Não, não estou a fazer piadinha de mau gosto. Quatro euros à hora pode significar um salário mensal praticamente soberbo, pelo menos na minha opinião, que sou um pobretanas. A confusão é simples de explicar e reside numa das muitas mistificações de que toda a sociedade portuguese enferma. Ora, um mês tem, como se sabe, 720 horas. Se estas horas forem contabilizadas como horas de trabalho, apesar de nelas estarem incluídas os lazeres (repare-se que o lazer é parte essencial do trabalho, pois é no lazer que o trabalho se prepara e planifica), uma pessoa que ganhe quatro euros por hora receberá no fim do mês um salário líquido de 2.880 euros. Nada mau.
Se, no entanto, considerarmos apenas as horas efectivas de trabalho que se tem num mês, ou seja, uma média de 160 horas, o mesmo indivíduo auferirá pouco mais que o salário mínimo, o que, em boa verdade, não é aconselhável nem a enfermeiros nem a doentes, isto é, serão uns simpáticos 640 euros por mês, livres de impostos, ou não. E aí está a segunda mistificação: nunca sabemos se os números apresentados se referem a salários líquidos ou ilíquidos. Cumpre-me aqui explicar o que é um e outro, de modo claro e inequívoco: salário ilíquido é aquele que o patronato diz que a gente realmente ganha; salário líquido é aquele que nos dão, depois de nos retirarem uma boa porção que a gente acredita vir a reverter, no futuro, em bem da comunidade e, com um pouco de sorte, em nosso próprio bem. É graças a esses impostos, a essa pequena espoliação que viram aplicada aos seus salários durante décadas, que hoje todos os reformados e pensionistas vivem uma vida de regalias, poder económico, saúde e prazeres infindos…
(E, afinal, quatro euros por hora é muito ou pouco? E isto é líquido, ou ilíquido?)
Post 844 (Imagem daqui)
1 comentário:
:) Regalias infindáveis, amigo, e a certeza de que o nosso esforço valeu a pena::))
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