saberensinar
Esforço-me por ensinar. É aqui que principia toda a minha ilegalidade. “Ensinar” deixou de ser um verbo conjugado dentro dos meandros da Educação. Alguns mais atentos até proclamam nunca o ter visto no novíssimo estatuto da carreira docente. Não vislumbro que arrepiante radical possa essa palavra conter para assim ter sido tão proscrita da prática educativa. A verdade é esta: em teoria, ensinar é uma não prática, o que, de certo modo, se compreende, porque só pode ensinar aquele que sabe alguma coisa.
E aí temos outra encrenca: “saber”. Saber já não é fundamental, o importante é ter o telefone de quem sabe. E se ensinar não é, em teoria, a mais importante tarefa de uma sociedade, está também a deixar de o ser na prática quotidiana, pela insubordinação dos alunos e pela negligência dos professores, ocupados que estão a olhar para as suas promoções, que já não passam pela aturada e desgastante prática diária de ensinar as novas gerações.
aprender
Esforço-me por aprender. E é aqui que continua toda a minha heterodoxia. É que já não se aprende nos locais antes destinados a esse efeito. Não é mais nas escolas que se aprende, nem nas de baixo, nem nas de cima, nem nas do meio, pelo que o aprendizado só se pode realizar fora dos circuitos oficiais e por vias bem mais autonómicas e pessoais. A quantidade de licenciados, mestres e doutores ignorantes é arrepiante. Aprender, no ensino institucional, dentro de um qualquer currículo académico, transformou-se num processo de aquisição de estatuto social e económico que pouco mais acrescenta além de uma arrogância boçal e de um orgulho provinciano e grosseiro.
(A vocês poucos aí, que acreditaram nas universidades e as frequentaram com o fim de se tornarem mais capazes para ajudar os outros, o meu mais veemente pedido de desculpas).
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