Ora bem, eu sou funcionário público, professor do ensino secundário, e estou, portanto, a pagar a crise que os capitalistas criaram e que os seus lacaios de libré, os políticos neo-liberalengos, têm vindo a tentar resolver a contento de alguns, extorquindo quase tudo o que resta ao proletariado que, sabe-se lá por que reviravolta histórica, inclui hoje a classe média e, por conseguinte, todos os professores e restantes funcionários do estado. Estou, portanto, segura e paulatinamente, a construir um invejável currículo de corno paciente, mas ainda estou muito longe da santidade. Está certo, eu trabalhei às ordens da Dra Gilda Corte-Real e da Dra Albertina Brito, leccionei o 7ºA e o 10L Profissional de Informática, fui secretário do Eng. Manuel Oliveira, mas falta-me ainda um pouco para atingir a plenitude de um mártir.
Estando, no entanto, apostado em atingir aquele estatuto, comecei a dar voltas à cabeça para tentar descobrir como posso ajudar ainda mais o Governo de Portugal a conter a dívida externa, a baixar o deficit público e a regressar aos mercados e, sobretudo, aos supermercados, pois a comida já vai rareando nas despensas. E foi assim que me ocorreu uma ideia genial que, como todas as ideias geniais, prima por uma simplicidade extrema: todos os funcionários públicos devem transferir para a conta pessoal de Passos Coelho, os euros que lhes sobrarem ao fim de cada mês. Pode parecer estultícia, mas tenho ouvido relatos de pessoas que referem ter-lhes sobrado algum dinheiro no fim do mês, mesmo tendo conseguido comer quase todos os dias. Eu, por exemplo, estou a contar conseguir um superavit de, pelo menos 13 Euros, no final deste mês, se não ocorrer, obviamente, nenhuma contrariedade importante, uma gripe de aves ou de mamíferos, uma martelada num dedo, uma multa por estacionamento, etc., até ao próximo dia 23, dia em que o bondoso estado transferirá para a minha conta mais um montante líquido de 830 euros, que me permitirá, se Deus quiser, dar, em 22 de Agosto, mais um passo seguro a caminho da solução do problema económico português e outro, não menos importante para mim, a caminho do meu objectivo principal – a santidade absoluta.
A conta de Sua Excelência é 00027014200, da CGD. Contribuam.
(Ah, desculpem! Houve um ligeiro engano. Esta conta, afinal, é a minha…)
Post 846 (Imagem daqui)
3 comentários:
Excelente, arrancaste-me gargalhadas no decurso da leitura:) Final apoteótico :) ou, melhor, apocalíptico?? :)
Muitas vezes venho ler aqui...as crónicas arrancam-me sempre sorrisos, mesmo que não me apeteça muito sorrir. Esta fez me rir, e muito!Leio estas crónicas e reconheço-me nelas.Muito bom!
Fátima e Regina
Fico feliz que isto tenha alguma utilidade...
Abraços.
joao de miranda m.
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