29 de abril de 2011

o tralapraki foi ao casamento da princesa (2)

pai de kateNão sei por que meios ou por que carga de água, tive oportunidade de contactar com o senhor Middleton:

“Claro que of course estou happy. O rapaz the guy não é rico mas é normal straight, não sofre de ataques de homossexuality, e tem um bom emprego, é aviador. Isso de ser príncipe não me diz nothing… mas a minha filhota ficou tarada de todo quando soube que ele era o Prince… ela gosta muito da música dele… E depois ele tem cara de ser um banana, nerd you know,que é tudo o que uma mulher deseja e precisa para ser feliz… Agora desculpe, mas tenho que me ir atirar aos canapés…“

  Post 741      (Imagem daqui)

o tralapraki foi ao casamento da princesa (1)

kateA noiva Kate ia, de facto, linda, com um vestido cheio de dúvidas e de expectativas, um diadema de 1930 e, claro, o nariz do pai…

 

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23 de abril de 2011

e (quase) tudo o fogo levou…

incendioMinha cozinha ardeu na quarta-feira. Praticamente toda. Começou no exaustor e propagou-se ao fogão e daí a umas caçarolas cheias de óleo onde eu tinha fritado bolinhos de bacalhau. Daí passou a um armário suspenso que depois transmitiu as chamas ao inferior. Salvou-se um frigorífico cheio de vinho verde, algumas cervejas, presuntos e queijos, e um armário onde eu guardava os vinhos tintos de mesa, barras de chocolate Jubileu, os Portos vintage e uns espumantes Murganheira. Deus é grande.

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22 de abril de 2011

repescando tralices

02-relogioHoje repesco o artigo que aqui publiquei em 4 de Janeiro de 2008. O Decreto-Lei 299/2007, da lei de bases do sistema educativo acabava de sair e aconselhava a evitar os nomes de santos milagreiros nas escolas do sector público. Que as antigas o mudassem e que as novas optassem por nomes não alusivos à religião. Desconheço se esse D-L ainda se encontra em vigor. É tão compreensível que ainda o esteja, como é aceitável que tenha sido revogado de imediato. Rezava assim o agora repescado post:

 

As escolas Básicas e Secundárias vão deixar de ter santos ou santas na denominação oficial. A indicação partiu do Ministério da Educação, no âmbito da aplicação do Decreto de Lei n.º 299/2007, da Lei de Bases do Sistema Educativo.
Assim, para redenominar as escolas públicas o Ministério entendeu encarregar da escolha as assembleias de escola, dando entretanto a indicação aos órgãos directivos de que devem ser evitadas alusões religiosas, como nomes de santos ou santas.


Epígrafe: Se deixar de haver santos, a quem recorreremos para combater os faits-divers dos “inventores” do sistema educativo?

Mal acordei de umas curtas férias, maldizendo esse mesmo facto (o de serem curtas), e já o Ministério da Educação (instituição sem férias nem descanso, instituição que não dorme nem relaxa) vinha anunciar mais uma medida de grande fundo. Desta vez, tratava-se de renomear (rebaptizar – prefiro esta palavra pois me remete para a santidade) as escolas secundárias e básicas que, inacreditavelmente, ainda possuem, nas suas designações oficiais, nomes de santos ou de santas.
Numa brevíssima pesquisa, reparei que o grosso das escolas com aquelas denominações é substancialmente composto por escolas privadas, o que, em meu entender, deve explicar cabalmente o seu sucesso educativo e a sua alta classificação nos rankings nacionais.
Há, iniludivelmente, uma relação de causa e efeito entre os nomes dos santos patronos dos colégios privados e o sucesso escolar. Venho, pois, humildemente, pedir a sua Ex.ª a Senhora Ministra da Educação se digne ordenar não só que se mantenha os nomes de santos e de santas nas escolas secundárias que já os possuem, mas ainda que zele superiormente para que todas as restantes tenham, pelo menos, um santo nos seus nomes. Há santos a dar com um pau que chegarão para todas e, se não chegarem, dar-lhes-emos nomes de papas e bispos e outros grandes dignitários da Igreja e mesmo de excelsos governantes (como, por exemplo, os Doutores Salazar e Sócrates que, em última análise, muito se aproximam entre si e ambos se aproximam inclementemente da canonização).
Mas esqueçam esse decreto e chamem nomes de santinhos e de santinhas (atchim) às escolas, por amor de Deus.
Em nome do sucesso educativo e do ranking nacional.

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14 de abril de 2011

SCHOOLS R US


educação

Ponham-na a ajudar nas escolas, enfim, a fazer alguma coisa de útil à sociedade, ganhando os mil e trezentos euros que os restantes professores auferem no sistema educativo. Pode ser assim, senhores do FMI?

Chegou o FMI, certamente pronto para cortar um pouco mais nos salários dos professores, ou despedir vinte ou trinta por cento de nós, ou mesmo ambas as coisas. Certamente irá também deparar-se com a nossa frontal oposição, pois defenderemos, sem esmorecimento, o pouco que ainda resta da nossa dignidade. Precisamos, no entanto, de apresentar a Suas Excelências os Senhores do Dinheiro a nossa proposta alternativa para poupar na despesa do Estado, no que se refere à educação. E tê-la-emos na ponta da língua. E talvez então, como nunca, precisemos da tal solidariedade. E talvez então descubramos, finalmente, se essa tal solidariedade realmente existe entre nós.

No momento, o Ministério da Educação possui quatro departamentos centrais, cinco direcções gerais de educação e doze outras estruturas burocráticas na dependência directa da Ministra ou dos Secretários de Estado. Possui ainda cinco direcções regionais de educação, um Gabinete de Estudos e Planeamento, outro de Avaliação Educacional. Ostenta ainda a Inspecção Geral de Educação, um Gabinete Coordenador do Sistema de Informação do ME, um Gabinete Coordenador da Segurança nas Escolas, uma Agência Nacional da Aprendizagem ao Longo da Vida, um Conselho Científico para a Avaliação de Professores, outro Conselho Cientifico-pedagógico para a Formação Contínua, uma Agência Nacional para a Qualificação, mais um Gabinete de Gestão Financeira, sem esquecer o Plano Nacional de Leitura, a Rede das Bibliotecas Escolares e a Parque Escolar.

São “apenas” estes os elefantes acinzentados que me ocorrem no momento. São eles que gravitam à nossa volta (e não nós que gravitamos à roda deles).

Devemos, portanto, suplicar aos senhores do FMI que, encarecidamente, retirem as suas digníssimas manápulas dos depauperados bolsos dos professores e optem antes por limpar toda a escumalha inútil e corrosiva que gravita à volta das escolas públicas. Ponham a trabalhar aqueles que nada fazem. Os alunos de agora estão difíceis de aturar. E a canalha que, de costas ao alto, consome o erário público sabe tão bem disso que nunca lhes passou pelas preclaras cabeças oferecer-se voluntária para ir dar aulas ao 7ºB. Por que será? Se desdobrarem as turmas actuais, talvez possamos fazer um trabalho melhor. Vejam toda a súcia que se recosta nos organismos educacionais, aparando unhas no intervalo do café! Ponham-na a ajudar nas escolas, enfim, a fazer alguma coisa de útil à sociedade, ganhando os mil e trezentos euros que os restantes professores auferem no sistema educativo. Pode ser assim, senhores do FMI?

De que precisamos nós, afinal? A resposta é simples: de escolas, de alunos, de professores, de alguns auxiliares, de uns poucos administrativos; de um departamento central que pague os nossos ordenados e gira os concursos do pessoal docente e de outro que elabore programas a sério e produza as provas de exame; três direcções regionais, que representem o prolongamento do Ministério no Norte, no Centro e no Sul. Mais que isto será despesismo e pedantice.

(Imagem daqui)    Post 737

13 de abril de 2011

Os meus amigos do Foice Buque

facebook1Eu não sei o que está a acontecer aos meus amigos. Dizem-me que emigraram para uma espécie de país chamado Foice Buque que é na Internet, não sei se mais perto ou mais longe que Powerpoint. Estão todos bem, graças a deus, parece que trabalham numa quinta e não lhes falta o sustento. (Que isto já se sabe, quem trabalha numa quinta, mesmo que ganhe pouco, sempre arranca umas laranjas ou rouba uns morangos ou mata uma criação e lá vai vivendo).

Identifico-os pelas fotografias mas não os reconheço nas piadas. Dantes eram mais inteligentes e diziam mais coisas. Sentados à mesa recheada de minis, soltavam genialidades e arrotos. Enfim, eram amigos normais.

Agora não. O Zé anda sempre à procura de pregos para consertar a vedação, (que isto já se sabe, quintas grandes é assim, as vedações estão sempre a precisar de trato). É caso para dizer que, dantes, os meus amigos pulavam a cerca. Agora consertam-na…

O Pedro anda a prender ladrões (santo deus) e a comer rosquinhas, em vez de caldeiradas, bifanas e farturas, como dantes fazia. A Etelvina deu em comentadora de fotografias e de ligações (?), nos tempos livres que a quinta lhe permite. O Diogo, coitado, não diz coisa com coisa! Cola ditarolas de outras pessoas, quase sempre nos sítios obtusos e nos momentos errados. (A assincronia da Internet só pode ser conspiração do grande capital!).

Enfim, alguns estão a abrir negócios e há até um que fundou uma nova cidade e agora está a construir uma prisão, porque, enfim, parece que a Farmville e a Cityville não nos trazem nada de novo, além de mais um tópico de alienação primária…

  Post 736                 (Imagenm daqui)

12 de abril de 2011

A alegre pedagogice ou o calembour de Eduardo

escola

… E depois calou-se, ou seja, o curtíssimo programa terminou, como sempre, em modestíssima apoteose psicoterapêutica…

Eduardo Sá conversava há dias com Isabel Stillwell, nos Dias do Avesso, sobre a escola e o ensino em Portugal. Eduardo referia-se a uma estranha incongruência no nosso sistema de ensino, segundo ele, abusivamente reprodutor e verdadeiramente falho de criatividade. “Não se entende a razão pela qual o mesmo sistema premeia os alunos por saberem repetir e os castiga por saberem copiar, que é exactamente a mesma coisa. De facto, o sistema de ensino tem duas respostas antagónicas para duas situações rigorosamente idênticas”.

E depois calou-se, ou seja, o curtíssimo programa terminou, como sempre, em modestíssima apoteose psicoterapêutica.

Não nego que o conceito de Eduardo Sá tenha a sua beleza literária, o seu fulgor espirituoso, a sua perfeição parnasiana. Não posso mesmo negar que ficaria orgulhoso se tivesse sido eu a dizê-lo ou a escrevê-lo aqui. Mas, na verdade, não passa de um calembour.

Eduardo passou voluntaria e abusivamente ao lado de duas concepções fundamentais.

A primeira remete-nos para o facto incontestado de que, antes de qualquer criatividade, imaginação, sentido crítico, vem a memorização e reprodução de saberes, sem os quais nenhuma criação do espírito se apresenta minimamente sustentada. Respeitemos e conheçamos primeiro o que outros disseram antes de nós e acrescentemos depois, se formos capazes, a nossa contribuição criativa ao espólio civilizacional.  Quando a criatividade precede o conhecimento não conseguimos mais que um burro escoiceando o ar.

A segunda concepção remete-nos para a questão da honestidade. (Sei que essa coisa da honestidade não é hoje considerada um produto muito fashion, mas é ela que, em última análise, constrói sociedades justas). Copiar, usurpando o trabalho de outros ou escapulindo grosseiramente ao esforço individual não é, de facto, o mesmo que reproduzir criteriosamente os melhores saberes que civilizações milenares nos legaram. Esses é preciso estudá-los, paulatina e reprodutivamente, muito antes de podermos reciclá-los com a capacidade criativa, filha dilecta da nossa alegre pedagogice…                             

(Imagem daqui)        Post 735

9 de abril de 2011

Do amor e outros olvidos (5)

abordagem A abordagem


Nunca ninguém viu um homem rico que fosse feio, nem um pobre que fosse belo. Um homem rico impõe logo a sua eventual feiura como beleza universal.

 

Achavas então que eu não voltaria ao assunto, meu caro Paulo! Vê-se que não me conheces suficientemente. Certamente imaginaste que o facto de as minhas abordagens anteriores se terem saldado por um certo fracasso, em termos de audiência, amoleceria o meu desejo de continuar. Como achas tu que eu consegui o que consegui (embora muito pouco, quando comparado com o primo João Luís, é claro)? Desistindo logo à primeira nega? Claro que não, companheiro.

Hoje, quero-te falar da abordagem. Sim, não, bom, não é propriamente essa dos piratas em alto mar. É a abordagem que se faz às mulheres, certo? Ora aí está. Mas é uma abordagem, quand même…

Na vida, caro Paulo, há dois tipos de homens: os ricos e bonitos e os feios e pobres. Raramente estes adjectivos fazem permutas entre si. Nunca ninguém viu um homem rico que fosse feio, nem um pobre que fosse belo. Um homem rico impõe logo a sua eventual feiura como beleza universal. Um homem pobre que seja, por hipótese remota, belo, estará a

criar um paradigma de fealdade sobre o que antes era um arquétipo de beleza, digamos, romântica.

Todo este arrazoado serve para te dizer que eu, um generoso espécime de homo feiissimus, suei demais para conquistar as poucas mulheres que me permitiram apaziguar a minha relação com o desejo. Paulo, eu não tenho certeza se tu és mais bonito do que eu era quando tinha a tua idade. Mas sei que somos ambos pobres. Na verdade, tu ainda estás pior que eu porque tu nem curso tens ainda e, mesmo que já o possuísses, isso não ia fazer grande diferença. Posso, portanto, partir do são princípio de que a minha situação de há 40 anos é, em quase tudo, semelhante à tua situação de hoje, descontando, obviamente, as transformações que o tempo operou na cabeça e no entendimento das mulheres, profundas, sem dúvida, mas não suficientes para criar abismos intransponíveis entre as do meu tempo e as que hoje se te apresentam pela frente. Ah, adormeceste! Continuamos noutro dia. Toma lá esta manta que, parecendo que não, este clima desorientado pode arrefecer de repente e…

  Post 734    (Imagem daqui)

8 de abril de 2011

idiotas

idiotaOs nomes seguintes pertencem todos a pessoas que considero uns perfeitos idiotas:

1.* ______________________________________________

2.* ______________________________________________

3. *______________________________________________

4.* ________________________________________________________________

5.* ________________________________________________________________

* A lista, obviamente, não está completa. Prometo completá-la logo que seja bafejado com o Euromilhões. Poderei, então, escrever todos os nomes que, por enquanto, entopem o meu esófago (por dificuldade em os engolir e medo de os vomitar).

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7 de abril de 2011

Os primos e eu…

eleicoes-20081 Vêm aí mais eleições. (Agora é todos os anos). Fica aí essa penetrante análise, para vosso governo (?).

Passos Coelho é muito parecido comigo quando fui Coordenador de Departamento: mandava os meus bitaites todos os dias, mas quem mandava realmente era quem me tinha lá posto. E eu continuava a mandar bitaites, e todos éramos muito felizes só por imaginarmos todos que o éramos.

Sócrates é como o meu primo Valter: é vendedor de sanitas mas também faz fotografia artística e livros de autor com badana e tudo, capa rija e isenção de IVA.

Portas é como eu quando não sou Coordenador de Departamento nem tenho qualquer outro cargo: acho que tudo está mal e que todo o trabalho desses órgãos é absolutamente imprestável.

Jerónimo é um homem honesto, no sentido mais vacilante do termo. É tal e qual o meu primo Zé Tó. Motorista de uma locomotiva há muito parada, olha

pela janela a ver se algum transeunte lhe dá um empurrão. Mas se alguém lho der, ele salta fora da máquina mal ela pegue…

O Francisco é como o meu primo Basílio: açougueiro de profissão, bota faladura requintada sobre as carnes que vende, sem no entanto fazer ideia da sua verdadeira proveniência. Espreita a rua através das fitinhas coloridas da sua porta estreita e, se alguém entra é freguês, ainda que seja um vega que ali entre por engano.

O FMI não sei quem é, apesar de já me ter cruzado com ele uma ou duas vezes. Só sei que faz muito bem ao país e muito mal às pessoas que vivem dentro dele…

Mais coisa menos coisa, temos que escolher entre aqueles líderes, como se estivéssemos, de facto, a escolher entre mim e os meus primos Valter, Basílo e Tó Zé. A diferença não seria colossal. Provavelmente, nem perceptível.  

Post 732    (Imagem daqui

6 de abril de 2011

censo censório?

censusDesobriguei-me do censo no domingo passado. Com toda a boa vontade que consegui mobilizar, lá respondi ao inquérito. Porém, ontem mesmo ouvi dizer que o INE estava a pensar retirar uma pergunta do referido inquérito, aquela em que queriam saber quem é que eu tinha cá em casa a dormir no dia 21 de Março. Não se faz. Não está certo que retirem essa pergunta, por sinal uma das mais interessantes de todo o questionário. Não está certo ainda por outro motivo: que justiça haverá em dispensar de lhe responder todos os que acederem ao censo depois de mim? Onde fica a minha pequena vingança? Não está certo subtrair esse pequeno embaraço aos que responderem a partir de agora, só pelo facto de serem menos pontuais que eu, caramba. Sim, porque eu também quero saber como eles lidam com isso. Quero saber se eles são capazes de dizer a verdade, de nos informar claramente quem foi que dormiu lá em casa na noite de 21 para 22 de Março. Quem foi, heim? Vá, digam lá… 

Cá por mim, respondi que não dormiu ninguém, embora, na minha idade e condição, nunca haja certeza absoluta de nada. (A memória também já não me ajuda muito a preencher inquéritos cuja data de referência ultrapasse algumas horas…). Além de tudo, lembro-me perfeitamente de que a minha mulher estava a preencher o seu inquérito aqui mesmo ao meu lado, no outro computador. E mais vale uma eventual mentirinha no censo que uma noite inteira no sofá…

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4 de abril de 2011

ser rico dói?

ricoOs muito pobres que me desculpem, mas riqueza é fundamental.

Um grande poeta brasileiro começou assim um dos seus mais saborosos poemas. Todos sabemos que os muito ricos ficaram assim por uma das três razões seguintes: 1 herdaram; 2 roubaram; 3 tiveram sorte. Em alguns casos juntaram-se as três, numa conjura afortunada e deixaram as vítimas em estado lastimável, sem possibilidade de se poderem livrar da riqueza. O doente contrai então uma espécie de riqueza crónica, incurável, persistente. Nem todos os ladrões do mundo, nem todas as amantes do seu bairro, nem todos os estados gananciosos, nem mesmo a GNR com as suas providenciais multas conseguem tirar-lha.

Ficam assim, inabalavelmente ricos, frustradamente ricos, embora a maioria não apresente sintomas muito desconfortáveis. A riqueza deste tipo produz apenas um pouco de sonolência e, por vezes, alguma burrice, também ela crónica. Os alardeados sintomas de tristeza suicidária ou frustração maníaco-depressiva, febre dos fenos e frieiras interdigitais de que se diz sofrerem os ricos não passam de mito ou superstição. É certo que são ocos e presunçosos e possuem um mau gosto de pasmar, mas isso não faz deles criaturas merecedoras da nossa compaixão…

Um acrescento: a doença parece não ser contagiosa. (Infelizmente).

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3 de abril de 2011

Uma reflexão muito provisória (Eyes Wide Shut)

alunos
Há muito tempo que penso um sem- número de coisas sobre o ensino. Radicam quase sempre no mesmo, que se resume ao velho estandarte de que ninguém consegue ensinar nada a quem não quer aprender. Nunca vi claramente que tinha razão, mas também nunca ninguém ma tirou por completo…        jmm
De olhos bem abertos, porém vendo muito pouco, na melhor das hipóteses apenas metade do que seria desejável ver, olhamos para os nossos alunos. Olhamos e esforçamo-nos muito para que eles nos entendam, muito menos para os entendermos a eles. E passamos, seguimos, cumprimos. Depois largamos. Outros professores os apanharão amanhã (e redescobrirão certamente como os nossos alunos permanecem ignorantes e inaptos) e se esforçarão sem limites, olhos amplamente abertos, atentos aos mínimos sinais, refraseando sem parar conceitos mais ou menos ininteligíveis, carpindo as agruras de não serem entendidos, porque eles (os alunos) não os ouvem, não os olham, não os temem, não os acreditam, nãocresceram, não se libertaram do concretismo que os amarra inexoravelmente à mediocridade. De olhos amplamente abertos, porém quase sem ver, (porque já estamos a milhas de distância dos seus problemas e perplexidades, porque sabemos de um saber quotidiano que os nossos alunos não estudam, não se envolvem, não se interessam, não se deixam seduzir pelas nossas eternas técnicas de sedução), de olhos bem abertos porque queremos ver, mas sem ver, ou vendo menos de metade do que seria sensato ver, passamos por eles sem neles deixarmos vincos ou marcas, ou uma impressão de genialidade, ou mesmo uma simples lembrança, grata, reconfortante, saudosa, terna. Triste permanência esta, a do professor que, de olhos bem abertos, mas sem ver, passa pela vida e dela recebe apenas a desconsoladora recompensa de ter sido só medíocre, porque a comunicação que estabeleceu com os seus alunos só em dias muito claros e muito nítidos se aproximou do belo, do audaz, do produtivo, do persistente, do profícuo.

Post 729   (Imagem daqui)

a palavra dos outros

gandaraNo blogue “Sou da Gândara”, de autor anónimo, encontrei um pitoresco relato de vidas consuetudinárias, previsíveis. Apoderei-me dele pelo linguajar das areias, da civilização roubada ao mar e estrumada a moliço que também me percorre veias e memórias. Modifiquei-o à minha maneira, sem contudo lhe beliscar a identidade. Ficou assim:

(...) “O homem tinha ido a salto para a França, logo depois de apanhar as batatas, por alturas do S. João e deixou-a com o filho na primeira classe e com o verão todo por fazer. Mas a necessidade assim os obrigava. Para levantar cabelo, tinham que sofrer e saber fazê-lo! Valeu-lhe alguma coisa o pai com a sua junta que sempre lhe fez uns carregos de milho para casa e lhe gradou uns bocados. Agora havia de bastar-se com a sua vaquita, com o rapaz e com os seus braços, saúde e graça de Deus.

É certinha a carta do Manel todas as quintas feiras! Diz-lhe que tudo está a correr bem, que arranjou trabalho na construção e que, embora com muito esforço, está a botar uns cobres de lado. Que conta, dentro em pouco, mandar um cheque para ela fazer o seu governo, pô-lo no banco a render. São cartas trocadas que tanto eles como ela escrevem ao domingo à tarde! Ele depois de ir ao mercado comprar sustento para toda a semana e ela, depois de cumpridos os preceitos dominicais: assistir á missa e ao terço. Põe o rapaz a fazer os trabalhos da escola, pega no bloco de papel de carta e na pena de molhar e, maravilha tecnológica, fala com o seu Manel, colocando no papel tudo o que gostava de dizer-lhe pessoalmente, o que lhe vai na alma! Quer lá saber se alguém lhe apanha a carta e a lê! Não diz mentiras nem fala da vida alheia! Fala de si, do filho, do tempo e da novidade, que é um benzodeus. Expressa as suas preocupações, os seus anseios, o porte do filho, o gado, a perca que teve que pagar por morte do bezerro do Laurindo. Começa as cartas sempre da mesma forma, aliás, também ele assim faz: “Cabeças Verdes, 13 de Outubro de 1961. Meu querido Manel, muito estimo que ao receberes estas minhas poucas e mal trilhadas letras te encontres de saúde que eu cá mais o nosso filho ficamos bem Graças a Deus, embora com saudades infinitas. Recebi a tua carta na passada quinta feira e nela li que…” Enchiam-lhe a alma estas palavras aprendidas do coração e davam-lhe a coragem necessária para enfrentar mais uma semana de trabalho. Trabalho duro que a fazia mulher e homem, ao mesmo tempo. Trabalho permanente! Que nunca está feito, nem por fazer! Rotineiro! Mas tinham saúde! Ela, o homem e o filho! E, três meses depois de ter saído, já ele lhe dizia que lhe iria mandar um cheque dentro de pouco tempo, se Deus for servido! Há lá vida mais alegre?”

  Post 728   (Imagem daqui)