18 de dezembro de 2007

O gafanhoto

Há um enorme gafanhoto âmbar empoleirado num dos armários da SP. Mesmo por cima dos livros de ponto. Entra gente e sai gente mas ninguém parece vê-lo. Enorme e translúcido, paira embaraçado entre o medonho e o ridículo. Remete-me, facilmente, para Abraão ou Noé, ou outro qualquer bíblico patriarcudo, comendo gafanhotos meia dose, assim a cru, nos tórridos desertos do Velho Testamento. Esta á a pose grotesca do gafanhoto da SP, alcandorado no topo do armário, equilíbrio instável, ameaçando estatelar-se. Mas quando o observo com o meu olho mais negro, vejo-o mostrengo, ferino e horrendo, despedindo lasers de âmbar e brandindo gigantescas pinças e armaduras bucais extensíveis, numa febre milenar feita de vingança e ódio.


E eu, sem despregar nenhum olho da besta ambarina, fico a delinear duas opções nesta encruzilhada: 1. Sou um professorzinho insignificante e acabrunhado e deixo que o gafanhoto me engula; 2. Sou um profeta alucinado, vagueando sequioso no deserto, e papo, de uma assentada, o gafanhoto tamanho família, para evitar baixar-me tantas vezes…
Claro que foi uma visão.
(Mas este gafanhoto sanguinolento chega em Janeiro. Asseguraram-mo hoje.)

2 comentários:

Anónimo disse...

Como é que "um professorzinho insignificante" descreve assim tão kafkianamente um mísero diminutivo? Até o oto lhe tira a importância. Quando o gajo chegar, tu recepciona-o, maila-o, onlaina-o, xiripitiza com ele, grelha-o, avalia-o, classifica-o, e vais ver como ele desmesura as antenas e mortiça os farolins! Só uma coisa! Não o tragas práqui! Ele pode saber ler!
Abração natalício, com sonhos dentro dentro.
Odete

Anónimo disse...

Um grande Natal para ti. Já agora, um suculento Ano Novo.
Grande abraço.
jmm