Ainda a boca de Charrua
Vou ter que escrever outra vez sobre isto, mas faço-o pela última vez, e não adianta pedir.
“Estamos a ser governados por uma cambada de vigaristas e o chefe deles é um filho da puta” - dizem que disse o Dr. Charrua.
Mas isto não é nenhum insulto, bolas!... Uma “cambada” é uma enfiada, um colectivo de indivíduos unidos por uma camba (do Celta “camb”, uma peça de uma roda).
“Vigaristas” são seguidores de um vigário ou vicário (um venerável pároco).
E como se pode insultar uma cambada? É como insultar uma manada ou uma récua, ou uma vara. [Nunca percebi por que se chama vara (colectivo de porcos) a uma comarca judicial ou parte dela. Isso sim, é deveras injurioso e nunca ninguém se mexeu].
Verdadeiramente, não é possível insultar um colectivo. Um colectivo não é um corpo indivisível, uma só alma, uma só sensibilidade. A besta A da récua poderá sentir-se enxovalhada, mas isso poderá não acontecer relativamente às bestas B e C. Insulto com valor de afronta tem que ser individual. Se eu disser que os portugueses são uma cáfila, ou uma corja (uma corja são vinte, é claro) ou mesmo uma súcia, não estou a incorrer em crime de injúria, ou vitupério, ou ultraje, ou como raio se venha isso a chamar.
Já a lusíssima expressão “Filho da Puta” pode, eventualmente, indicar um descendente de alguém que não tem bem feitas as suas contas com o fisco. A maioria daquelas profissionais não paga irs ou irc e esses encargos poderão vir a recair sobre os respectivos filhos. Esta situação é deveras insultuosa.
Não importa a profissão da mãe, mas evasão fiscal é crime, caramba.
Logo, o que o Professor Arado disse foi, na verdade, isto: “Estamos a ser governados por um grupo de seguidores de um vigário e o chefe deles é um descendente de uma profissional que poderá, no limite, estar em falta com os seus deveres fiscais."
E, vendo bem, não disse nada pouco, chiça…
2 comentários:
Que não se atreva o Arado a punir um adolescente se lhe chamar récua (conjunto de bestas de carga).
Afinal um insulto colectivo é inimputável!
OF
Caro OF, há muito que não vejo ninguém punir um adolescente. Podemos, pois, ficar descansados quanto a essa questão.
Grande abraço.
joao de miranda m.
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