20 de julho de 2011

Les uns et les autres

velho profEste ano lectivo que passou, talvez por não ter grande coisa que fazer (a matéria relativa à avaliação de professores deixou de me afectar e o trabalho lectivo não foi desesperante) entretive-me a descobrir quem seriam os professores mais populares lá da escola. Nos corredores, fui observando quem era mais cumprimentado pelos alunos e quem menos caso fazia desses cumprimentos. Analisei depois, atentamente, quem era convidado para os festins, para as patuscadas e pândegas. Bisbilhotei o facebook e tomei notas sobre as imagens de popularidade e/ou de competência que se me foram insinuando nos mais diversos areópagos escolares, académicos e autárquicos do burgo onde me enterrei vai para 30 anos.

Encontrei professores que gozavam, em certos momentos, de uma popularidade quase infinita, mas que derrapavam em outros, voltando a guindar-se mais tarde aos píncaros da reputação, para voltarem depois a cair, com algum fragor, num novo esquecimento. Eram os inconsistentes, os que velejavam ao sabor das contingências do êxito e do fracasso, sofrendo intimamente com esta perturbante flutuação.

Encontrei também um pequeno grupo de professores permanentemente em alta. Adorados pelos alunos, eram, por uma espécie de osmose, venerados pelas comissões de pais e, por conseguinte, respeitados por directores agradecidos. Estavam, obviamente, no grupo das pessoas que figadalmente abomino e nunca vislumbrei neles um rasgo de competência, sabedoria ou grandeza.

Os restantes eram gente desinteressante e amorfa. Trabalhavam para os alunos manhã, tarde e noite dentro, anónimos e obscuros, numa espécie de escravatura inalienável. Nunca faltaram a uma aula ou a um apoio, e só quando a doença lhes bateu à porta é que foram, de chapéu na mão, esmolar um atestado médico. E mal lhes arrancaram parte de uma víscera insana, voltaram à escola, amarelos da quimio, a prosseguir a sua cisma de ensinar, superando-se sempre, escondendo a dor na Literatura, na Física, no Teorema de Pitágoras. Ninguém os conhece. Os alunos não os prezam, o ministro não os distingue, o director não os louva. Dir-se-ia que só eu os vejo. (Mas não falo a ninguém da sua existência…)

  Post 767      (Imagem daqui)

4 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom. Descreves exatamente aquilo que penso e aquilo que é. Também não estou em missão, embora en cada aula dê o litro (umas mais que outras:)mas por gostar de inglês e da comunicação, não por achar que ensinar é a minha vida ou que vou marcar muito os alunos. Estamos de passagem. E irrita-me as festinhas e a animação social em que as escolas cairam. Depois admiram-se dos alunos não saberem...há uma falta de rigor intelectual, de enfoque no conhecimento. Interessa é "dinamizar". Porra, estou farta disso. Faty

Anónimo disse...

Analisei o teu texto, fiz uma grelha, inseri-me nela e não me deu resultado nenhum. Não me encontrei lá. É certo que eu tenho um ódio visceral a grelhas, mas, sinceramente, não se apaga assim uma carreira profissional. Mas vejamos, não estive em alta permanente. As chefias e eu esmurravam-se, às vezes. Não tendo sido faltista, uma vez ou outra, exigi o meu direito à preguiça. Acho que tinha mais amigos nos alunos do que nos colegas. Cá fora, chegam-me esses ecos. Mas não me lamurio. Tiraram-me o estatuto. Hoje, sou apenas aposentada. E avó!
OF

Anónimo disse...

Essa é que é essa!

Anónimo disse...

Tá tudo dito e muito bem dito! Apesar de trabalhar noutro contexto educativo, a tua descrição de uma ambiente escolar numa escola portuguesa parece-me tristemente bem realista! Marla