Claudino Mendes, antigo combatente da primeira guerra, vivia, nos alvores dos anos sessenta, num pardieiro em ruínas que fora em tempos cortelha de galinhas, nos limites da povoação chamada do Cabeço. Conheci-o. Tanto quanto mo permite agora a memória das coisas que se guardam na infância, assemelhava-se a um daqueles profetas do Antigo Testamento que povoavam a minha Bíblia das Escolas – longas barbelas hirsutas, gabão de surrubeco corroído, olhava-nos garboso do alto dos seus quase dois metros e dos pergaminhos ilustres do posto de cabo de infantaria que honrou na Flandres. Claudino Mendes era o tolinho do Cabeço. Intrigados com tal personagem, costumávamos espiá-lo dentro do seu galinheiro, aconchegado no gabão, pés de fora do cancelo aproveitando os ténues raios de sol das tardes de inverno.
Maria das Dores surgiu, afogueada, do quintal vizinho, transportando na mão um grande saco de abrunhos amarelos.
- Oh Ti Claudino, arranje-me aí um pratinho que eu deixo-lhe uns poucos destes abrunhos.
Claudino Mendes olhou para dentro do barraco e chamou:
- Copeiro, traz uma salva da cristaleira para guardar os abrunhos da Senhora Maria das Dores!
(Imagem daqui)
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