28 de julho de 2009

“…um doente sozinho, de máscara, ia tossindo e criando deserto à suavolta…”                                                    

                                                     Amirgã, 23 de Julho

doente

No meu tempo

No meu tempo não havia hospitais. Nem doenças. Só gripes e sarampos. Nunca se ia ao médico. Era o médico que vinha a nós. Encostava ao nosso peito o estetoscópio gelado e fazia-nos abrir a boca e dizer há. Depois escrevinhava com uma caneta de tinta permanente uma rabiscada mítica e entregava às nossas mães. No meu tempo havia mães, as nossas indecifráveis mães. Ansiosas solicitavam do médico a melhor maneira de nos tirar da cama. No meu tempo as gripes eram todas B ou C ou D e o sarampo era uma estratégia divina para fugir à escola. As doenças que matam só foram inventadas muito mais tarde. E se alguma existia não tinha hipótese connosco…

(Imagem daqui)

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