O hábito de comprar serviços ao sector privado também já chegou à escola pública, cada vez mais armada em empresa. Evidentemente que a fatiota do modelo empresarial não lhe assenta nada bem, mas ela já não sabe disso porque a sensibilidade e o bom gosto já se lhe embotaram. A coisa é mais ou menos assim: tendo desistido completamente de se pensar por si própria, a escola pública desanimou diante de tanta pulhice tresloucada. Os alunos não querem estudar e enervam-se facilmente; os professores não conseguem ensinar e debandam macambúzios e arrepiados para as suas envergonhadas reformas; o que se ensinava já não serve (nem servem já aqueles que ensinavam) e o que eventualmente poderia servir ainda ninguém descobriu o que é, De modo que a escola pública, assim enfezada, sem saber resolver os seus problemas, contrata empresas privadas de gestão, estatística e avaliação para com elas aprender de vez o que sempre soube e que, sabe-se lá porquê, esqueceu. E assim, vêm uns romeiros em peregrinação às escolas públicas debitar modelos de gestão (agora há uma enormidade deles, cada qual mais enorme do que o outro) e fórmulas eficazes e boas práticas e poções mágicas que só os gestores privados, quais druidas deste tempo, conhecem e denodadamente receitam às decrépitas e descompassadas empresas públicas de ensino. E essas piedosas empresas privadas brandem todas nomes em Inglês, copiados talvez do quadro europeu de línguas ou do descalabro tratatório de Lisboa, sei lá… Uma dessas empresas salvadoras do ensino pátrio que acabei por conhecer (juro que sem querer) chama-se “Another Step”, empresa muito digna, atenção, mas cujo nome me fez estremecer porque, à primeira ouvidela, percebi “A hundred steps”.
(É que esta gente quando começa a caminhar nunca mais pára…)
(Imagem daqui)
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