As escolas têm vindo a produzir documentos, mais ou menos estóicos, para tentar acabar com a indisciplina no sistema. Chegou ao meu Grupo um desses documentos. Foi analisado, dissecado, verberado, aplaudido, vilipendiado, exaltado. Ninguém se entende lá muito bem neste campo lodoso.
Era todo falinhas mansas, que isto de mexer na espúria requer tacto. E tudo pela positiva, porque os pais das “criancinhas” nunca aprenderam a forma negativa dos verbos. Em vez de simplesmente “não perturbar o andamento da aula”, lia-se “evitar perturbar o andamento da aula”. E assim por diante…
Não pensem que não aplaudi o documento. Ah, como aplaudi! Reconheci nele um texto medricas, nada impositivo, como a pedir perdão por simplesmente existir. Mas era a primeira vez que um normativo mais ou menos sério era produzido. Era o primeiro reconhecimento de que há indisciplina e de que esta é incompatível com qualquer aprendizagem robusta. Saudei o texto porque aconteceu e se mostrou a todos. Desprezei-o, no entanto, por se acanhar e humilhar na forma de dar ordens, como se “cumprir” continuasse a ser apenas uma conveniência e jamais uma obrigatoriedade. Mais uma vez se deixava ao critério dos professores a responsabilidade de agir em conformidade, sendo que “agir em conformidade” significa, ainda e sempre, tratar cordialmente potenciais malfeitores, como se de criancinhas inocentes, indefesas e desorientadas se tratasse.
O texto, embora finalmente coeso e atlético à defesa, continuava a tropeçar nas pedagogices e a borrar-se todo no ataque. E quando um texto baixinho se borra, inevitavelmente nos caga os calcanhares… (continua)
(Imagem daqui) Post 801
1 comentário:
Como concordo, como certas passagens estão divinalmente impregnadas daquele humor genial que parte tudo, como é ridículo pedir perdão por existir. Como sempre, excelente, sobretudo quando o assunto é educação - ninguém o faz como tu.Bjinhos
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