Era um velho cartoon de 71, salvo erro: Um baile canino. Uma menina de laçarote e olhos pestanudos sentava-se, calma e descontraída, um pouco irreverente na sua pose de canina provocação, rodeada de uma excelentíssima matilha, tudo gente de pedigree nobre, olhando-se, medindo-se, a ver qual deles tiraria a pequena para dançar. Não falavam, simplesmente se avaliavam mutuamente, em termos de armamento disponível, para o caso de tal assédio poder descambar em rosnado ou duelo, mordidas ou barraco naquele baile de rua. Ela, como já foi dito, entre atrevida e intimamente lisonjeada, apreciava, com um sorriso percepível nos beiços (tanto quanto um sorriso pode ser percepível num focinho de cão), aquela manifestação do mais contido cavalheirismo canino.
É então que, de repente, surge na esquina um vira-lata assumido. Vira-lata, sem dúvida, mas bastante sexy na sua pelagem recém-lavada e escovada, de um brilhante negro-prateado. Aproximou-se do grupo de cavalheiros e dirigiu-se-lhes assim, à queima-roupa: “Algum dos senhores é pai, mãe, irmão, tio, marido, namorado ou primo desta menina?” Enquanto se refaziam da inusitada intervenção do rafeiro, deram por si respondendo em uníssono: “Não!”
“Então, com licença!” – responde o vira-lata, tirando a garota para dançar um romântico slow. (É óbvio que, entre os caninos, aquilo a que chamo “dançar um romântico slow” é, de facto, um acto um pouco mais pragmático e explícito…)
Só não fui mais claro e objectivo, para não chocar o grupo de cavalherios pedigreeados que se entreolhavam aturdidos com os factos descritos…
Post 763 (Imagem daqui)
Sem comentários:
Enviar um comentário