por um certo fracasso, em termos de audiência, amoleceria o meu desejo de continuar. Como achas tu que eu consegui o que consegui (embora muito pouco, quando comparado com o primo João Luís, é claro)? Desistindo logo à primeira nega? Claro que não, companheiro.

Hoje, quero-te falar da abordagem. Sim, não, bom, não é propriamente essa dos piratas em alto mar. É a abordagem que se faz às mulheres, certo? Ora aí está. Mas é uma abordagem, quand même…

Na vida, caro Paulo, há dois tipos de homens: os ricos e bonitos e os feios e pobres. Raramente estes adjectivos fazem permutas entre si. Nunca ninguém viu um homem rico que fosse feio, nem um pobre que fosse belo. Um homem rico impõe logo a sua eventual feiura como beleza universal. Um homem pobre que seja, por hipótese remota, belo, estará a

criar um paradigma de fealdade sobre o que antes era um arquétipo de beleza, digamos, romântica.

Todo este arrazoado serve para te dizer que eu, um generoso espécime de homo feiissimus, suei demais para conquistar as poucas mulheres que me permitiram apaziguar a minha relação com o desejo. Paulo, eu não tenho certeza se tu és mais bonito do que eu era quando tinha a tua idade. Mas sei que somos ambos pobres. Na verdade, tu ainda estás pior que eu porque tu nem curso tens ainda e, mesmo que já o possuísses, isso não ia fazer grande diferença. Posso, portanto, partir do são princípio de que a minha situação de há 40 anos é, em quase tudo, semelhante à tua situação de hoje, descontando, obviamente, as transformações que o tempo operou na cabeça e no entendimento das mulheres, profundas, sem dúvida, mas não suficientes para criar abismos intransponíveis entre as do meu tempo e as que hoje se te apresentam pela frente. Ah, adormeceste! Continuamos noutro dia. Toma lá esta manta que, parecendo que não, este clima desorientado pode arrefecer de repente e…

  Post 734    (Imagem daqui)

1 comentário:

Anónimo disse...

Divertidíssimo, como sempre.