Lentamente, muito lentamente, mas de modo consistente, os velhos professores abandonam o ensino. Não o abandonam por terem atingido o limite de idade legal (que esse está por vezes ainda muito longe), mas simplesmente porque estão e se sentem velhos. (Imagem daqui – Chico Anysio, o professor Raimundo) | Pessimistas e derrotistas, não representam, há muito, o tipo de gente em quem o sistema possa confiar. As duas principais razões por que os velhos professores não são liminarmente despedidos por causa atendível são: em primeiro lugar, porque a palavra liminarmente não é politicamente correcta; a segunda razão é que um liminarmente desses iria engrossar a taxa de desemprego, situação que deverá ser liminarmente evitada, em nome do politicamente correcto. Há, no entanto, no ar que se respira, uma espécie de conspiração tácita contra esses velhos do Restelo, os negativistas do ensino oficial, que só vêem defeitos no sistema e não conseguem já opor nenhuma resistência ao seu descalabro. “Você sabe fazer melhor? Tem uma solução mais adequada e certeira? Então fique quieto”. E ele, claro, fica. Não entende por que, em 35 anos de serviço, não conseguiu um pecúlio que lhe permitisse agora mandar foder tudo e dizer, orgulhosamente, aos que mandam no ensino que metam no cu a esmola que ainda lhe estendem. Porém, além de velho, incompreendido, insatisfeito, marginalizado, esquecido, imprestável, o professor em fim de carreira é inapelavelmente pobre. Faz das tripas coração (vísceras que nele já se confundem liminarmente) e colabora. E agradece muito. E fica enegrecido, calado, ingloriamente morto. Politicamente correcto, enfim! |
5 de setembro de 2010
os professores moribundos
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1 comentário:
grande texto, joao. e não é que é isso mesmo?
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