25 de Março de 2008. Vasco Pulido Valente acabava então de publicar no Público uma interessante contribuição para a questão da avaliação docente que, ao tempo, mobilizava quase toda a blogosfera, mesmo a que se fazia do lado de fora do sistema educativo. O Tralapraki escrevia então assim:
______________________________________25 de Março de 2008_______
Vasco Pulido Valente vai fundo na questão
No meu limitado entender, foi Vasco Pulido Valente quem mais longe, isto é, mais fundo foi (ou mergulhou) na crítica à pseudo-reforma do sistema educativo e à introdução da tenebrosa avaliação dos professores. É, de facto, por aqui que se deve ir, pela abordagem macro, pois nenhum professor pode ser avaliado sem que esteja absolutamente claro aquilo que se pretende dele, ao nível dos fins últimos do sistema.
Nunca é demais espalhar os bons textos de pessoas inteligentes. Já que dificilmente se lê algo mais lúcido do que isto, tomo a liberdade de ser mais um a divulgá-lo na íntegra. (Os negritos são meus).
«Como se pode avaliar professores, quando o Estado sistematicamente os "deseducou" durante 30 anos? Como se pode avaliar professores, quando o ethos do "sistema de ensino" foi durante 30 anos conservar e fazer progredir na escola qualquer aluno que lá entrasse? Como se pode avaliar professores, se a ortodoxia pedagógica durante 30 anos lhes tirou pouco a pouco a mais leve sombra de autoridade e prestígio? Como se pode avaliar professores, se a disciplina e a hierarquia se dissolveram? Como se pode avaliar professores, se ninguém se entende sobre o que devem ser os curricula e os programas? Como se pode avaliar professores se a própria sociedade não tem um modelo do "homem" ou da "mulher" que se deve "formar" ou "instruir"?
Sobretudo, como se pode avaliar professores, se o "bom professor" muda necessariamente em cada época e cada cultura? O ensino de Eton ou de Harrow (grego, latim, desporto e obediência) chegou para fundar o Império Britânico e para governar a Inglaterra e o mundo. Em França, o ensino público, universal e obrigatório (grego, latim e o culto patriótico da língua, da literatura e da história) chegou para unificar, republicanizar e secularizar o país.Mas quem é, ao certo, essa criatura democrática, "aberta", tolerante, saudável, "qualificada", competitiva e sexualmente livre que se pretende (ou não se pretende?) agora produzir? E precisamente de que maneira se consegue produzir esse monstro? Por que método? Com que meios? Para que fins? A isso o Estado não responde.
O exercício que em Portugal por estúpida ironia se chama "reformas do ensino" leva sempre ao mesmo resultado: à progressão geométrica da perplexidade e da ignorância. E não custa compreender porquê. Desde os primeiros dias do regime (de facto, desde o "marcelismo") que o Estado proclamou e garantiu uma patente falsidade: que a "educação" era a base e o motor do desenvolvimento e da igualdade (ou, se quiserem, da promoção social). Não é. Como se provou pelo interminável desastre que veio a seguir. Mas nem essa melancólica realidade demoveu cada novo governo de mexer e remexer no "sistema", sem uma ideia clara ou um propósito fixo, imitando isto ou imitando aquilo, como se "aperfeiçoar" a mentira a tornasse verdade. Basta olhar para o "esquema" da avaliação de professores para perceber em que extremos de arbítrio, de injustiça e de intriga irá inevitavelmente acabar, se por pura loucura o aprovarem. Mas loucura não falta. »
Público, 02.03.2008, Vasco Pulido Valente
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