22 de junho de 2007

Respondendo a "Paideia"

Educação e Coesão Social

“Um dos maiores desafios do novo milénio consiste em promover e manter a coesão social perante a rápida globalização.Reconhece-se hoje que as novas tecnologias trouxeram mais oportunidades de interligação, através das viagens, do comércio e das comunicações; todavia, a globalização produz forças centrífugas susceptíveis de deslocar ligações tradicionais, de fragmentar as sociedades e de acentuar conflitos e divisõesA promoção da coesão social através da educação voltou a emergir como um objectivo político importante em muitos países durante a última década, embora o conceito de coesão social não seja perfeitamente claro nas suas componentes, nem se saiba exactamente como é que a educação influencia a coesão social.Ao certo sabe-se que Portugal, ao contrário da Noruega, da Holanda, do Japão, da Finlândia e da Itália, se encontra entre os países em que a condição económica e o status das famílias têm uma maior influência na desigualdade de oportunidades e é o país em que as desigualdades são mais acentuadas, de acordo com diversos relatórios recentes da UNESCO, da OCDE, e da Comissão Europeia.”

("paideia: reflectir sobre educação")


Nenhuma sociedade foi coesa em tempo algum, ainda que por pouco tempo. Uma sociedade coesa significaria uma sociedade sem conflitos internos ou externos, uma sociedade sem classes, sem individualismos, sem originalidades e sem opinião.
Não cabe à Educação encetar um tal caminho, isto é, um processo tendente a uma verdadeira coesão social, a menos que aquela (a Educação) se tornasse rigidamente confessional. Não lhe cabe tal projecto e ela não o conseguiria de forma desejável.

Nem mesmo Marx alguma vez se atreveu a afirmar que o comunismo, uma vez implantado, nos traria essa placidez total, essa coesão permanente, tão grata a quem coube a ventura ou a desdita de ter que viver em sociedades instáveis e tumultuosas. Uma educação que promovesse a coesão social teria, inevitavelmente, que encorpar um processo normativista, eticista, valorativo e fundamentalista.
A Globalização fez-se para isso, proclama-se disso, mas fracassou nesse intento. Mais depressa fracassaria a Educação.
A última parte do belíssimo texto de "paideia", que transcrevo acima, afirma não saber ao certo qual a razão por que em Portugal a pobreza das famílias condiciona tanto as oportunidades de sucesso. Modéstia da paideia. Todos sabem que só um sistema educativo coerente, nacional e inteiro poderia zelar para que se aplanassem as discrepâncias de oportunidades. Mas um tal sistema é muito caro e já há muito tempo que foi esfarrapado...

2 comentários:

Paideia disse...

João de Miranda, vejo, com alegria, que comentou o meu texto. Quanto à coesão e ao conflito, gostaria contudo de discordar. O conflito é algo de natural e próprio da interacção social; a forma de o resolver é que faz a diferença. Imagina uma família, uma sociedade sem conflito? Seria uma tremendíssima monotonia, significaria que as pessoas não teriam ideias, nem vontade própria, seria, enfim, uma podre paz.
A coesão familiar, dizem a investigação e a experiência empírica, não deriva da ausência de conflito, mas, ao contrário, de uma resolução adequada do conflito.
É preciso discordar, é preciso argumentar, é preciso negociar, é preciso reivindicar e é preciso ceder.A coesão provém de todos estes processos interactivos, dinâmicos, dialécticos.
Saudações amistosas.
Idalina Jorge

joao de miranda m. disse...

O prazer é meu de ver um comentário seu no meu blog, pois, definitivamente, o seu blog é um blog de referência. O meu texto não era um texto, era sim, um pretexto. Quando se pretende entrar na liça, nem sempre se usam as armas mais apropriadas. Eu nem usei armas, visto que o meu (pre)texto foi tão fácil de desmontar...
Concordo tanto com o seu comment, como com o meu texto. Conflito adequadamente sanado... :)
Grande abraço.
Um grande dmirador dos seus posts,
joao de miranda m.